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Turismo e Fé: a religiosidade da cidade de Arara

Turismo e Fé: a religiosidade da cidade de Arara

Com mais de 13 mil habitantes e ocupando um território de 99 quilômetros quadrados, o município de Arara atrai romeiros que visitam o Santuário de Santa Fé, criado pelo Padre Ibiapina

Município paraibano onde o padre Ibiapina viveu os últimos dias também é conhecido pelo comércio

O turismo religioso é um dos pontos fortes da economia do município de Arara. Anualmente, caravanas de vários estados da região Nordeste partem para o município para reverenciar a Casa da Caridade Santa Fé, onde foi sepultado o padre José Antônio de Maria Ibiapina, o Padre Ibiapina (1806-1883). Um dos maiores incentivadores do desenvolvimento da zona do Curimataú, onde foi iniciada a edificação da Vila das Baraúnas das Araras, atualmente o município de Arara. Foi lá que ele construiu o Santuário Casa da Caridade Santa Fé, onde viveu muitos anos de sua vida, até sua finitude.

Após a chegada do padre Ibiapina a história da região começou a tomar novos rumos. Suas missões mobilizavam as populações através dos rituais religiosos e dos mutirões de trabalho organizados para a execução das construções. Da Casa de Caridade de Santa Fé, na Paraíba, Padre Ibiapina acompanhava as outras instituições comunicando-se através de cartas com seus superiores.

O Santuário de Santa Fé, onde ele viveu seus últimos anos de vida, reúne um complexo que engloba uma igreja, um museu e uma pequena capela que guarda seus restos mortais. Os romeiros procuram o local para agradecer por curas obtidas graças à fé no Padre Ibiapina.

Segundo o professor de Filosofia e morador da cidade de Arara, Heráclito Hallyson Sousa de Medeiros, outro ponto alto da economia ararense é o comércio local, a agricultura e a pecuária. “A feira livre de Arara, que acontece tradicionalmente nas segundas-feiras é uma das mais concorridas da região. E paralela a ela também acontece a feira do gado que atrai muitos comerciantes e compradores ricos de várias cidades da região”, disse ele enfatizando que o comércio de rua da cidade vem se fortalecendo a cada ano. “A prova maior é que a cidade vem ganhando novos supermercados, lojas de móveis, roupas, calçados, postos de combustíveis e lojas de materiais de construções”.

O professor revelou que culturalmente o município recebe muitos visitantes durante a festa de Nossa Senhora da Piedade, que é a padroeira da cidade.

“Essa festa tem os dois lados, ou seja, o lado religioso e o profano e acontece anualmente no período de 4 a 8 de setembro. Trata-se de um dos eventos mais aguardados pela população de Arara. As celebrações litúrgicas são realizadas em homenagem à Nossa Senhora da Piedade, com os ararenses comemorando as boas colheitas de feijão, milho, mandioca, fava e algodão. A festa é secular e começou desde a fundação da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Piedade, em 1887”, contou.

Festa da Padroeira e a Pedra da Glória

Uma das grandes atrações da Festa da Padroeira de Arara, é a apresentação da Banda Filarmônica Municipal. “Quando essa banda se apresenta os ararenses param literalmente para ouvir. Eles reverenciam a banda que existe há décadas”, frisou. Nessa festa também acontecem pregações religiosas, desfiles cívicos, feiras de artesanato, carreatas e apresentações de bandas populares.

Mas o ponto principal é a procissão de Nossa Senhora da Piedade, onde os fiéis percorrem as principais ruas do município levando a imagem da santa, louvando-a com cânticos religiosos. A partir das 22h, a multidão se dirige ao palco principal, onde se apresentam bandas nacionalmente conhecidas. Já no palco secundário a animação fica por conta do forró pé de serra.

“Ainda no campo da cultura, recentemente foi lançado o cordel “Histórias de Arara, sessenta anos depois” escrito pelo professor Josimar Cândido. O evento chamou a atenção dos habitantes da cidade, porque conta as histórias dos tropeiros que passavam pela cidade desde o início do século 19, contando suas rotinas e seus negócios por essas terras”.

Pedra da Glória

No tocante ao turismo, Arara também se destaca com a Pedra da Glória. Localizada a nove quilômetros a leste da cidade, a Pedra da Glória é um local privilegiado pela natureza. Lá os visitantes se sentem num paraíso em razão da existência de uma bela cachoeira. Uma coisa que chama a atenção no ambiente é que na pedra existem algumas descrições rupestres, feitas, segundo historiadores há milhares de anos pelos primeiros habitantes da região.

O professor Heráclito, informou também que o Governo do Estado tem marcado presença no município com inúmeras obras. “Além das ações nas áreas da educação e saúde, o governo de João Azevêdo tem dado total apoio na construção de creches, na pavimentação de ruas, no abastecimento d’água e principalmente na construção da estrada que vai ligar o município de Arara a Serraria”, ressaltou Heráclito Medeiros.

Arara está localizado na mesorregião do Agreste da Paraíba, entre as cidades de Solânea, Remígio, Casserengue e Areia. Está situado a 155 quilômetros de João Pessoa. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Arara tem atualmente uma população estimada em 13.438 habitantes. E tem uma área territorial de 99 quilômetros quadrados.

Área de pouso de tropeiros no século 19

Segundo o jornalista e escritor José Nunes, a história do município de Arara está relacionada com o desenvolvimento de outras cidades em seu redor, a começar por Bananeiras, Areia, e depois, Serraria e a Vila de Pilões, pertencente ao município de Serraria, que já se destacavam como prósperas no linear do século 19, e muito influenciaram o surgimento de outros povoados.

Foi o coronel Antônio José da Cunha, integrante de família estabelecida em Areia, de onde chegou procedente da cidade de Goiana, Pernambuco, quem mais contribuiu para o surgimento da atual Arara. Como provas estão às terras que possuía, o trabalho que executava na exploração de minas calcária e na criação de gado.

O lugar primeiramente ficou conhecido como ‘Baraúnas das Araras, porque se transformou, segundo antigos moradores, em ‘pouso de tropeiros e tangerinos’ que, vindo dos sertões com destino ao Brejo em busca de mantimentos, ali pernoitavam debaixo de árvores frondosas onde as araras faziam seus ninhos. Então, eles combinavam entre si, “vamos pernoitar nas baraúnas das araras”, frondosas árvores que se estendiam ao lugar denominado de Santa Fé. E assim, a região ficou conhecida com esse nome, até que, com o passar do tempo, convencionou-se denominar apenas Arara.

Dois fatos devem ser destacados sobre a origem do nome “Arara”. O antigo morador da cidade, o senhor Marisio da Cunha Moreno contou que, quando o município foi emancipado ainda se pensou manter o nome de “Baraúnas das Araras”. Porém, se achou por bem deixar apenas Arara, numa alusão às aves que ali viveram em décadas passadas.

A chegada do padre José Antônio Maria Ibiapina à região ajudou muito no desenvolvimento local, principalmente na zona do Curimataú, na localidade onde começou a edificação do povoado de Arara, e posteriormente a construção da Casa de Caridade Santa Fé. Ali ele viveu muitos anos de sua vida, até ser sepultado. As terras onde edificou seu templo religioso foram doadas pelo coronel Antônio José da Cunha.

A fazenda Santa Fé, onde o Padre Ibiapina construiu sua principal Casa de Caridade, tem muitas ligações com a cidade de Arara, tendo em vista que está separada apenas por um pequeno riacho.

A população ararense anseia por um dia ter anexada ao município as terras onde está o Santuário Santa Fé. Já houve uma tentativa, há três décadas, mas o plebiscito não ocorreu.