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Furacão Idalia: como as mudanças climáticas estão alimentando furacões

Furacão Idalia: como as mudanças climáticas estão alimentando furacões

Crise climática tem expandido a temporada de furacões no calendário e no espaço geográfico

A chegada do furacão Idalia à costa do Golfo da Flórida, nos Estados Unidos, nesta quarta-feira (30), mostra que a atividade dos furacões no Atlântico pode não ser tão silenciosa este ano como os meteorologistas haviam previsto no começo do ano, reporta a Reuters.

Os cientistas haviam dito, em maio, que os EUA teriam uma temporada de furacões quase normal, mas mudaram essa previsão em agosto, projetando tempestades mais perigosas. Isso aconteceu porque as temperaturas da superfície dos oceanos no mundo têm sido extremamente altas este ano, com temperaturas dentro e ao redor de Florida Keys similares a uma banheira de hidromassagem.

Segundo os cientistas, esse cenário pode contrariar a influência moderadora do El Niño, atualmente em curso, que normalmente reduz a atividade dos furacões no Atlântico. E eles também dizem que há fortes evidências de que as tempestades devastadoras ficarão pior por causa das mudanças climáticas. O aumento da temperatura média do planeta está tornando os furacões mais úmidos, mais ventosos e, em geral, mais intensos. Há evidências de que isso está fazendo com que as tempestades se movam mais devagar, o que significa uma quantidade maior de água em um só lugar.

Os furacões se formam a partir da água morna do oceano e de ar úmido. Quando a água quente do mar evapora, sua energia térmica é transferida para a atmosfera, o que fortalece os ventos da tempestade. Sem isso, os furacões não conseguem se intensificar e desaparecem.

Se não fossem os oceanos, o planeta seria muito mais quente devido às alterações climáticas. Mas nos últimos 40 anos, o oceano absorveu cerca de 90% do aquecimento causado pelas emissões de gases com efeito de estufa – que retêm o calor. Grande parte desse calor oceânico está contido perto da superfície da água. O calor adicional pode alimentar a intensidade de uma tempestade e provocar ventos mais fortes.

As mudanças climáticas também podem aumentar a quantidade de chuva provocada por uma tempestade. Como uma atmosfera mais quente pode reter mais umidade, o vapor d’água se acumula até que as nuvens se rompam, provocando fortes chuvas. Cientistas da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA) acreditam que, com 2 ºC de aquecimento, a velocidade dos ventos dos furacões possa aumentar em até 10% e que a proporção de furacões que atingem os níveis mais intensos – categoria 4 ou 5 – poderá aumentar 10% neste século.

As mudanças climáticas também estão aumentando a duração da temporada típica dos furacões, pois o aquecimento global cria condições propícias para tempestades em mais meses do ano – não só nos EUA os furacões têm começado em algumas semanas mais cedo, mas também na Ásia.

Outro efeito é a expansão das regiões onde os furacões normalmente acontecem. A Flórida é a região mais atingida por furacões nos Estados Unidos, com mais de 120 impactos diretos desde 1851, segundo a NOAA. Nos últimos anos, porém, algumas tempestades atingiram a costa mais a norte. Essa tendência é preocupante para cidades de latitudes médias como Nova Iorque, Boston, Pequim e Tóquio, onde “a infra-estrutura não está preparada” para tais tempestades, disse a cientista atmosférica Allison Wing, da Florida State University, à Reuters.

Não está claro, contudo, se as alterações climáticas estão afetando o número de furacões que se formam todos os anos. Uma equipe de cientistas relatou recentemente a detecção de um aumento na frequência dos furacões no Atlântico Norte nos últimos 150 anos, de acordo com seu estudo publicado em dezembro na Nature Communications. Mas a pesquisa ainda está em andamento.