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Mineração submarina afeta peixes e camarões, revela estudo pioneiro

Mineração submarina afeta peixes e camarões, revela estudo pioneiro

População de animais marinhos foi reduzida em 43% numa área explorada para teste em águas profundas do Japão; zonas adjacentes também foram afetadas

A operação de teste que o Japão fez para minerar águas profundas em 2020 durou apenas duas horas, mas afetou de forma significativa a fauna local. Um estudo divulgado nesta sexta-feira revela que, após um ano, a população de peixes e camarões naquela área, a montanha Takuyo-Daigo, foi reduzida em cerca de 43%.

A pesquisa, descrita em artigo hoje no periódico científico Current Biology, traz o resultado em um momento crucial, quando a Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA) discute a regulação desse tipo de atividade em águas internacionais.

O projeto piloto japonês foi feito na zona econômica exclusiva do próprio país, mas o grande potencial de exploração aberto pela tecnologia que permite a extração mineral a grandes profundezas está em alto mar. Além de minérios de cobalto, existem reservas mapeadas contendo outros metais, principalmente cobre e manganês.

O estudo de impacto, feito por uma equipe do Serviço Geológico do Japão em parceria com cientistas britânicos, mediu a densidade de fauna marinha no local em três momentos diferentes. Um mês antes da operação, um mês depois dela e, finalmente, um ano depois. A última visita de pesquisadores ao local é que se constatou a maior perda de biomassa animal no local.

O levantamento foi feito usando câmeras de vídeo submergíveis e um software especial para contagem dos animais avistados. Organismos fixos ou de baixa mobilidade, como corais e esponjas, foram menos afetados pela operação mineradora, mas cientistas alertam que o estudo avaliou apenas o impacto de curto prazo. Além disso, não foram monitorados plâncton e outras criaturas menores que um centímetro de envergadura.

Um ponto de preocupação manifestado no estudo foi área a em que se observou o impacto. Apesar de a operação de teste para mineração ter ocorrido em uma faixa de 130 metros de extensão a uma profundidade de 900 metros, ela espalhou sedimentos por uma extensão maior, e o impacto nas populações de peixes se deu em uma escala já de quilômetros. Nas áreas adjacentes em torno da operação mas não escavadas diretamente, a queda no número de peixes e camarões foi ainda maior, de 56%.

Cientistas não sabem exatamente por que os peixes e crustáceos avaliados deixaram a área em questão, mas há indícios de que elementos tóxicos dos sedimentos tenham contaminado os organismos que esses animais maiores comem.

Dúvidas ainda a esclarecer

“Nossos resultados mostram que os organismos nadadores do fundo do mar, principalmente predadores e carniceiros, são indicadores mais fortes de impactos da mineração do que acreditávamos que seriam”, escreveram os cientistas, liderados por Atsushi Suzuki e Travis Washburn, do Serviço Geológico do Japão.

Segundo os pesquisadores, o estudo divulgado agora responde a algumas perguntas, mas ainda há muitas dúvidas sobre a extensão de dano à biodiversidade por meio da mineração profunda, caso ela venha a ser aprovada e se amplie.

“Embora nadadores de grande mobilidade podem simplesmente deixar a área, resultando em pouca perda de biodiversidade, isso pode não ser possível se várias operações de mineração ocorrerem em momentos semelhantes, resultando em uma área afetada muito maior”, escreveram os pesquisadores.

A preocupação dos pesquisadores é que operações de mineração em escala real não ocorrem em faixas de algumas dezenas de metros, mas por uma escala de vários quilômetros. Dependendo da localidade e concentração da atividade, algumas espécies móveis podem não ter para onde fugir, e comunidades de organismos fixos podem se aniquilar no longo prazo.