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Perda de vegetação nativa no Brasil acelerou na última década, segundo MapBiomas

Perda de vegetação nativa no Brasil acelerou na última década, segundo MapBiomas

Cerrado e Pampa são os biomas que mais perderam área de vegetação nativa proporcionalmente. Mais de 30% do território estão destinados às atividades agropecuárias e cidades ocupam 0,44% do Brasil

Nos últimos 10 anos (2013 a 2022) a perda de vegetação nativa acelerou no Brasil, segundo a nova coleção do MapBiomas sobre dados de uso e cobertura do solo. O período coincide com a vigência do novo Código Florestal, aprovado pelo Congresso em 2012. “A menor perda de cobertura vegetal aconteceu antes da aprovação do código, e desde então a perda aumentou. Alguma coisa precisa ser ajustada porque a proposta não está funcionando”, comentou Tasso Azevedo durante o 8º Seminário Anual sobre “Uso da terra e transição ecológica” para lançamento da 8ª Coleção do MapBiomas. Realizado em Brasília, o evento teve transmissão online no canal da rede.

A análise das imagens de satélite mostra que no período de 5 anos antes da aprovação do Código Florestal (2008 a 2012) houve uma perda de 5,8 milhões de hectares. Nos cinco anos seguintes à aprovação do código (2013 a 2018), a perda aumentou para 8 milhões de hectares. Nos últimos 5 anos (2018 a 2022), alcançou 12,8 milhões de hectares, um aumento de 120% em relação a 2008-2012. De 1985 a 2022, período coberto pela coleção, houve uma perda de 96 milhões de hectares de vegetação nativa – uma área equivalente a 2,5 vezes a Alemanha. A cobertura de vegetação nativa no território brasileiro caiu de 75% para 64% nesse período.

Outros dados da nova coleção mostram que 33% do território estão destinados às atividades agropecuárias (as cidades ocupam somente 0,44% do território nacional).

A Amazônia e o Cerrado foram os que mais tiveram perda de vegetação nesse sentido, com a retirada de 52 milhões de hectares (equivalente à área da França) e 31,9 milhões de hectares, respectivamente, entre 1985 e 2022. Proporcionalmente à vegetação existente anteriormente, os biomas que mais perderam vegetação nativa até o ano passado foram o Cerrado (25%) e o Pampa (24%). Do total de vegetação nativa no Brasil em 2022, 44 milhões de hectares são de mata secundária (9%), que havia sido convertida para alguma atividade humana e agora está em processo de regeneração.

O avanço da agropecuária

A agropecuária avançou em todos os biomas brasileiros entre 1985 e 2022, com exceção da Mata Atlântica, o bioma mais desmatado, onde o território ocupado por essas atividades permaneceu estável nas últimas duas décadas. Na Amazônia, a área ocupada pelo agro saltou de 3% para 16%; no Pantanal, de 5% para 15%; no Pampa, de 29% para 44%; na Caatinga, de 33% para 40%; e no Cerrado, de 34% para 50%.

Atualmente, dois novos arcos do desmatamento se destacam na expansão agrícola: o oeste da Amazônia, na fronteira entre Amazonas, Rondônia e Acre (Amacro), onde a agropecuária aumentou 10 vezes nos últimos 38 anos, chegando a 5,3 milhões de hectares (21% da área do território); e o nordeste do Cerrado, na fronteira entre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia (Matopiba), onde a agropecuária aumentou 14 milhões de hectares, chegando a 25 milhões de hectares em 2022 (35% do território).

O avanço da cultura de soja aconteceu em todos os biomas, passando de 4,5 milhões de hectares em 1985 para 39,4 milhões de hectares em 2022, área comparável a duas vezes o território do Paraná. “O Pantanal e o Pampa são exemplos de biomas naturalmente aptos para a pecuária, pois seus campos são como pastagens naturais. Nos dois casos, o avanço da soja representa uma degradação do bioma”, alerta Marcos Rosa, coordenador técnico do MapBiomas.

Outros destaques

As terras indígenas ocupam 13% do território nacional, mas contêm 19% de toda vegetação nativa do país, e apenas 1% da perda de vegetação nativa nas últimas três décadas se deu nestas áreas.

Em 1985 o Pantanal tinha 47% de água e campos alagados; na última cheia, em 2018, a inundação alcançou 36% do bioma e, em 2022, apenas 12% do bioma foram mapeados como água e campos alagados.

De todos os estados brasileiros, 25 perderam vegetação nativa entre 1985 e 2022. O estado de São Paulo manteve estável a área de vegetação nativa, e o Rio de Janeiro foi o único que teve um leve aumento.

Em 1985, a vegetação nativa predominava em 46% dos municípios brasileiros, mas esse número vem caindo, com 602 municípios deixando de ter esse predomínio na comparação com 2022.

Em 37% dos municípios, a agropecuária predomina como principal uso da terra.

A área de garimpo hoje é maior do que a área de mineração industrial, e no ano passado ele cresceu em tamanho o equivalente à cidade de Curitiba.

Novidades da Coleção 8

A Coleção 8 do MapBiomas traz mapas e dados anuais sobre a evolução de 29 classes de cobertura e uso da terra no Brasil desde 1985 a 2022, além de módulos com dados sobre a evolução anual do desmatamento, vegetação secundária, irrigação, mineração e condição de vigor da pastagem (mais ou menos carbono).

Entre as novidades da plataforma neste ano estão as novas classes de cultivo de palma e floresta alagável na Amazônia e novas análises temporais, como estabilidade das classes e número de mudanças, dos dados que permitem explorar com mais detalhes e profundidade as transformações que acontecem no território brasileiro. Também é possível fazer análises territoriais em municípios, estados, bacias hidrográficas, unidades de conservação e terras indígenas, entre outros; cruzar territórios para obter informações (como bioma dentro de um estado, por exemplo); e buscar uma propriedade rural se você tiver o código dela no CAR.

“A acurácia vem evoluindo ano a ano”, chegando a 90% no nível 1, segundo informações de Tasso na apresentação. Entre os melhoramentos nesta oitava coleção estão legendas mais detalhadas, geocódigo nos municípios (facilitando o trabalho de quem trabalha com dados), inclusão de dados de fogo no histórico de cada pixel no mapa, aprimoramento das tela de transições, visualização 3D com relevo, algoritmo de mineração (com detalhamento por minério). O MapBiomas também disponibilizou uma versão beta dos mapas com 10 metros de resolução, de 2016 a 2022. Os dados estão disponíveis para download no site da rede, e as estatísticas agora podem ser baixadas em planilhas.

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