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Sustentabilidade deve começar com os ricos, não com os pobres

Sustentabilidade deve começar com os ricos, não com os pobres

Ricos devem diminuir consumo

Garantir que todos tenham acesso à alimentação, serviços mínimos e dignidade humana e, ao mesmo tempo, proteger a estabilidade do meio ambiente da Terra, requer uma transformação social drástica, dizem cientistas.

Dado que nosso sistema econômico tem-se comportado de modo predatório, extraído mais recursos do que seria razoável e “distribuído” os benefícios disso de forma extremamente desigual, Crelis Rammelt e uma equipe multi-institucional queriam investigar em detalhes quais seriam os impactos ambientais da eliminação da pobreza.

Eles concluíram que é fundamental fazer mudanças drásticas na sociedade para garantir o acesso universal das pessoas às necessidades básicas sem mais degradação ambiental.

E essas transformações necessárias incluem diminuir o consumo das pessoas mais ricas e garantir maior sustentabilidade geral da água, dos alimentos, da infraestrutura e da energia.

E fazer isso, conclui a equipe, não envolve conversar com os pobres, mas com os ricos.

“Centenas de milhões de pessoas no mundo vivem em extrema pobreza e não têm dinheiro, terra ou acesso a recursos suficientes para viver uma vida digna, muito menos escapar da pobreza,” explica a professora Diana Liverman, da Universidade do Arizona (EUA). “O grande desafio é erradicar a pobreza de forma sustentável e sem aumentar os impactos sobre o meio ambiente. Por outro lado, algumas medidas de proteção ambiental podem ter impactos negativos sobre os pobres.”

Por exemplo, explica a pesquisadora, deixar de lado grandes áreas protegidas de florestas pode prejudicar os povos pobres e indígenas que dependem dessas terras para obter recursos para sua sobrevivência.

Realocação do consumo

Considerando a situação e os dados de 2018, a equipe estimou as pressões adicionais sobre o sistema terrestre se medidas de justiça social fossem tomadas para permitir que o terço mais pobre da humanidade tivesse acesso mínimo a alimentos, água, energia e infraestrutura.

A análise mostra que, se os mais pobres obtivessem acesso adequado aos recursos, as emissões de gases de efeito estufa poderiam aumentar de 15 a 26%. Também pode haver um aumento de 2 a 5% no uso da água e da terra, bem como a poluição por fertilizantes como o fósforo.

No entanto, essas pressões são modestas em comparação com os impactos do consumo no sistema terrestre pelos 5% mais ricos da população global. Portanto, argumentam os pesquisadores, para atingir as metas sociais e ambientais, os consumidores que usam a maior parte dos recursos e ecossistemas da Terra – os mais ricos – são os que devem fazer mudanças.

Assim, uma das principais formas de atingir as metas sociais e ambientais seria o que a equipe chama de “realocação do consumo”.

“Você pode fazer isso de várias maneiras,” disse Rammelt, da Universidade de Amsterdã (Países Baixos). “Por exemplo, você pode implementar um imposto sobre o consumo elevado ou promover tecnologias sustentáveis. Nós podemos mudar como e onde investimos e parar de focar no lucro acima de tudo. Os formuladores de políticas, empresas e indivíduos, todos podem trabalhar para reduzir as pressões sobre o planeta, ao mesmo tempo em que lidam com a justiça considerando as necessidades dos pobres. Na verdade, essa é a base dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável acordados internacionalmente.”

A equipe recomenda que a ênfase deve estar na promoção de transformações sistemáticas que aumentem as oportunidades para aqueles que vivem na pobreza “em vez de pedir aos países pobres do mundo que apertem os cintos ainda mais” ou que continuem pobres.