Pedro Régis: tão generoso que virou até nome de município

Mais de seis mil pessoas moram no local, cuja economia se baseia no comércio, na agropecuária e no artesanato

Um homem bondoso que ao longo da vida se preocupou em ajudar os mais necessitados. Esse foi Pedro Régis, comerciante e fazendeiro que deu nome ao pequeno e pacato município paraibano localizado na região do Vale do Mamanguape, segundo o conceito geral da população local. Com pouco mais de seis mil habitantes,situado no Litoral Norte do Estado e distante cerca de 90 quilômetros da capital João Pessoa, Pedro Régis tem como base da economia o comércio e a agropecuária, sendo conhecido pela fabricação de pimentas, agricultura familiar e artesanato, com foco para o crochê. A cidade, que faz divisa com Jacaraú, Lagoa de Dentro, Curral de Cima e Caiçara, tem também seus artistas populares: o repentista Léo do Pandeiro; o trio pé de serra “Forró do Braz” e os agricultores sanfoneiros “Filhos do Cuité” são alguns dos nomes da cultura local.

Destaque para a feira livre dos domingos, reativada em junho do ano passado, hoje considerada uma das maiores e melhores da região. No espaço de quase mil metros quadrados, 250 feirantes de mais de 15 cidades negociam seus produtos. Frutas e verduras, carnes, peixes e frutos do mar, temperos, bolos e doces, eletrônicos, roupas, calçados, acessórios e artigos para casa. Muitas das frutas e verduras comercializadas são plantadas no próprio município, que possui um solo apropriado para o plantio de frutas, verduras e legumes. “Macaxeira, inhame, urucum, abacaxi, banana, jaca, caju… o que você imaginar aqui dá para plantação, porque temos uma terra muito fértil”, destaca a prefeita do município, Michele Ribeiro. Quem frequenta a feira destaca não só a variedade e a qualidade e os preços acessíveis. O que mais chama a atenção é a alegria e a simpatia dos comerciantes.

E é a alegria uma das características do município que tem como principais datas comemorativas a Emancipação Política, celebrada em 29 de abril, e a Festa da Padroeira Nossa Senhora de Fátima, festejada em 14 de novembro, oportunidades em que recebe visitantes das cidades circunvizinhas. Outro período bastante festejado é o junino, e para este ano uma série de shows e eventos já foram divulgados. O “Santo Antônio e o São Pedro da Gente”, comemorado nos dias 10, 27, 28 e 29 de junho, vai contar com nomes importantes da música, além de festival de quadrilha, festival de talentos e feira de artesanato e gastronomia, tudo dentro do “Arraiá do Interior”, que reúne também os municípios de Duas Estradas, Lagoa de Dentro, Serra da Raiz e Jacaraú.

“Você precisa provar o nosso pé-de-moleque e a nossa cabeça de galo, são deliciosos”, sugere Michele Ribeiro. Pedro Régis terá também o “Arraiá da Escola”, com os alunos do município aprendendo mais sobre as tradições que envolvem o período. A gestora vê o retorno das comem rações, inclusive as juninas, como uma retomada da autoestima, que passa pela cultura e reconhecimento da população. “É uma forma de fomentar a nossa economia, além de manter viva nas pessoas a tradição das festas juninas, o forró que é tão característico, oportunidade também das pessoas da nossa cidade, que não teriam condições de viajar para outras regiões, aproveitar e participar das comemorações”.

Mas nem só de festejos vive Pedro Régis. A beleza natural é um convite aos moradores e visitantes que, a partir deste ano, podem desfrutar de um passeio ciclístico de 30 quilômetros pela zona rural. O objetivo é desenvolver o potencial ecoturismo local. Outra opção de passeio é o pôr do sol no mirante, localizado na comunidade de Cafula, um show à parte. Com vista privilegiada de onde se veem barragens, açude e serras, assistir à despedida do astro rei do local é ter a certeza de que a beleza está nas coisas simples da vida, como um delicioso banho na barragem do sítio Carnaúba, um dos locais mais frequentados do município e onde moradores e turistas podem desfrutar de um dia especial com direito a banho, pescaria e muita animação. Destaque também para o povo acolhedor e receptivo. “Uma cidade de pessoas simples, mas muito solidárias. De homens e mulheres muito trabalhadores e fortes que sabem receber muito bem”, detalha Michele Ribeiro.

Entre a sala de aula e o gabinete

Professora, doutora em serviço social e servidora pública federal, 43 anos, Michele Ribeiro de Oliveira (Cidadania) foi eleita prefeita em 2020. A filha de Virgílio Ribeiro da Silva Filho e neta de Virgílio Ribeiro da Silva, ex-prefeitos de Jacaraú, é a primeira mulher a governar o município. “Foi dito muitas vezes que eu não tinha capacidade de administrar um município, mas apenas uma sala de aula, ou que eu não governaria, mas receberia algum tipo de ordem”, lembra. Nada que tirasse da prefeita a coragem ou a vontade de seguir, apesar de entender que o caminho para a equidade de gênero é longo. “Falas sobre a juventude, a beleza, também são falas que tendem a desqualificar a mulher, quando o que está em questão é a competência e a capacidade de ocupar esses espaços”.

Michele, que divide o tempo entre a sala de aula e o gabinete, abriu mão do salário de R$ 12 mil como prefeita, gerando para o município uma economia de mais de R$ 140 mil só no ano passado. “Eu estou prefeita sobretudo pelo compromisso de poder contribuir com o município, deixar um legado. O fato de me colocar no lugar do outro me faz trabalhar para que as pessoas tenham uma melhor qualidade de vida”. A entrevistada lembra que assumiu uma prefeitura em situação econômica crítica e com problemas no fornecimento de serviços essenciais. “Aos poucos estamos trabalhando essa estruturação. Está sendo muito desafiador para a gente poder organizar, mas temos conseguido avançar”. Sobre a relação com a sala de aula, a prefeita afirma que há, sim, uma ligação entre os ofícios. “A questão do ouvir, do compreender cada um, que a gente trabalha muito em sala de aula, a gente aplica também na gestão do executivo”.

Histórico

Primeiro vereador da região

A emancipação do município é recente, data de 29 de abril de 1994. Antes disso era a Vila Retiro, pertencente ao vizinho município de Jacaraú. Foi Pedro Régis o responsável pelo povoamento do lugar, quando permitiu que as pessoas passassem a firmar morada em suas terras, aumentando aos poucos a vila. O fundador construiu também a igreja local e tornou-se o primeiro vereador da região, nos anos 50, sendo, no início da década de 60, o primeiro prefeito eleito do município de Jacaraú. Até hoje parentes e familiares de Pedro Régis moram na cidade que homenageia o patriarca.