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Arbovíroses e leishmaniose são mais frequentes no calor

Arbovíroses e leishmaniose são mais frequentes no calor

Épocas de clima mais quente registram chuvas repentinas que facilitam a reprodução dos mosquito transmissores das doenças

As arboviroses e a leishmaniose são as duas doenças registradas com maior frequência nos períodos mais quentes do ano. As primeiras aparecem com maior destaque, pois até novembro deste ano, o órgão identificou mais de 23 mil casos prováveis de arboviroses: a dengue em primeiro lugar, seguida pela chikungunya e a zika. As informações são da Secretaria de Estado da Saúde (SES-PB).

As arboviroses são doenças infecciosas causadas por insetos e aracnídeos e as mais conhecidas são a dengue, chikungunya e a zika. Neste sentido, Carla Jaciara, da Área Técnica em Arboviroses da SES-PB, destacou que elas não estão associadas às altas temperaturas porque são frequentes em períodos chuvosos e tempos mais frios.

Porém, no calor, pode ocorrer um crescimento na quantidade de pacientes já que as altas temperaturas geram chuvas inesperadas e, com elas, a manifestação do mosquito Aedes aegypti.

“A Secretaria de Saúde do Estado mensalmente divulga o boletim epidemiológico das arboviroses onde traz números bastante significativos com uma crescente nas notificações de dengue, chikungunya e zika na Paraíba”, comentou.

Carla Jaciara observa que em um clima tropical, durante os meses novembro e dezembro as temperaturas são mais elevadas, as chuvas são repentinas e podem acumular água. E a água parada se transforma em criadouro para o mosquito se proliferar. Por isso, a profissional orienta que a população esteja sempre alerta para qualquer chuva que ocorra de repente, mesmo durante os dias quentes.

Assim, ela reforça que ao chover é preciso verificar todos os objetos que possam acumular água. “É importante a população estar atenta, não só na sua residência, mas na casa do vizinho, de algum parente ou amigo. Deve-se prestar bastante atenção e olhar os jardins, vasos de planta, quintal, calhas e qualquer meio que venha a acumular água”, aconselha.

O infectologista Fernando Chagas confirmou este fato e ressalta que o verão é caracterizado pelo aumento do calor associado a uma certa quantidade de chuvas por conta da maior temperatura. Esta seria a combinação perfeita para as arboviroses e até a leptospirose ( comum nas chuvas de verão e de inverno).

“As chuvas e o calor, neste caso aumentam os casos de doenças transmitidas por mosquistos como chikungunya, dengue e zika. Mas também, nos casos de leptospirose causada pela urina do rato. Também podem ocorrer mais acidentes com escorpiões”, elencou.

Infecciosa

No caso da Leishmaniose Tegumentar Americana(LTA), a SES-PB detectou que a transmissão ocorre durante todo o ano, tendo maior n ú m e ro d e notificações nos meses de janeiro (24 casos), fevereiro (29 casos), outubro (20 casos), n o v e m b r o (21 casos). O período avaliado compreende os anos de 2019 e 2020.

A leishmaniose é uma doença infecciosa, não contagiosa, causada por protozoário que acomete pele e mucosas. É transmitida pela picada de fêmeas de flebotomíneos infectadas, conhecidos como mosquito palha. Ela apresenta mais pacientes na zona rural, espaço onde estão mais próximos ao habitat natural do mosquito transmissor.

Outras doenças

Outros problemas de saúde são conhecidos no verão, a exemplo da conjuntivite, a herpes labial e genital, a mononucleose infecciosa (doença do beijo) e alguns vírus que causam Gastroenterites, que são as inflamações do intestino e do estômago. Assim, o excesso de exposição ao sol, aglomerações e maior ingestão de bebidas alcoólicas, podem prejudicar quem possui herpes, “estourando” as pequenas bolhas que aparecem ao redor da boca ou nos órgãos sexuais.

“Além do protetor solar, o protetor labial também ajuda bastante. Se você tiver herpes labial há uma chance muito grande do sol, dos raios ultravioleta, estimular que a herpes estoure”, lembra Fernando Chagas.

Já a mononucleose infecciosa(doença do beijo), é causada pelo vírus Epstein -Barr, transmitido pela saliva, geralmente no beijo. Algumas semanas depois aparecem infecção e dor na garganta e aumento dos gânglios. “É muito comum nesse período em que as pessoas vão a muitos shows e festas. A pessoa geralmente pensa que é uma infecção bacteriana e o médico pode acabar receitando antibióticos. É quando aparecem manchas no corpo e a pessoa percebe que não é uma doença bacteriana: é a mononucleose infecciosa”, acrescentou.

Já a conjuntivite é caracterizada por uma inflamação das conjuntivas dos olhos e pode ser por infecção viral ou bacteriana. Sua transmissão se dá por mãos contaminadas, situação que também provoca os quadros de intoxicação alimentar.

Armadilhas para a desidratação

Os idosos e as crianças são os grupos mais atingidos pela desidratação e os casos de insolação na estação mais quente do ano. “Os idosos bebem pouca água e quando se expõem ao sol, desidratam mais rapidamente. Quando se infectam é mais rápido entrarem em desidratação. A pessoa fica amolecida, a boca fica ressecada e a língua seca”, comenta o infectologista Fernando Chagas. Nas crianças, a desidratação gera uma situação urgente já que elas são mais sensíveis ao calor e com elas o cuidado deve ser maior se estiverem vomitando e com diarreia.

Conforme a dermatologista, a insolação é um desequilíbrio no corpo, devido à exposição excessiva ao sol. Pode gerar hipertermia(aumento acentuado de temperatura), calafrios, mal estar, cefaleia, sensação de desmaio, indisposição e náuseas. A pele geralmente fica muito vermelha e com ardor. “Uma exposição solar intensa é um fator de risco para o desenvolvimento de um câncer de pele chamado melanoma”, pontuou Luciana Trindade.

Intoxicação alimentar

Nas praias, as pessoas passam muito tempo no sol e podem comer alimentos guardados em recipientes com temperaturas incorretas. Esta situação pode provocar inflamações intestinais (irritação pela comida estragada) que pode evoluir para uma infecção (microorganismos dentro do corpo). É a chamada intoxicação alimentar.

A intoxicação alimentar associada a desidratação compromete muito a saúde da pessoa. “ Existe também a giárdia, que pode estar presente em alimentos mal conservados ou estragados, ovos principalmente. O consumo de alimentos como ostras se não bem condicionados pode trazer muitos problemas ”, observa Fernando Chagas.

O médico afirmou que apesar de alguns vírus causarem infecções gastrointestinais, a maior parte das chamadas gastroenterites no verão é pelo mau condicionamento de alimentos, mãos sujas e comidas expostas por muito tempo ao calor. Por isso, é essencial uma boa hidratação, uma lavagem adequada das mãos e armazenar os alimentos corretamente para prevenir doenças.

A dermatologista aconselha inclusive que é importante utilizar roupas de algodão, folgadase claras, aumentar a quantidadede banhos (só para se molhar, sem passar sabonete) e enxugar-se bem depois deles. “Outras orientações são: beber bastante água, evitar o sol entre as 9 e as 16h e evitar fica muito tempo com roupa de banho úmida em contato com a pele”, finalizou.

Estação das doenças da pele

A falta de protetor solar, a desidratação pela baixa ingestão de líquidos e o excesso de exposição ao sol trazem outra realidade comum no verão: as doenças dermatológicas.

“Devido ao aumento de temperatura, a pele sua mais, estimulando o crescimento de bactérias e fungos e as doenças relacionadas a eles – as piodermites e micoses respectivamente”, alerta a dermatologista, Luciana Trindade. Ela acrescenta que “as micoses atingem tanto os adultos quanto as crianças. Já as piodermites são mais comuns nas crianças”.

Segundo a médica, as crises da doença chamada dermatite atópica ou dermatite alérgica pioram no verão porque o uor do atópico e o sol são irritativos para a pele e estimulam as crises.

O alergista e imunologista, Edson Petrucci, acrescenta que apesar da alergia ser um problema comum em qualquer época do ano é no calor que ela aparecem mais no corpo do indivíduo. Por isso, a maior quantidade de registros de urticárias (irritações de pele), por exemplo. “Enquanto a alergia respiratória é mais comum no inverno, as alergias de pele são comuns no verão por conta do calor. Podem também surgir alguns casos de problemas de alergia alimentar”, completa o especialista.