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Poço de José de Moura: Terra da cultura e da agricultura

Poço de José de Moura: Terra da cultura e da agricultura

Cidade distante 525 km da capital abriga diversas expressões artísticas e investe no turismo sustentável

Localizado na microrregião de Cajazeiras, a 525 quilômetros de João Pessoa, o município de Poço de José de Moura tem o seu nome de origem da família Moura – o vaqueiro Gonçalo de Moura foi o primeiro poçomourense a pisar no município. A partir daí, deu-se início às primeiras construções residenciais e ao povoamento. O município tem a sua economia pautada no comércio local e, principalmente, na agricultura. Hoje, segundo dados do Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Poço de José de Moura tem uma população de 4.006 mil pessoas.

A cidade de Poço de José de Moura é conhecida como “Terra da Cultura” por seu potencial artístico e cultural que se manifesta de forma intensa no município e na região, desde a sua fundação através de Zé de Moura, reforçado pelo trabalho desenvolvido por organizações culturais, como a Pisada do Sertão, reconhecida nacionalmente como Melhor Organização Não-Governamental de Cultura do Brasil, Reisado Zé de Moura com 103 anos de existência, bandas de música, grupos musicais, festivais de cultura popular, nos quais atuam em rede para fortalecer a cada dia esse título.

Os principais atrativos turísticos de Poço de José de Moura estão relacionados ao turismo cultural de base comunitária: as visitas ao Memorial Zé de Moura, o Engenho de Cana-de-açúcar da Comunidade do Silva, a Igreja São Geraldo Magella, vivências culturais na Pisada do Sertão, Roda de Prosa com mestre de cultura popular Vandervan e eventos culturais temáticos.

A Pisada do Sertão é a responsável por essa efervescência cultural, por ser uma organização da sociedade civil que atua desde 2004, promovendo projetos e ações que colocam a cultura como vetor de desenvolvimento local e capacitando artistas e empreendedores culturais, nas áreas de danças regionais, música, artesanato, gastronomia e o audiovisual. São 19 anos investindo no potencial de Poço de José de Moura.

Entre os vários filhos ilustres, destaca-se Ana Neiry de Moura Alves, descendente da linhagem de Zé de Moura, que tem visão de desenvolvimento para pessoas e o lugar, e que acredita que através da cultura, por meio do empreendedorismo, é possível transformar o Sertão com mais oportunidades. Ana Neiry é líder social, fundadora da Associação Cultural Pisada do Sertão.

Poço de José de Moura é uma das cidades do Nordeste onde tem vários artistas, e possui uma população atuante nas áreas da cultura popular, música, danças regionais, poesia, audiovisual, gastronomia e artesanato, ou seja, o sentimento de pertencimento do poçomourense reforçado pelo título que carrega a faz investir na economia criativa.

As principais atividades econômicas da cidade de Poço de José de Moura estão relacionadas ao funcionalismo público municipal, agropecuária, agricultura, apicultura, assim como também pequenas empresas e microempreendedores individuais na comercialização de produtos e serviços.

Histórias, lendas, tradições e artesanato marcam o lugar

Poço de José de Moura é uma cidade de muitas histórias, lendas que foram contadas pelos antepassados e ainda estão guardadas na memória como: o cão do engenho, local onde sempre que acontecia moagem no engenho de cana-de-açúcar na cidade, ouviam-se barulhos na calada da noite vindas do engenho, aliados a alta fumaça que saía das fornalhas, diziam existir um ser sobrenatural que aparecia nas noites de moagem. Na realidade, a história foi criada para que as pessoas não saqueassem as produções de rapadura que ficavam no engenho.

Outra lenda é do famoso porco espinho, que aparecia à noite no espaço chamado chafariz, onde as mulheres se reuniam para lavar roupa de forma coletiva. Muitas pessoas afirmaram ter ouvido ou visto um porco gigante no local, mas, não passa de mais uma história da criatividade sertaneja como forma de proteção do lugar. A história foi criada para que as pessoas não fizessem o uso exacerbado da água à noite, para que tivesse água em abundância nas manhãs para as lavadeiras.

Além disso, outra tradição que se mantém fortemente é da Semana Santa com os caboclos, em que as pessoas saem pelas ruas da cidade pedindo esmolas, dançando e levando multidões em cortejo. Embora tenha sofrido influências pela cultura de massa e da personalização de máscaras e vestimentas, ainda se mantém as músicas tocadas ao ritmo de xote e forró, mascarados, levando judas, e pedindo esmolas.

Além do mais, hoje em dia ainda se mantém viva a tradicional Festa de Reis, no mês de janeiro, a festa do padroeiro São Geraldo Magel; no mês de outubro, com rituais religiosos como: missas e procissão, atração cultural como o tradicional leilão de São Geraldo, quermesse e, para entretenimento das crianças e das famílias, parque e barracas.

Nome da cidade surgiu para homenagear um vaqueiro local

O Sertão Nordestino é caracterizado pelo clima semiárido, o que torna essa região muito quente, e aliado a isto, existe a escassez de chuvas, com um dos elementos que desafia o povo em uma busca incansável pela sobrevivência. Dentro deste contexto, a seca representa a maior causa da vulnerabilidade ambiental do Semiárido, destacando também uma das causas pelo baixo desenvolvimento social como consequências negativas, bem como as desigualdades sociais e o aumento dos movimentos migratórios.

Por volta do ano de 1825, houve uma grande seca que gerou muitas mortes na região nordestina. Os campos ficaram esterilizados e a fome chegou até os engenhos de cana-de-açúcar. Era uma época muito difícil, castigada pela seca, o povo era motivado a migrar em busca de melhores condições de vida, ou seja, em busca de sobrevivência.

Nessa mesma época, no Sertão da Paraíba, em meio à seca e escassez havia esperança, e como dizia Euclides da Cunha, “o sertanejo é antes de tudo, um forte”, assim, surge a história de um lugar através da esperança, coragem e determinação de um vaqueiro chamado Gonçalo de Moura, que liderado por uma fazendeira chamada Tomásia de Aquino, não hesitou ao ser desafiado a encontrar água para salvar o rebanho da fazendeira às margens direita do Rio do Peixe, cujas terras a pertenciam.

Assim, com o andamento da seca, Gonçalo de Moura seguiu a sua peregrinação em busca de água. Ele parou em uma região que chamou bastante a sua atenção: era um terreno seco, com capim verde, onde jorrava água. Ele estava diante de uma cacimba – semelhante a um poço. A partir daí surgiu a denominação para a localidade. Ali o vaqueiro fez abrigo para o rebanho e se estabeleceu para viver.

Segundo a Prefeitura Municipal de Poço de José de Moura, no decorrer da sua história, Poço teve diversas denominações, sendo a primeira Vila do Poço. Em seguida, a cidade foi nomeada como Antenor Navarro, que posteriormente viria a se chamar São João do Rio do Peixe, por meio da Lei Estadual no 171, de 1959. Após isso, veio a emancipação política, promulgada através da Lei no 5931, de 1994, quando o município passou a se chamar oficialmente Poço de José de Moura.

A palavra poço, que está ligada ao nome do local, foi mantida em alusão ao mito de origem do povoado, envolvendo o vaqueiro cearense Gonçalo de Moura e a figura do bode que escavou com as suas próprias patas um pequeno poço onde passou a jorrar água em um momento de extrema estiagem. A continuação do nome escolhido é em homenagem a José Alves de Moura, que trouxe a sua religiosidade, enquanto à época era conselheiro e rezador.

Com o passar do tempo, o vaqueiro constituiu sua família na Vila do Poço. Os seus descendentes seguem a mesma intuição de prosperidade e desenvolvimento. Entre eles, destaca-se Zé de Moura, um sertanejo visionário, que enxergava e criava oportunidades a partir dos saberes populares. Líder, curandeiro, empreendedor, conselheiro, brincante e religioso, sua atuação em prol do desenvolvimento das pessoas e do lugar o tornou popular em toda a região. Assim, a Vila passa a ser conhecida como Poço de José de Moura, como referência ao seu líder, aquele que não apenas foi o fundador, mas, aquele que promoveu a prosperidade do lugar.