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Jardim Botânico: na agitação da cidade, espaço de lazer, proteção e pesquisa

Jardim Botânico: na agitação da cidade, espaço de lazer, proteção e pesquisa

Jardim Botânico está inserido em um dos maiores resquícios de Mata Atlântica em área urbana do país

O Jardim Botânico Benjamim Maranhão (JBBM) está inserido em um dos maiores resquícios de Mata Atlântica em área urbana do país, a Mata do Buraquinho. Situada em João Pessoa, a mata é uma Unidade de Conservação (UC) de Proteção Integral, classificada como Refúgio de Vida Silvestre (RVS), e abrange uma área de 510 hectares. Funcionando em meio à vastidão do verde, o Jardim oferece inúmeras atividades ao público, como passeios de trilhas e espaço de contemplação da natureza, além de er fonte de pesquisa para os próprios funcionários da instituição e também para estudantes de graduação e pósgraduação.

Mas, o que significa estar enquadrado como uma UC? Segundo a Superintendência de Administração do Meio Ambiente (Sudema), responsável por gerenciar o JBBM, uma Unidade de Conservação é um espaço protegido legalmente, que requer regime especial de administração. Esse espaço territorial e seus recursos ambientais, com limites definidos, é legalmente instituído pelo poder público.

Criada pelo Decreto Estadual Nº 35.195, de 23 de julho de 2014, a UC é um espaço protegido, tem regramento de acordo com os objetivos de sua criação, obedecendo às definições da lei do Sistema Nacional de Unidadesde Conservação da Natureza (Snuc).

As Unidades de Conservação integradas ao Snuc dividem-se em dois grupos: Unidade de Uso Sustentável e Unidade de Proteção Integral. O primeiro tem como finalidade compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de uma parcela de seus recursos naturais. Já o objetivo básico da Unidade de Proteção Integral é preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, com exceção dos casos previstos na legislação.

O bioma de Mata Atlântica, onde está inserido o JBBM, enquadra-se no grupo das UCs de Proteção Integral, que também se subdividem em algumas categorias: Estação Ecológica; Reserva Biológica; Parque Nacional; Monumento Natural; e Refúgio de Vida Silvestre. Por sua vez, a mata está dentro da categoria de Refúgio de Vida Silvestre que, segundo o Snuc, busca “proteger ambientes naturais onde se asseguram condições para a existência ou reprodução de espécies ou comunidades da flora local e da fauna residente ou migratória.”

Ao citar dados da organização não-governamental Fundação SOS Mata Atlântica, a engenheira ambiental da Sudema Natália Pessoa destacou que o bioma abrange 15% do território nacional, em 17 estados, entre eles a Paraíba. É o lar de 72% dos brasileiros e concentra 70% do PIB nacional. Da Mata Atlântica dependem serviços essenciais, como abastecimento de água, regulação do clima, agricultura, pesca, energia elétrica e turismo. Atualmente, só restam apenas 12,4% da floresta que existia originalmente.

Segundo Natália Pessoa, a preservação deste bioma é fundamental para garantir a biodiversidade do planeta. “No caso específico da RVS Mata do Buraquinho, além da importância já elencada, ainda se configura em um relevante espaço para o desenvolvimento de atividades de educação ambiental para a população. E por se tratar de um grande remanescente de mata encravado na cidade, ainda tem papel na regulação no microclima local”, afirmou a engenheira.

Centenas de espécies animais e vegetais foram catalogadas

Nos 21 anos de existência, o Jardim Botânico Benjamim Maranhão tem catalogado mais de 580 espécies vegetais e cerca de 280 espécies de animais vertebrados. Desse total, há aproximadamente 20 espécies da fauna e da flora que estão vulneráveis ou ameaçadas de extinção como o tamanduá-mirim (Tamanduatetradactyla) e a ave Patinho-de-garganta-branca (Platyrinchusmystaceus).

Na reserva florestal, ainda existem animais como lontra, capivara, preguiça, cutia, cágado, jabuti e aves como a jacupemba, também chamada de jacupeba, jacupema, jacu-velho, jacucaca, pava-chica ou yacupoí, que mede cerca de 60 centímetros de comprimento. Dentro do Rio Jaguaribe, que corta a mata, o visitante ainda pode encontrar o jacaré-de-papo -amarelo .

uma grande diversidade no local, mas vale ressaltar três espécies que correm risco de extinção: Guajiru (Chrysobalanusicaco L.), Sucupira (BowdichiavirgilioidesKunth) e Jacarandá-branco (SwartziapickeliiKillipexDucke).

Algumas plantas registradas possuem valor histórico-cultural, como o Pau-Brasil (CaesalpiniaechinataLam). Essa árvore, de madeira nobre, foi bastante explorada no períodocolonial e também no póscolônia para uso na construção civil e naval. A cor alaranjada do tronco chamava muito a atenção dos europeus da época, sendoutilizada também para fazer tintura. Atualmente, ainda costuma ser usada na confecção de arcos de violino.

Outros exemplares da flora têm propriedades fitoterápicas ou medicinais. É o caso do arbusto Guajiru, que possui frutos comestíveis. Das sementes da planta, se prepara um óleo, aproveitado para se fazer uma emulsão antidiarréica.

Um pouco da história

Na área onde atualmente está o Jardim Botânico Benjamim Maranhão existia, por volta de 1856, o Sítio Jaguaricumbe. Até 1907, o terreno recebia esse registro, quando o Governo do Estado comprou as terras para iniciar o sistema de canalização de abastecimento d’água de João Pessoa. Dois anos depois, foiconstruído o primeiro poço amazonas da cidade e, posteriormente, foi inaugurado o sistema de abastecimento da capital.

Em 1940, foi construída a barragem Buraquinho, e em 1953 criado o Jardim Botânico Regional em função do Acordo Florestal da Paraíba, que tinha, entre outras finalidades, produzir mudas florestais nativas. O Jardim Botânico foi criado apenas no ano 2000, sendo inaugurado em 2002.

Saiba Mais

Veja os objetivos atribuídos ao Refúgio de Vida Silvestre Mata do Buraquinho:

– Garantir a conservação das condições naturais do meio ambiente que asseguram a existência da reprodução de espécies ou comunidades da flora local e da fauna residente ou migratória;
– Garantir a conservação do remanescente florestal conhecido popularmente como Mata do Buraquinho;
– Garantir a conservação das populações de flora e fauna ameaçadas de extinção através da sua proteção e ações de manejo;
– Garantir a conservação do aquífero para manutenção da capacidade hídrica do manancial;
– Proteger o remanescente florestal para garantir a manutenção do microclima da cidade de João Pessoa;
– Estimular a conectividade entre o remanescente florestal e demais fragmentos de floresta da Região Metropolitana de João Pessoa;
– Colaborar com as atividades de visitação e educação, estimulando uma consciência crítica em relação às questões ambientais na RVS Mata do Buraquinho;
– Estimular as pesquisas científicas em prol da conservação ambiental.

Conheça algumas espécies catalogadas no Jardim Botânico Benjamim Maranhão que possuem valor histórico, propriedades fitoterápicas ou medicinais:

Jacarandá-branco: Usada na medicina popular como depurativa do sangue, antiblenorrágica e antisifilítica. É uma madeira de lei bastante utilizada na construção civil.

Sucupira: A casca produz um óleo volátil e aromático, muito eficiente no tratamento de reumatismo. Estudos farmacológicos constataram que o óleo dos frutos inibe a penetração na pele humana da cercaria (estagio larval) da esquistossomose;

Barbatimão: Casca com efeito cicatrizante, ajuda a tratar feridas, dores de garganta, queimaduras, entre outras doenças.

Copaíba: espécie nativa da Mata Atlântica, cujo óleo é utilizado como cicatrizante;

Cinzeiro: Suas folhas podem ser usadas por meio de infusão ou aplicadas nas áreas afetadas, agindo como agentes anti-inflamatórios em condições artríticas, para reduzir a dor e a inflamação das articulações.