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Casos de miopia em crianças aumentaram durante pandemia, aponta levantamento

Casos de miopia em crianças aumentaram durante pandemia, aponta levantamento

Sete a cada dez oftalmologistas afirmaram que a miopia progrediu nos pacientes pediátricos que atendem desde 2020

Sete em cada dez médicos afirmam ter notado um aumento de casos e severidade de miopia em crianças durante a pandemia, de acordo com levantamento do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO). Além disso, de acordo com a Academia Americana de Oftalmologia, se nada for feito para impedir a alta de casos da condição, 50% da população mundial terá a doença até 2050.

Os pesquisadores do CBO entrevistaram 295 oftalmologistas com diversas subespecialidades, como pediatria, córnea, catarata, glaucoma e retina, entre abril e junho deste ano. Dos profissionais ouvidos, 75,6% avaliaram que o aumento do uso de dispositivos eletrônicos agravou o quadro de miopia. Quase todos os profissionais ouvidos (98,6%) disseram que a redução do tempo em telas (como celular, televisão e videogames) pode ajudar no caso de crianças míopes.

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) orienta que seja evitada a exposição de menores de dois anos a telas, mesmo que passivamente. Para crianças entre dois e cinco anos, o limite deve ser de uma hora de tela, com supervisão. Para a faixa entre seis e dez anos, o tempo não deve ser superior a duas horas, também com supervisão.

Quase a totalidade dos médicos entrevistados (96,3%) respondeu que considera o aumento de atividades ao ar livre como um fator que pode contribuir para reduzir os graus de miopia em crianças. Já quanto ao tempo ideal em atividades externas, os entrevistados se dividiram, com 43,2% indicando pelo menos duas horas por dia, 31% considerando pelo menos uma hora diária adequada e 10% recomendando pelo menos quatro horas por dia.

A oftalmologista Paula Letícia Barbosa, do Hospital das Clínicas (SP), explica que, durante a infância, o olho ainda está em formação e, por isso, a exposição excessiva a estímulos artificiais, como as luzes e cores emitidas pelas telas, pode ter um grande impacto no desenvolvimento da visão. “O tecido ocular das crianças ainda é maleável, portanto, mais suscetível a alterações por essa exposição a eletrônicos que pode levar a miopia, por exemplo, quando há também predisposição genética”, afirma a oftalmologista. “Ainda não há evidências suficientes para explicar exatamente os mecanismos com que o uso de eletrônicos provoca o aumento da miopia, mas a relação entre eles já foi comprovada na literatura científica”.

A oftalmologista ressalta ainda que, além de diminuir o tempo de telas e aumentar as atividades ao ar livre, é importante fazer o uso dos óculos corretamente quando há indicação, pelos períodos indicados pelo médico. “A criança precisa estar com o grau e refração corretas para que as conexões nervosas entre o olho e o cérebro se formem de maneira adequada”, explica Paula. “Quando isso não acontece e a criança tem algum problema de visão, como a miopia, podem ocorrer outros problemas, como uma diminuição em um ou ambos os olhos devido ao estímulo não ser corretamente interpretado pelo cérebro. Por isso, é importante usar os óculos o tempo todo, se essa for a recomendação, e não apenas na escola, por exemplo”.

O que é a miopia

Miopia é o nome dado a um erro de refração, quando a imagem se forma antes da retina. Ela causa visão embaçada, prejudicando a visualização de objetos e imagens distantes. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), há 59 milhões de pessoas com essa condição no Brasil, mais de 25% da população. Em todo o mundo, o número de pessoas com miopia chega a 2,6 bilhões.