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Brejo dos Santos é conhecida como a ‘Terra dos Doutores’

Brejo dos Santos é conhecida como a ‘Terra dos Doutores’

Lauri Ferreira Costa foi o primeiro médico da cidade e dedicou mais de 40 anos de sua vida ao trabalho filantrópico

O município Brejo dos Santos, localizado no Sertão paraibano, na microrregião de Catolé do Rocha; foi batizado com esse nome pelo padre Oriel Fernandes, onde o catolicismo era muito forte.No entanto, a cidade é conhecida como Terra dos Doutores, pois a cultura do povo é voltada para a formação de ensino superior, principalmente, médicos. O primeiro médico, Dr. Lauri Ferreira Costa, fez história em Brejo dos Santos porque atendia à população, gratuitamente, dedicando mais de 40 anos de sua vida ao trabalho filantrópico.

Situado a 415,4 km da capital paraibana, o município possui uma área territorial de 93,857 km² e uma população estimada em 6.479 habitantes, segundo dados do IBGE 2021. Um fato curioso é que a cada 50 habitantes, um morador se torna médico em Brejo dos Santos. De acordo com o médico Francisco Ferreira, existem mais de 100 pessoas, entre médicos e estudantes de medicina, formados na área. Só na minha família tem 20 médicos morando na cidade. Sem falar nos outros cursos como farmácia, odontologia, enfermagem bioquímica, direito. Exportamos muita mão de obra qualificada”.De acordo com o historiador ValdiBarreto, a economia de Brejo dos Santos girava em torno da agricultura, em especial a cultura do algodão, levando a cidade a ter três indústrias de beneficiamento de algodão, sendo a Sabresa a mais importante.

“A decadência do algodão ocorreu, principalmente, por causa do inseto bicudo. Essa praga agrícola acabou provocando uma crise na produção do algodão, levando muitas empresas à falência”, contextualizou.

Atualmente, a economia baseia-se na agricultura familiar, comércio e funcionalismo público municipal, estadual, além de aposentados.

De acordo com o presidente da Câmara Municipal dos Vereadores, Rômulo Paiva, o comércio é o ponto forte no município, representando 60% da arrecadação. Já na agricultura familiar a produção de leite de cabra e hortaliças são destaques.

As festas culturais mais importantes da cidade são: a da emancipação política realizada no dia 3 de junho; o dia do evangélico, comemorado no dia 1º de junho com um culto em praça pública; e a festa da Padroeira da Sagrada Família, com 10 dias de programação religiosa. “Na festa da emancipação política acontece corrida de jegues, corrida de bicicleta, bingo em praça pública e a festa dançante a noite”, complementou o historiador.

Igreja Sagrada Família

A Capela de Brejo dos Santos foi construída entre os anos de 1937 e 1938, sob a administração do padre Joaquim de Assis Ferreira. Em 16 de abril de 2010, a capela deixou de ser subordinada à Paróquia Nossa Senhora dos Remédios, localizada em Catolé do Rocha, transformando- se na Igreja Sagrada Família – considerada a mais bonita da região.

Segundo informações da administração paroquial, alguns momentos importantes na trajetória da igreja foram: a construção da torre da igreja e aquisição do sino; a realização das santas Missões sob a direção do reverendo Frei Damião; além da construção de casa e implantação de cruzeiros, que deu origem ao nome do bairro Alto do Cruzeiro.

A Festa da Padroeira

Sagrada Família é realizada no último final de semana de dezembro na parte externa da igreja, celebrando a festa social e a religiosa. Outro evento católico que merece destaque é o “Louva Cristo”, celebrado no dia 2 de junho, em que a paróquia traz atrações católicas reconhecidas nacionalmente, em shows com grande participação de público. O evento já está na quarta edição.

Povoado começou com a construção de casas às margens do Riacho do Sabão

Segundo informações do IBGE, o povoamento começou entre 1807 e 1817, quando os irmãos Antônio e José da Paixão chegaram ao local com suas famílias. Eles construíram suas residências às margens do Riacho do Sabão, local fértil e propício à agricultura familiar. Em seguida, outras famílias foram se instalando na cidade.

Brejo dos Santos chamava- se Brejo dos Cavalos, pois onde fica o açude público tinha uma área com água abundante e muita vegetação, então os animais da região, principalmente cavalos, vinham saciar a fome e a sede em tempos de seca. Toda vez que faziam alusão ao lugar diziam ‘Lá no Brejo dos Cavalos’. Como a cidade tinha muitos católicos, o padre Oriel Fernandes sugeriu a mudança do nome para Brejo dos Santos.

O fazendeiro José Calixto da Silva, conhecido como Cazuza, foi o primeiro farmacêutico da cidade. Foi ele quem fundou uma feira livre com a participação dos moradores.

Brejo dos Santos era subordinado ao município de Catolé do Rocha até 1963. Sua emancipação política ocorreu no dia 3 de junho de 1965, tendo 57 anos de existência.

De acordo com o historiador Valdi Barreto, o missionário inglês Henry Briauldt foi quem instalou a religião protestante no município em 1928. “O missionário, com a ajuda dos adeptos, começou a construir a igreja evangélica congregacional em 1934, mas um grupo de fiéis católicos destruiu o templo três vezes. A religião protestante sofreu preconceito, no início, mas depois de um período de divergências, as duas lideranças religiosas passaram a conviver respeitosamente”, declarou. Atualmente, a religião protestante possui mais templos religiosos e número de adeptos que o catolicismo.

Fotos: Karlla Raquel Miranda/Divulgação

O médico do povo Lauri

Ferreira nunca será esquecido pelos moradores do município, pois seu legado vai além da contribuição na saúde e do investimento na educação. Doutor Lauri era um médico humanista, caridoso e sensível às causas do seu povo.Por ser tão querido pelos moradores, era chamado de painho.

Em 1989, inaugurou o Hospital São Lucas, construído, em sua maioria, com recursos próprios, mas que recebeu ajuda da população através da doação de dinheiro e materiais de construção.

O hospital serviu à população durante anos, mas se encontra fechado depois da morte de doutor Lauri, pois a Prefeitura de Brejo dos Santos deixou de fazer o repasse à instituição, prejudicando o acesso ao atendimento básico e de urgência. As pessoas precisam se deslocar até Catolé do Rocha para atendimento médico e internação hospitalar. Os moradores de Brejo dos Santos, ainda hoje, lamentam a morte de doutor Lauri, sobretudo, o fechamento do hospital.

“A família não tem condição de manter o hospital aberto, pois a prefeitura deixou de repassar o recurso federal do SUS e a verba municipal. Pra você tomar um soro, medicação contínua ou injeção tem que se deslocar até Catolé do Rocha. Quando um caso era grave, seu Lauri providenciava a transferência para um hospital de referência, seja em Patos, Sousa ou até mesmo João Pessoa” revelou um morador que preferiu não se identificar.

O trabalho humanitário do médico não será esquecido pela população

Entre tantas histórias sobre o doutor Lauri, o irmão e médico, Francisco Ferreira, relembra a única consulta médica cobrada a pessoas de Brejo dos Santos.

“Certa vez, doutor Lauri atendeu a uma criança de Brejo dos Santos, na Maternidade Silva Mariz, em Catolé do Rocha. Quando a secretária cobrou a consulta, o pai pediu um prazo, pois estava sem dinheiro. Alguns dias depois, o pai veio pagá-lo alegando que tinha vendido uma cabrinha. Lauri respondeu: pode ficar com o dinheiro e comprar a sua cabrinha de volta. A partir desse dia, todas as consultas se tornaram gratuitas”, contou.

Para abiomédica Juçara Miranda é impossível falar de Brejo dos Santos sem falar de doutor Lauri. “Seu Lauri foi um exemplo de ser humano, médico e gestor a ser seguido. Só quem teve o prazer de conviver com ele vai entender o que é ser humano de verdade” disse.

Segundo Rômulo Paiva, o médico Lauri Ferreira foi uma inspiração para o povo de Brejo dos Santos. “Ele inspirou muita gente a estudar, a progredir na vida. Era uma pessoa muito inteligente que teve a oportunidade de permanecer em São Paulo, mas preferiu voltar para Brejo dos Santos pois sua missão era cuidar do povo”, comentou.

Trajetória profissional

Formou-se em 1973 pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), mas no último ano do curso fez residência no Hospital Emílio Ribas – maior referência em doenças infecto contagiosas da América Latina. Além disso, passou em primeiro lugar para clínica médica e em segundo lugar para pediatria, em um concurso público federal.

Em 1982 foi prefeito de Brejo dos Santos pela primeira vez, sendo eleito seis vezes ao longo de sua trajetória, e uma vez deputado estadual. Lauri Ferreia da Costa nasceu no dia 9 de maio de 1947 e faleceu, aos 74 anos, vítima da Covid-19 em 12 de junho de 2021.