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Pico de metano dos últimos 16 anos é suficiente para reverter uma Era do Gelo

Pico de metano dos últimos 16 anos é suficiente para reverter uma Era do Gelo

Foi registrado, nos últimos 16 anos, um aumento alarmante nos níveis metano atmosférico, que continua a acelerar na mesma velocidade de eventos que inverteram as temperaturas globais e até acabaram com eras do gelo no passado. Em épocas antigas, tundras geladas foram substituídas por savana tropical, e algo similar poderia estar em curso no planeta, segundo alguns estudos.

Os picos de emissão de metano foram notados pela primeira vez em 2006, mas não se sabia de onde vinha o gás ou se a tendência de aumento havia vindo para ficar. Elas precedem eventos de terminação (termo usado para descrever a reorganização de um sistema climático da Terra), que geralmente ocorrem em três fases, como evidenciado por núcleos de gelo de 800.000 anos atrás. São elas:

  • Primeira fase: prevê aumentos de CO2 e metano, que levam a um aquecimento global de milhares de anos;
  • Segunda fase: um aumento súbito de temperatura é alimentado por um pico de metano;
  • Terceira fase: o pico se estabiliza, o que pode levar milhares de anos.

Vale notar que a fase abrupta dura apenas algumas décadas, com o aumento de metano provavelmente sendo causado pelas terras úmidas tropicais.

Emissões de metano podem vir de atividades humanas, como aterros e agropecuária, e decomposição de plantas em terras úmidas (Imagem: Redzen2/envato)
Emissões de metano podem vir de atividades humanas, como aterros e agropecuária, e decomposição de plantas em terras úmidas (Imagem: Redzen2/envato)

O gás metano, que também é de efeito estufa, como o CO2, é liberado por atividades humanas como queima de combustíveis fósseis, aterros e agricultura, e por processos naturais, via decomposição de terras úmidas, como os pântanos. As emissões humanas cresceram muito em 1980, com a expansão da indústria de gás natural, e se estabilizaram nos anos 1990.

Pico de metano: o que isso significa?

No final de 2006, as coisas começaram a ficar estranhas. O metano voltou a subir em grandes níveis, mas não houve uma mudança significativa nas atividades humanas. Em 2013, o aumento acelerou mais ainda, e em 2020, chegou à maior taxa de aumento já registrada por nós. O que estaria emitindo tanto metano? Estudos desde 2019 procuraram responder a esse questionamento.

A crescente presença do gás na atmosfera foi atribuída a emissões de terras úmidas tropicais, predominantemente na África. Uma mudança significativa no clima tropical, ligada às mudanças climáticas causadas pelo ser humano, gerou um aumento de terras úmidas e de plantas nascendo nesses locais, gerando mais decomposição, processo que, naturalmente, emite metano.

Terras úmidas, como o Pantanal, são o principal fator para o aumento de metano na atmosfera — embora o processo seja natural, o aumento de terras úmidas no planeta está ligado à atividade humana (Imagem: Drummer4uva72894/Envato)
Terras úmidas, como o Pantanal, são o principal fator para o aumento de metano na atmosfera — embora o processo seja natural, o aumento de terras úmidas no planeta está ligado à atividade humana (Imagem: Drummer4uva72894/Envato)

Em 14 de julho deste ano, o cientista Euan Nisbet e sua equipe publicaram um artigo na revista científica Global Biogeochemical Cycles comparando as tendências de metano na atmosfera com a fase abrupta de aquecimento durante as terminações de eras do gelo conhecidas. A analogia mais próxima que temos com o que tem acontecido no planeta atualmente é com essas épocas antigas, segundo contou Nisbet ao site Live Science.

Embora as evidências tenham sido taxadas como “inconclusivas”, já que não temos elementos como os milhares de anos de mudanças e aquecimento, a escala do aumento de metano deve ser monitorada de perto, segundo os pesquisadores. No passado, grandes extensões de tundra, no Hemisfério Norte, foram transformadas em pastagens habitadas por hipopótamos, mas não há como saber o que aconteceria com uma terminação atualmente.

Entre as atitudes que podemos tomar para diminuir a emissão de metano na atmosfera, está a diminuição de queima de combustível fósseis e controle de aterros (Imagem: collab_media/envato)
Entre as atitudes que podemos tomar para diminuir a emissão de metano na atmosfera, está a diminuição de queima de combustível fósseis e controle de aterros (Imagem: collab_media/envato)

Nisbet comenta não haver provas definitivas de que isso está acontecendo no planeta atualmente, mas a questão está sendo levantada por pesquisas como essa. Se mudanças climáticas ao ponto de uma terminação estão ocorrendo ou não, é preciso ficar de olho nas emissões de metano — temos, em nossas mãos, muito poder para diminuí-las, de acordo com Nisbet, incluindo parar vazamentos de gás e impedir emissões pelo esterco do gado de criação, aterros e resíduos de colheitas.