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São josé dos Ramos: independência econômica é a meta

São josé dos Ramos: independência econômica é a meta

Antigo distrito de Pilar, município da Zona da Mata comemora, em 2022, 28 anos de emancipação política

Além de ser um dos municípios paraibanos com emancipação política mais recente, São José dos Ramos faz parte do grupo de cidades que buscam uma independência econômica cada vez maior em relação às regiões vizinhas. A prova disso é que, apesar deser reconhecida com um antigo Distrito de Pilar, a cidade guarda poucas lembranças do local a que estava ligado.

Em 2022, o município comemora seus 28 anos de emancipação política. De acordo com a secretária de Administração do município, Larissa Morais, São José dos Ramos é um lugar belo, acolhedor e de muitas histórias. O desejo da população sanjoseense é dotar o local de características totalmente próprias. “Desde sempre o povo de São José dos Ramos possui características de independência, que são próprias por ter tido pouca assistência nos âmbitos da educação, saúde e até infraestrutura. A maior parte dos recursos era investida na sede, que ficava longe para o deslocamento dos cidadãos da época”, considerou.

Ela afirma que o único legado que Pilar deixou para São José dos Ramos – e que perdura até hoje – foram duas escolas construídas: a Escola Municipal Maria Caxias de Lima e a Escola José Francisco da Costa. “Mas os demais prédios públicos já foram construídos a partir de 1997, inclusive a arquitetura da prefeitura já foi eleita como uma das mais bonitas do interior paraibano”, orgulha-se.

São José dos Ramos está localizado na região geográfica imediata de Itabaiana (situado a 10km a norte-oeste), que é a maior cidade nas proximidades. Além disso, tem uma área territorial de 100,642 km²e uma população estimada em 5.998 habitantes, segundo um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística(IBGE) realizado em 2020.

Ele pertence à região da Zona da Mata paraibana e está distante aproximadamente 60km de João Pessoa. São José é vizinho de Itabaiana, Riachão do Poço, Mogeiro, Pilar, Gurinhém, Caldas Brandão, Salgado de São Félix, São Miguel de Taipu, Sobrado, Juripiranga, Mari, Sapé, Juarez Távora, Ingá, Mulungu, Alagoa Grande e Itatuba. Também faz vizinhança com as cidades pernambucanas de Camutanga, Ferreiros, Itambé e Timbaúba.

Conforme a assessoria de comunicação da Prefeitura, a cidade foi criada em 30 de julho de 1979 ainda como um distrito chamado São José do Pilar, pela Lei Estadual n°4087, anexado ao município de Pilar. Foi elevado à categoria de município, com a denominação de José do Pilar, pela Lei Estadual n°5897, em 29 de abril de 1994, e desmembrado das cidades de Caldas Brandão, Pilar e Gurinhém.

A mesma lei estadual ainda modificou o nome do local para São José dos Ramos. Assim, São José de Pilar se transforma em São José dos Ramos através da emancipação política do dia 29 de abril de 1994. ‘‘De acordo com a ex prefeita Aparecida Amorim, a cidade vem mudando consideravelmente, pois a sua população vem colaborando para a independência econômica do local. Ela classifica o comércio, a educação e a saúde como as áreas que mais chamam a atenção hoje em dia. “Antes, São José era muito dependente de Itabaiana e Pilar. Hoje, vemos mercados, lanchonetes e percebemos um certo progresso. São José era um distrito de Pilar muito dependente, mas com a emancipação esse vínculo foi quebrado e São José não depende de mais quase nada”, comemora.

Cida Amorim ou “Dra Cida”, como é conhecida entre os sanjoseenses – foi prefeita entre 2009 e 2012 e conta que testemunhou alguns momentos importantes para o município, a exemplo da emancipação política. “Tudo em São José era de Pilar, mas com a emancipação a cidade ficou mais ligada a Itabaiana, em alguns pontos. Hoje, o sanjoseense pode viver em um município independente em questões de comércio, acesso a água potável, energia elétrica e outros serviços”, descreveu.

Além da busca por mais independência, São José dosRamos se destaca por ser uma cidade onde muitas mulheres são protagonistas em várias esferas. “Temos as agricultoras, as amazonas que aboiam, as professoras, as que são destaque na política, as empresárias e outras. Com quinze anos de emancipação política São José dos Ramos elegeu a primeira mulher prefeita, a Drª Cida. Em seu mandato, houve grande avanço na saúde e na área social”, declarou a secretária de administração.

Larissa Morais ressaltou ainda que hoje a Câmara de Vereadores possui quatro mulheres eleitas. Nas sete escolas do município o comando da gestão fica por conta das mulheres e dos 13 cargos mais importantes (de confiança da gestão), sete são ocupados por mulheres. “São José dos Ramos está cada vez mais se direcionando a novas políticas, com abertura de determinados espaços para as mulheres escreverem a sua história”.

Terra do aboio e cantador de viola

Conforme o prefeito Matheus Amorim, São José dos Ramos é a terra do aboio e do cantador de viola. O aboio é o canto dos vaqueiros durante a condução do gado pelas pastagens ou em direção ao curral. Já a cantoria de viola é uma arte conhecida no Nordeste em que os poetas disputam entre si através de versos improvisados, ao som da viola. “Nós tínhamos um cantador de viola muito conhecido, que era Manoel Xudú. Essa tradição é algo que já vem de Pilar”, comentou.

O gestor lembra que a cidade faz parte de um conjunto de municípios com processos de emancipação recentes e, dessa forma, São José não desenvolveu tanto quanto gostaria, no segmento cultural. “Por isso, sempre trazemos atividade nova para a cidade, promovendo mais atividades culturais”, completou.

Segundo a secretária de Administração, Cida Amorim, além do aboio, o município também se destaca no artesanato. “Temos ainda o privilégio de ser conhecida como a ‘cidade dos professores’ no meio acadêmico, por termos um grande número de professores em relação à quantidade de estudantes proporcionalmente ao porte do município”, conta.

O Centro da cidade é o ponto mais visitado, conforme explica Cida, o local onde existe o corredor com as palmeiras imperiais e alguns casarios antigos na rua principal. E a Praça Noé Rodrigues de Lima é o meu amor. É a rua central da cidade onde fica a prefeitura, a Igreja Matriz, a Secretaria de Educação e os Correios”, elencou.

Memória cultural em construção

Para a ex-prefeita, os moradores não carregam mais tantas características da época em que São José era distrito de Pilar e são poucos os espaços que conservam a memória da cidade, a exemplo da Igreja Matriz, com detalhes idênticos aos de sua construção, e os casarios (casas antigas) de arquitetura diferenciada. “As características de antigamente foram perdidas ao longo do tempo e a memória da cidade se apaga a cada dia, tanto na relação dos casarios como das pessoas”, opinou.

Segundo a moradora, a perda da memória cultural é negativa e por isso é necessário guardar as lembranças que fazem parte do marco inicial de São José dos Ramos, visando ter algo para mostrar às gerações futuras. “A arquitetura, por exemplo, é muito diferente da atual: no revestimento das paredes, o tipo de tijolo, a espessura das paredes, o tipo de janela, porta, travas. Usavam travas de ferro para fechar portas e janelas e tudo isso foi se perdendo”, detalhou.

Larissa Morais acrescentou ainda que apesar da rápida urbanização e das arquiteturas da prefeitura e da matriz da Igreja Católica chamarem atenção, o município ainda não possui locais considerados especificamente como pontos turísticos. “O município tem grande potencial em pontos turísticos na zona rural, por ter concentrado territórios tanto da Zona da Mata quanto do Agreste. Quem já visitou o município sabe o quanto é lindo o paisagismo de alguns picos para ver o pôr do sol”, sugere.

Agricultura é a base da economia local

De acordo com o prefeito, a economia sanjoseense é baseada principalmente na agricultura familiar, através das plantações de mandioca e batata, além da produção de mel. Também movimentam a economia local o comércio varejista, serviços de alimentação e serviços essenciais, como salões de beleza, naildesign (design de unhas) e farmácias.

Cida Amorim comenta que, antes da emancipação, serviços como energia elétrica, pavimentação de ruas e água potável não existiam. Hoje, são uma realidade. Isso permitiu um rápido crescimento econômico, apesar de manter um forte vínculo com Itabaiana, cidade estratégica daquela região do Estado. “Cerca de 14 municípios ficam em torno de Itabaiana, que é a cidade polo da região. Ela possui um forte comércio, além da vantagem de geograficamente estar em uma posição central. Inclusive, os acessos rodoviários para Recife, Campina Grande, João Pessoa e Timbaúba passam por esse município”.

Conforme Larissa, as principais metas para o crescimento da cidade hoje incluem incentivar a agricultura familiar com programas voltados aos pequenos produtores rurais, além de estimular a educação das crianças e jovens.

Educação permitiu desenvolvimento

Muitos dos jovens do município estão hoje interessados em cursar uma universidade. Antes, a maior parte dos moradores costumava chegar até o nível médio. “Antigamente, quando precisávamos de algum profissional de nível superior, como um médico, dentista, psicólogo ou fonoaudiólogo, tínhamos que chamar de fora da cidade, porque não tinha”.

Nos primeiros anos, após a emancipação, era frequente as pessoas estudarem apenas para serem professores, de nível básico ou médio, e caso estudassem fora, geralmente pegavamuma van com moradores de Itabaiana. Agora, a cidade já conta com várias pessoas de nível superior trabalhando, principalmente nas áreas de saúde e educação.

A ex-prefeita acredita que a população hoje vem se qualificando cada vez mais, permitindo um maior desenvolvimento. “Os estudantes têm um transporte da prefeitura até a Universidade. O nível de escolaridade vem aumentando: são educadores físicos, assistentes sociais, fonoaudiólogos, nutricionistas e advogadosda própria cidade, que podem contribuir para o crescimento local”, adiantou.