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Guarabira e o potencial turístico

Guarabira e o potencial turístico

Cidade fundada no século 17 abriga importâncias históricas e em pleno século 21 tem papel integrador na região

Localizado a 98 quilômetros de João Pessoa, o município de Guarabira, segundo relatos históricos, tem o seu nome de origem tupi que significa “morada das garças”. Fundada em 1694, sob as terras de Engenho Morgado, pertencentes a Duarte Gomes da Silveira – Marquês de Copaoba, administrador colonial e senhor de engenho – a partir daí, deu início às primeiras construções residenciais. O município tem a sua economia pautada no turismo religioso, no comércio local, na arte e na cultura. Hoje, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Guarabira tem uma população de 57.484 mil pessoas.

O professor de Geografia da Escola Estadual de Ensino Médio John Kennedy, Daniel da Silva Fernandes, contou que a sua história com Guarabira sempre foi de muito amor. “Sempre valorizei cada cantinho dessa terra e vi a evolução da cidade ao longo dos anos. Guarabira representa, para mim, um porto seguro, minha casa, um local onde eu me sinto livre para ir e vir, onde me conecto com a história local e com a minha própria história”, completou.

No campo turístico, o professor de Geografia destaca que Guarabira tem uma vocação imensa ao turismo de negócios, pois é uma terra que desde sempre se destacou nessa área e, com a chegada do trem em 1884, a cidade virou uma importante rota comercial no estado, tendo um desenvolvimento significativo que até hoje se mantém, mesmo com a linha férrea desativada e abandonada atualmente.

“Temos também uma vocação ao turismo religioso com a nossa histórica Catedral de Nossa Senhora da Luz, o principal monumento histórico da cidade e das tradições religiosas que Guarabira vive, desde a segunda metade do século 18, época em que um português fugiu de Portugal com destino ao Brasil, em virtude de um terremoto e trouxe consigo uma imagem de Nossa Senhora da Luz, efetivando esta devoção na cultura local desde então”, pontuou o professor.

Há também o Memorial Frei Damião, o principal ponto turístico de Guarabira, que é visitado semanalmente por centenas de pessoas que se deslocam de diversas partes do estado e também de estados vizinhos. O monumento é uma estátua de 34 metros de altura em homenagem ao frade capuchinho, que fez diversas missões pela região Nordeste e passou também pelo município, arrastando multidões e marcando a história de vários cidadãos.

Além de professor de Geografia, Daniel da Silva Fernandes, atua como pesquisador do passado guarabirense, divulgando através do Facebook e do perfil @belezasdeguarabirapb no Instagram, onde ele divulga fotos, documentos antigos, relatos históricos, enaltecendo sempre a história e a cultura local.

“Estipulei uma meta de 100 seguidores no Facebook, mas o trabalho foi crescendo. Várias pessoas começaram a seguir a página e cresceu também a responsabilidade de levar um conteúdo de qualidade e com responsabilidade para os seguidores. As pesquisas foram se intensificando, o conteúdo foi sendo aperfeiçoado e hoje, a página tem mais de 20 mil seguidores no Facebook e mais de sete mil no Instagram”, relatou.

Município é o berço internacional da arte Naif e de vários cordelistas

O estudante de Jornalismo e assessor de imprensa da Câmara Municipal de Guarabira, Vinícius Marantz Dias de Lima, define Guarabira como “casa”. O município passa para ele um clima acolhedor. Foi lá que ele morou boa parte da sua vida. “Posso dizer que Guarabira me moldou. Apesar de eu ter nascido em João Pessoa, eu passei a minha vida inteira em Guarabira e fui completamente abraçado pela cidade e o estilo de vida local, que levo comigo até hoje.”

Vinícius Marantz destacou, ainda, que Guarabira possui uma grande carga histórica e cultural. “Muitos pensam que o único ponto turístico da cidade é o Memorial Frei Damião, mas o município possui vários outros aspectos, que é o berço internacional de Arte Naif, onde todo ano, a abertura do Fian (Festival Internacional de Arte Naif) ocorre na cidade. Grandes cordelistas eram e são naturais de lá, a exemplo de José Camelo de Melo Resende, autor do Romance do Pavão Misterioso.”

Além disso, há várias edificações históricas como o Casarão da Cultura, Centro de Documentação, Memorial do Cordel, Monumento do Milênio e a Galeria de Artes Antônio Sobreira, que está com a exposição O Pavão na Parede, onde cada trecho do cordel Pavão Misterioso foi pintado por vários artistas da cidade em variados estilos, como Naif, Pop Art e Barroco, enquanto você caminha pelas obras estará vivenciando uma experiência visual de imersão no cordel do início ao fim. A exposição ficará até o fim do ano, pois é em alusão ao Ano do Pavão.

Elementos da fé e desenvolvimento influenciaram história da cidade

Através dos registros históricos, se constatou que em 1755, um grande terremoto atingiu Portugal, destruindo vilas e povoados. Após esse ocorrido, José Rodrigues Gonçalves da Costa, tomado pelo pânico do acontecimento, fugiu de Varzim, na província de Porto, sua terra, em direção ao Brasil. Com isso, José Rodrigues chegava às terras do antigo Engenho Morgado com toda a sua família, construindo no local uma capela, algo que era tradição da época, colocando junto à edificaçlão a imagem de Nossa Senhora da Luz, que trouxe de Portugal, por quem tinha devoção. Assim, José cumpriu a sua promessa em chegar à terras em que não houvesse terremotos.

Embora o padre João Milanez já tivesse construído uma capela dedicada a “Nossa Senhora da Conceição”, em 1730, por estas terras, foi feita a substituição da imagem tendo em vista a grande comoção dos presentes pela história do “Beiriz”, como ficou conhecido no povoado. A partir do ano de 1760 começaram as primeiras orações e novenas à Virgem da Luz. A primeira casa de oração era de taipa, construída a mando dele no local onde oficializou o seu filho sacerdote, padre Cosme Rodrigues.

Em 1874, com o grande avanço comercial, o município, assim como muitas outras cidades do Nordeste, foi atingida pela invasão dos “Quebras-quilos”, havendo grande depredações e revoltas, preocupando as autoridades provinciais da época, pois vilas inteiras do Nordeste aderiram à rebelião contra o decreto que impunha a implantação de um novo sistema métrico, com seus habitantes saqueando feiras e destruindo pesos e medidas do comércio.

Após as forças militares conseguirem pacificar a região, sem necessidade de confrontos mais sérios, algumas vilas foram erigidas para melhor administrar as cidades, e, por força da Lei Provincial no 841, de 26 de novembro de 1887, foi elevada a “Vila de Independência”, à categoria de cidade, sendo denominada de “Guarabira”, com o comércio e força até hoje é considerada uma das maiores do estado.

Romeiros mantêm tradição criada a partir de visita missionária do frei

Reitor do Memorial de Frei Damião, o padre José André da Silva Anselmo, contou que a história do Memorial Frei Damião está relacionada com a última visita missionária que Frei Damião realizou na cidade de Guarabira, onde houve uma multidão de romeiros na cidade. Para marcar este momento singular, festivo, o Memorial foi construído no ponto mais alto da cidade de Guarabira, na Serra da Jurema. Este evento aconteceu no ano de 1994.

“O maior evento é a Romaria onde nós celebramos a passagem de Frei Damião para o céu, que é sempre no último domingo do mês de maio. Também no terceiro domingo do mês de dezembro celebramos o aniversário do Memorial Frei Damião e lembramos também do nascimento de Frei Damião, que é no dia 5 de novembro, e outras festividades menores relacionadas à figura de Frei. Na cidade há um outro evento que iniciou faz pouco tempo, mas uma multidão está presente, que é a missa pela beatificação de Frei Damião, que sempre acontece na última segunda-feira do mês”, completou o padre.

O santuário se mantém através das doações dos romeiros, das ofertas e também em parceria com a prefeitura, onde ela mantém três funcionários e os outros cinco funcionários são mantidos pelo santuário.

“Existe uma colaboração com a comunidade, sobretudo, com os feirantes porque todos os domingos acontece a romaria. São muitas pessoas de vários lugares da Paraíba, do Rio Grande do Norte, Pernambuco e até mesmo do Ceará. Muitas pessoas participam das celebrações e visitam o museu, realizam as preces, pagam as promessas e depois eles compram com os feirantes. São mais de 60 feirantes, além dos restaurantes. Há também os transportes de turismo. A economia de Guarabira gira em torno disso e assim a cidade é beneficiada”, finalizou.

Memorial de Frei Damião foi construído no ponto mais alto da cidade, na Serra da Jurema, em 1994