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Aves amazônicas encolhem e desenvolvem asas mais longas

Aves amazônicas encolhem e desenvolvem asas mais longas

Algumas espécies no Brasil diminuíram quase 10% em 40 anos de medições, dizem pesquisadores

Os pássaros na Amazônia estão se tornando menores, mas criando asas mais longas, descobriu um estudo, cientistas dizem que o aquecimento global é a explicação mais provável.

Vários artigos recentes relataram que as aves estão ficando menores, mas como seus objetos eram aves migratórias, havia muitos fatores de confusão que poderiam explicar os resultados, como caça, uso de pesticidas ou perda de habitat.

O novo estudo foi realizado em aves não migratórias na floresta tropical intocada, mas os resultados foram os mesmos: as aves estão ficando menores e o clima mais quente é a única variável conhecida.

A pesquisa aconteceu no Centro de Biodiversidade da Amazônia próximo a Manaus, na Amazônia brasileira. Desde a década de 1970, os cientistas usam a área remota como local de controle para estudar os efeitos do desmatamento e do desenvolvimento no ecossistema.

Gerações de cientistas capturam e examinam pássaros na área com uma metodologia invariável: eles os capturam em redes de neblina, os pesam e medem suas asas.

Agora, os cientistas que analisaram dados de 77 espécies de pássaros nos últimos 40 anos dizem que quase todas as espécies não migratórias encontradas lá se tornaram menores. Um terço deles também tem asas mais longas.

Os pesquisadores acreditam que o aquecimento global está por trás da mudança morfológica. Desde a década de 1970, a região esquentou 1,65ºC na estação seca e 1,0ºC na estação chuvosa. Além disso, a estação das chuvas tornou-se mais úmida e a estação seca tornou-se mais seca.

No ano passado, Vitek Jirinec, o principal autor do novo estudo, seu conselheiro Philip Stouffer e colegas publicaram um artigo relatando a queda da população em nove das 79 espécies de aves não migratórias nos locais de controle. O clima foi o único fator que mudou ali, pelo que se sabe, e eles concluíram que deve ser a causa.

A maioria das aves no novo artigo, publicado na Science Advances, passa a vida em um raio de alguns quilômetros, mas os pesquisadores descobriram que algumas espécies diminuíram em quase 10% em 40 anos de medições.

Jirinec, do Centro de Pesquisa de Ecologia Integral da Califórnia, disse que a mudança de temperatura ou precipitação – ou ambas – deve ter um papel importante nas descobertas.

Como as mudanças climáticas podem alterar o físico das aves? Uma explicação plausível que os pesquisadores invocam é um princípio de 150 anos chamado regra de Bergmann. Ele afirma que organismos intimamente relacionados são menores quanto mais próximos estão de viver no equador, o que se pensa que é porque corpos maiores retêm melhor o calor.

O artigo de Jirinec sugere que o mesmo processo pode estar em funcionamento na Amazônia: o aumento das temperaturas, que normalmente se espera encontrar mais perto do equador, está causando corpos menores.

Os cientistas dizem que o aumento no comprimento da asa é mais intrigante, mas sugerem que os pássaros agora precisam voar mais longe. Eles não tinham certeza se as mudanças foram causadas por pressões evolutivas – indivíduos com características vantajosas se reproduzindo com mais sucesso – ou se os pássaros estavam mudando de forma à medida que envelheciam para se adaptar ao ambiente alterado.

Jirinec se pergunta se o mesmo padrão está ocorrendo em outro lugar, onde ninguém está realizando a mesma pesquisa. “Quem sabe onde mais isso poderia estar acontecendo?” ele disse.

Mario Cohn-Haft, ornitólogo do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, em Manaus, diz que a pesquisa o preocupa. Mas também lhe dá novos motivos para se maravilhar com a genialidade da natureza: “É impressionante imaginar os pássaros adaptando seu tipo de corpo ao ambiente em mudança”.

Apesar de tais preocupações, Cohn-Haft disse que há espaço para um pouco de otimismo. Talvez, disse ele, com asas mais longas, as espécies agora sedentárias possam começar a migrar para habitats mais adequados. “Talvez eles não sejam passivos, patos sentados que poderíamos ter imaginado”, acrescentou ele.