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Remédios, cápsulas e chás para emagrecer: saiba quais são os riscos

Remédios, cápsulas e chás para emagrecer: saiba quais são os riscos

Vendidos com a promessa de eliminar quilos rapidamente, produtos podem causar sérios efeitos quando não são usados segundo prescrição médica

Uma busca rápida em sites de pesquisa sobre “como emagrecer” leva a mais de 57,5 milhões de resultados, com conteúdos que incluem dietas, remédios, medicamentos fitoterápicos e chás indicados para a queima de gordura e inibição do apetite.

No início de fevereiro, a enfermeira Mara Abreu faleceu depois de sofrer uma hepatite fulminante relacionada ao consumo de cápsulas de um chá emagrecedor de 50 ervas. Ela chegou a ser submetida a um transplante de fígado, mas rejeitou o órgão e não resistiu.

Apenas algumas semanas depois, o país acompanhou o caso da cantora Paulinha Abelha. A causa da morte da vocalista do Calcinha Preta ainda não foi esclarecida, mas médicos que cuidaram da artista suspeitam que ela estivesse sofrendo de problemas renais provocados pelo uso contínuo de remédios ou chás para emagrecer. A prática foi confirmada pelo viúvo de Paulinha ao Fantástico.

Afinal, quais são os riscos do consumo de remédios, medicamentos fitoterápicos e chás de ervas indicados para o emagrecimento?

“A ideia de tomar uma medicação milagrosa para emagrecer vem de muito tempo. O sonho da humanidade é comer o que quiser e não engordar. Porém, são poucos os remédios oficiais reconhecidos pela Anvisa e pelo FDA (agência de vigilância americana) disponíveis no Brasil”, afirma a endocrinologista Jamilly Drago, que trabalha no Hospital Brasília/Dasa.

Entenda a diferença entre cada uma dessas categorias:

Remédios

Os remédios destinados ao emagrecimento são indicados para pessoas com índice de massa corpórea (IMC) acima de 30, pacientes com obesidade grau 2 com alguma comorbidade associada e de grau 3 em diante. Eles só podem ser vendidos em farmácias e drogarias e com prescrição de um profissional habilitado.

Atualmente há cinco medicamentos aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o tratamento da obesidade. São eles:

  • Sibutramina: classificado como um sacietógeno, ele aumenta a captação da serotonina do organismo, diminui a fome e faz com que a sensação de saciedade chegue mais rápido ao cérebro;
  • Orlistat: impede a absorção de um terço da gordura no intestino ao inibir enzimas gastrointestinais;
  • Cloridrato de lorcasserina: atua na captação de serotonina do cérebro, diminuindo o apetite e aumentando a saciedade;
  • Saxenda: age nas regiões do cérebro que regulam o apetite, fazendo com que se sinta menos fome;
  • Cloridrato de bupropiona + cloridrato de naltrexona: também reduzem o apetite por meio de ação no cérebro.

A médica Jamilly Drago alerta que a indicação desses medicamentos não é generalizada. “A condição clínica do paciente precisa ser avaliada individualmente. Ele tem que fazer exames comprobatórios, detectar a obesidade sarcopênica – caracterizada por fraqueza muscular. Também se considera se ele têm patologias associadas e compulsão alimentar”, explica.

A especialista pondera que essas medicações não tratam a compulsão alimentar, um transtorno psiquiátrico e comportamental. “Nós temos que entender que a obesidade tem várias causas e um único remédio não consegue combater todas ao mesmo tempo”, enfatiza.

Riscos

Todos os medicamentos para emagrecer aprovados são passíveis de efeitos secundários, como boca seca, insônia, taquicardia, palpitações, dor de cabeça, abdominal ou retal, aumento da pressão arterial, depressão, ansiedade, hipoglicemia, fadiga, náuseas, vômitos e diarreia.

O uso de medicamentos sem orientação médica pode levar à insuficiência renal, hepática, transtornos psiquiátricos – psicoses, quadros de neurose, síndrome do pânico –, deficiência de vitaminas, distúrbios eletrolíticos e arritmia.

“As pessoas, às vezes desesperadas, usam qualquer coisa. Nós já vimos de tudo em consultórios de endocrinologia: uso de remédios antiarrítmicos, que aumentam a frequência cardíaca. Até mesmo os termogênicos que parecem inofensivos, mas podem causar ataque cardíaco”, conta Drago.

Medicamentos fitoterápicos

São considerados fitoterápicos, pela RDC n° 26/2014 da Anvisa, os medicamentos fabricados com matéria-prima vegetal, como raízes, folhas, sementes, que tenham alguma ação terapêutica. Outras substâncias de origem vegetal também podem fazer parte da fórmula, como ceras, óleos ou extratos.

A conselheira federal de Farmácia pelo estado de Santa Catarina, Hortência Tierling, destaca que esses produtos devem ter a segurança e a eficácia comprovadas a partir de evidências clínicas.

De acordo com ela, existe uma crença popular de que, por serem fabricados com produtos de origem vegetal, os fitoterápicos não fazem mal à saúde. No entanto, o consumo sem prescrição pode causar uma série de problemas devido a ação tóxica de algumas plantas.

“Nenhum medicamento, seja ele um fitoterápico, é isento de reações adversas”, afirma Tierling.

Os fitoterápicos devem ser registrados na Anvisa tal qual os medicamentos, demonstrando uma relação de benefício-risco favorável que sustente o seu uso.

Chás emagrecedores

Alguns chás de ervas naturais são conhecidos pela ação diurética, por acelerar o metabolismo e queimar a gordura acumulada. Especialistas fazem um alerta para o perigo de misturar substâncias com efeito tóxico em composições muitas vezes desenvolvidas sem um registro sanitário.

A Anvisa destaca que, de acordo com a legislação brasileira, chá é um alimento e não pode conter substância farmacêutica, mesmo que de origem fitoterápica.

“Mesmos os chás possuem indicações e contraindicações ao seu uso, como qualquer outro produto, pois interferem em processos fisiológicos normais ao organismo. Alguns possuem poder de toxicidade, por exemplo”, afirma Hortência Tierling.

A farmacêutica lembra que população não deve se medicar por conta própria ou adquirir medicamentos em sites que não sejam de farmácias estabelecidas com portas abertas ao público, com um profissional farmacêutico capacitado para dar orientações.