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Iphan autoriza pesquisa em sítio arqueológico no Sertão

Iphan autoriza pesquisa em sítio arqueológico no Sertão

Equipe da UEPB ganhou direito legal de explorar área com grande concentração de gravuras rupestres

Após autorização do Iphan, pesquisadores da UEPB analisam os vestígios achados em seis municípios

A exploração da área polarizada pelo município de Catolé do Rocha, que abriga uma das maiores concentrações de sítios arqueológicos com gravuras rupestres do Brasil, descoberta em 2021, foi autorizada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A portaria foi publicada no Diário Oficial da União no dia 7 de fevereiro e, a partir de agora, pesquisadores da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) têm o direito legal de realizar pesquisas no sítio arqueológico.

As atividades foram aprovadas para seis municípios que fazem parte da região. De acordo com a portaria 01408.000021/2022-29, os pesquisadores têm um ano para percorrer o espaço e analisar os vestígios históricos. As atividades abrangem as cidades de Catolé do Rocha, Brejo do Cruz, Belém do Brejo do Cruz, São José do Brejo do Cruz, São Bento e Pombal.

O arqueólogo e paleontólogo Juvandi de Souza Santos, coordenador do Laboratório de Arqueologia e Paleontologia (Labap/UEPB), explicou que, após a localizar os sítios, foi elaborado um projeto de pesquisa e encaminhado ao Iphan.

Ele informou que cada descoberta passa pelas fases de prospecção dos sítios, ou seja, é feita uma varredura na área; cadastro nacional no Iphan; elaboração de projetos de pesquisas e o encaminhamento para o Instituto, responsável pela liberação das atividades da equipe nesses locais. “A portaria permite que o trabalho seja feito com mais segurança e dentro da legalidade, seguindo a legislação”, enfatizou.

Conforme o pesquisador, todas as a ividades arqueológicas no Brasil devem ter à frente um arqueólogo e sua equipe, devidamente autorizados pelo Instituto. Ele ressaltou que, antes da publicação da portaria que libera a exploração nos municípios da região, havia apenas um convênio com a prefeitura de Catolé do Rocha.

Descoberta do novo sítio surpreendeu pesquisador

O maior complexo arqueológico rupestre da Paraíba foi localizado, em agosto de 2021, durante um trabalho de mapeamento no município de Catolé do Rocha. O achado histórico fica no Sítio Arqueológico Malhada de Areia, na zona rural, a cerca de 20 quilômetros da cidade.

“Sem sombra de dúvida, é o maior sítio arqueológico da Paraíba”, ressaltou o professor Juvandi de Souza Santos, assim que a área foi descoberta. O trabalho foi feito com a ajuda de pesquisadores de Catolé do Rocha e, conforme o coordenador da pesquisa, os sítios constituem o maior complexo arqueológico em extensão e em quantidade de gravuras – são centenas – da Paraíba.

À época, ele relatou que a equipe sabia da existência de um fragmento muito pequeno do sítio, mas jamais esperava encontrar tamanha quantidade, o que foi constatado quando os pesquisadores decidiram explorar mais adiante.

Ainda segundo o pesquisador, não existem traços que apontem a autoria das gravuras para um povo específico. Além disso, ele ressaltou que elas se repetem na Paraíba e os estudos ainda são escassos.

Tesouros sertanejos

A Paraíba apresenta uma quantidade gigantesca de ocorrências arqueológicas, paleontológicas e espeleológicas e, devido a essas riquezas, a região mais seca do estado se tornou celeiro para diversas pesquisas. As terras sertanejas, quase inférteis, castigadas pela estiagem, guardam tesouros que ajudam a contar a história do lugar, de seu povo, dos costumes e da realidade de outrora.

Em 2021, sob a coordenação do Labap/UEPB, foram feitas descobertas importantes. Entre os achados estão os antigos fornos de cal, alguns cemitérios de bexiguentos – onde eram enterradas as pessoas que morriam de doenças contagiosas – e diversos sítios de arte rupestre na região polarizada por Catolé do Rocha.

O pesquisador Juvandi de Souza, que está à frente do Labap, destacou que os antigos fornos de cal foram localizados nas cidades de Caraúbas, Santa Cecília e Congo. Já os cemitérios de bexiguentos estão em municípios como Patos, Zabelê, Cuité e Pocinhos.

Além dessas descobertas, foi feito, no ano passado, o salvamento paleontológico em quatro tanques com a presença de fósseis de megafauna – animais de grandes proporções corporais que conviveram com a espécie humana. Foram cadastrados ainda vários abrigos rochosos e cavernas no interior do estado.

Além disso, em outubro do ano passado, três sítios arqueológicos – Batentes I, II e III – foram localizados no município de Itatuba. Apesar de serem áreas históricas conhecidas pelos moradores da região, não eram registradas no Iphan. A equipe do Labap/UEPB providenciou a documentação e encaminhou as fichas ao órgão nacional. Além do Sertão, os estudos do Labap/UEPB se concentram no Cariri e Seridó.

Museu de História Natural é ampliado em Campina

O Museu de História Natural da UEPB foi inaugurado há 11 anos e está passando por algumas mudanças. Recentemente, uma nova sala foi concluída, garantindo espaço mais amplo para abrigar as centenas de peças expostas de seu acervo arqueológico, paleontológico, faunístico, florístico, espeleológico e geológico de Campina Grande e região.

“É um ambiente para visitação e pesquisas, e essa primeira sala será reaberta até o final desse mês”, comentou o professor Juvandi de Souza Santos, que também coordena o espaço.

Por enquanto, as visitas acontecem por agendamento através do e-mail juvandi@terra.com.br, mas a intenção é que, mais adiante, o Museu seja aberto durante quatro dias por semana. As visitas são orientadas por guias, alunos bolsistas da UEPB. Instalado no antigo Museu de Artes Assis Chauteabriand, no Largo do Açude Novo, Centro de Campina Grande, o Museu de História Natural da UEPB funciona no prédio onde funciona atualmente a Secretaria de Cultura de Campina Grande.

Legenda da foto: Equipe do Laboratório de Arqueologia e Paleontologia da UEPB fez a descoberta na região de Catolé do Rocha, no Sertão paraibano, de um dos maiores sítios arqueológicos com gravuras rupestres do Brasil