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Reisado de zabelê: Tradição é mantida desde 1919

Grupo revitalizado em 2001 é um dos principais movimentos culturais da cidade e une toda a população

Repleto de tradições centenárias, Zabelê é um município rico em patrimônios. O grupo de reisado da cidade, um folguedo de tradição oral, constituído de danças e cânticos ligados, especialmente, ao período natalino, desde 1919, começou quando o alagoano Manoel Venceslau da Silva, conhecido como Manoel João, chegou à cidade e se tornou o primeiro mestre – participante que comanda o andamento da festa -a reger o espetáculo na região. Parado por décadas, o grupo foi revitalizado em 2001, e hoje é um dos principais movimentos que une toda a população do município.

“O sentimento de pertencimento, desenvolvido e aprimorado através do Reisado de Zabelê, representa um ganho socioemocional bastante singular, tornando-se o principal elemento do transformador processo de formação humana, através da cultura, vivido desde a revitalização do grupo”, conta a secretária de Cultura do município, Fabiana Monteiro. O ciclo natalino é comemorado com folguedos em várias regiões brasileiras, principalmente no Norte e Nordeste, onde desenvolveu formatoslocalistas, com personagens típicos e sons da região. Em Zabelê, o reisado é apresentado em qualquer época do ano, independente das festas de Natal e Reis.

No município, os eventos sociais são extremamente importantes. Ao longo do ano, três festas típicas são realizadas para unir a população: a Festa de Emancipação e a Corrida de Jegue, no mês de abril, e a festa da vila, chamada Arraiá Nilton Teixeira, promovida em julho. A programação conta com apresentações de grupos culturais, quadrilhas e gincanas, além de jogos como o Pau de Sebo. Em virtude da festa, Zabelê adota o ponto facultativo em suas dependências.

As corridas de jegue, que começaram há cerca de 23 anos na região, se tornaram tão populares que, em homenagem a elas, uma estátua do animal foi erguida na cidade. Segundo um relatório Técnicode vistoria ao patrimônio cultural de Zabelê, organizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 2012, “a população do município considera a estátua um importante marco referencial da cidade, havendo poesias que falam sobre a estátua e a tradição de levar todos os visitantes da cidade a subir na escultura”.

Ausência de hospedarias dificulta o turismo

Apesar do grande potencial, Zabelê ainda não é uma cidade turística. O município recebe visitantes e excursionistas mas, o turismo ainda não é viabilizado no local. “Um dos fatores que dificulta essa questão é a ausência de hospedaria para pernoite. No entanto, temos grande potencial turístico cultural”, conta Fabiana Monteiro. Segundo ela, o município guarda incontáveis riquezas arqueológicas, entre elas, os Logradouros 1, 2 e 3, localizados em grandes blocos de pedras formados pelo intemperismo — nome dado aos processos responsáveis pelas alterações na estrutura e composição das rochas expostas na superfície do planeta.

Nos terrenos, é possível encontrar pinturas rupestres monocromas, de figuras zoomorfas e antropomorfas, junto com representações de figuras geométricas. “Os sítios arqueológicos possuem potencial turístico, ainda mais pelo fato de estarem inseridos na admirável paisagem do Cariri, que é naturalmente bela”, explica a secretária de cultura. “Incluem-se também, nos potenciais turísticos de Zabelê, o conjunto edificado da Fazenda Santa Clara, a Igreja Matriz, que apresenta fachada semelhante à Câmara do Comércio da Holanda, e as antigas casas do município, com diferentes técnicas de construção.”

De acordo com Fabiana, “o nosso folguedo de reisado, o artesanato e as festas populares são o que fazem da nossa cidade um destino interessante”. Ela destaca a união entre os munícipes e o respeito que cada um tem pela cultura, memórias e histórias da região e seus mais antigos moradores.

Para o prefeito do município, Dalyson Neves, “Zabelê é um lugar de paz, tem um povo muito acolhedor. Estamos empenhados em fortalecer nossas riquezas locais, e nos empenhamos para que o nosso trabalho proporcione aos conterrâneos e a quem nos visita os melhores sentimentos, as melhores impressões.”

Economia

Ainda de acordo com o Relatório Técnico de Vistoria ao Patrimônio Cultural de Zabelê, o município demonstra vocação para atividades e empreendimentos rurais. Historicamente, na região, o algodão era plantado em funçãoda pecuária, e esse sistema funcionou por cerca de 200 anos. A semente do algodão era utilizada para fazer ração e alimentar os animais, e a fibra extraída do mocó, uma variedade da planta explorada no lugar, era considerada uma das melhores do mundo. Esse ciclo teria começado por volta de 1750, e acabado, aproximadamente, em 1983, devido a umapraga, chamada “Praga do Bicudo”, que se espalhou pelo lugar.

Havia também uma planta chamada caroá, que se destacou em Zabelê, em torno de 1911. Do caroá, era extraída uma fibra utilizada na indústria têxtil para fabricar diversos produtos. Com otempo, o caroá se tornou escasso, na região, e outra planta, de origem mexicana, foi instituída para suprir as demandas das fábricas de extração: o agave. No entanto, com o surgimento da fibra sintética, essas plantas foram substituídas e, com a perda do mercado edos consumidores, as fábricas foram forçadas a fechar.

Uma atividade remanescente na região é a fabricação de cal em fornos, responsável pela geração de diversos empregos. Além disso, há a extração de madeira, confecção de estacas e cercas e também produção de carvão. Apecuária também se caracteriza como uma forte atividade econômica da região do Cariri.

Para Fabiana Monteiro, Zabelê também é o lar de uma das cinco associações que desenvolvem a renda renascença no Cariri paraibano, a Associação das Produtoras de Arte de Zabelê (APAZ). “É um fazer artesanal que, historicamente, tem grande importância no complemento da renda familiar dos munícipes.” Na Paraíba, em 2012, Zabelê, Monteiro, Camalaú,São João do Tigre e São Sebastião do Umbuzeiro registraram mais de 4.000 artesãs mulheres. Na época, o número representava 20% de toda a população feminina do Cariri.

Religião

Zabelê também é um município muito voltado para tradições religiosas. Em março, acontece a festa de São José, o copadroeiro da cidade. Em setembro, acontece a festa da Padroeira, Nossa Senhora das Dores, que reúne centenasde munícipes. Ainda, em outubro, um tríduo é celebrado em homenagem à santa, para comemorar a chegada da imagem sacra da padroeira ao município, em 25 de outubro de 1949.

Histórias e curiosidades

O município, fundado em 29 de abril de 1994, hoje tem 28 anos, e se encontra, em média, a uma distância de 316 km da capital doestado, João Pessoa. O lugar se tornou conhecido pela realização de batismos, em 1837, quando o padre José Gomes Pequeno, na época vigário do Santuário Nossa Senhora dos Milagres, em São João do Cariri, batizou dois meninos na chamada Fazenda de Zabelê. Desde então, sempre que um padre passava pelo local, maisbatismos eram realizados.