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“Grande Morte”: maior evento de extinção em massa, ocorrido há 252 milhões de anos, traz alerta para o presente

“Grande Morte”: maior evento de extinção em massa, ocorrido há 252 milhões de anos, traz alerta para o presente

Evento que eliminou 95% da vida da Terra foi causado por erupções vulcânicas que geraram um aquecimento global semelhante ao estimulado hoje pela queima de combustíveis fósseis

A Terra já viveu ao menos cinco períodos de extinção em massa de espécies e suspeita-se que atualmente estejamos passando pela sexta extinção massiva. Isso porque a biodiversidade e toda a teia de relações que suportam os ecossistemas marinhos e terrestres do nosso planeta estão em declínio.

Desde 1970, as populações de vida selvagem diminuíram 70%, e cerca de um milhão de espécies de plantas e animais correm risco de desaparecer até 2050 – aproximadamente 25% de todas as espécies do globo. Até o final do século, 50% ou mais estarão em risco.

Dentre todos os eventos de extinção, o maior foi o Permiano-Triássico, também conhecido como “Grande Morte”, que ocorreu 252 milhões de anos atrás e varreu 95% da vida da Terra. Ele foi causado por erupções vulcânicas que provocaram um aquecimento global seguido de mudanças climáticas semelhantes aos estimulados hoje pela queima de combustíveis fósseis.

Embora os cientistas conheçam a causa da extinção, a forma e o tempo como o colapso ecológico efetivamente ocorrem são, geralmente, um mistério que os estudiosos buscam compreender melhor. Mas o maior evento de extinção em massa pode nos ajudar a clarear essa questão.

Em um estudo publicado neste final de semana na revista Current Biology, os pesquisadores analisaram os ecossistemas marinhos antes, durante e depois da “Grande Morte” para entender melhor a série de eventos que levaram à desestabilização ecológica.

Ao fazer isso, os pesquisadores da Academia de Ciências da Califórnia, da Universidade de Geociências da China e da Universidade de Bristol constataram que a perda de biodiversidade pode ser o prenúncio de um colapso ecológico mais devastador. A descoberta preocupa e liga o alerta vermelho para nosso futuro tendo em vista que a taxa de perda de espécies hoje supera a da “Grande Morte”.

Morte em duas etapas

A pesquisa examinou fósseis em uma região no sul da China que era um mar raso no período do Permiano-Triássico na tentativa de recriar o antigo ambiente marinho e as teias de vida que existiam ali. Ao classificar as espécies, a equipe conseguiu analisar as relações entre presas e predadores e determinar cada função desempenhada na cadeia alimentar daquele ecossistema antigo. Essa análise forneceu representações do ecossistema antes, durante e depois da extinção em massa.

Além disso, as rochas presentes na região foram datadas usando tecnologias de precisão, o que permitiu aos cientistas traçar uma linha do tempo para entender o processo de extinção e a eventual recuperação do ambiente. Com isso, eles descobriram que o desaparecimento das espécies se deu em duas etapas. Embora tenha havido perda de espécie na primeira fase, foi na segunda em que a perda de relações entre as espécies — ligação fundamental para o equilíbrio dos ecossistemas — decaiu a ponto de levar o sistema ao colapso.

“Apesar da perda de mais da metade das espécies da Terra ter ocorrido na primeira fase da extinção, os ecossistemas permaneceram relativamente estáveis”, explicou em nota o pesquisador Yuangeng Huang, da Universidade de Geociências da China. As interações entre as espécies diminuíram apenas ligeiramente na primeira fase da extinção, mas caíram significativamente na segunda fase, causando a desestabilização dos ecossistemas. “Os ecossistemas foram levados a um ponto crítico do qual não puderam se recuperar”, continuou Huang.

O que explica essa mudança? Segundo o estudo, a perda de biodiversidade na primeira fase deixou ainda um número suficiente de espécies para desempenhar funções essenciais, a chamada “redundância funcional”, explicaram os cientistas. Mas quando distúrbios ambientais se intensificaram os ecossistemas perderam essa “resistência reforçada”, o que levou a um colapso ecológico abrupto.

Para os cientistas, essas descobertas devem ajudar a construir estratégias de conservação mais efetivas a fim de frear a atual crise de biodiversidade. Eles enfatizam a importância de considerar a redundância funcional nesses planos e a necessidade de “ação urgente” para lidar com a perda acelerada de espécies.

“Atualmente estamos perdendo espécies em um ritmo mais rápido do que em qualquer um dos eventos de extinção anteriores da Terra. É provável que estejamos na primeira fase de outra extinção em massa mais severa”, Huang. “Não podemos prever o ponto de inflexão que levará os ecossistemas ao colapso total, mas é um resultado inevitável se não revertermos a perda de biodiversidade”.