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Startup de Curitiba “recicla” lixo orgânico, devolve mudas e adubo e conquista clientes

Startup de Curitiba “recicla” lixo orgânico, devolve mudas e adubo e conquista clientes

Cuidar do lixo orgânico tem sido mais do que só separá-lo do reciclável para cerca de 800 residências e 200 empresas de Curitiba e região metropolitana. Essa turma faz assinatura com a Composta+, uma startup, daqui da capital, que vai buscar o lixo orgânico desses clientes em bombonas, faz a compostagem do material e, uma vez por mês, devolve aos assinantes o resultado em forma de um quilo de adubo para cada um e mudas de diversos tipos de plantas, de tomates-cereja à rúcula. Mas pagar para alguém recolher o lixo do mesmo jeito que se paga para ver seriados no Globoplay, Amazon ou Netflix?

Sim. E para os clientes ouvidos pela reportagem, a sensação de promover um impacto positivo para o Planeta Terra, na área do Meio Ambiente, é um grande motor para o relacionamento com a Composta+. “A realidade é que eu me sinto bem entregando o meu lixo para a compostagem. Eu me incomodava muito quando fazia alguma comida, descascava uma cebola, cenoura, e jogava tudo isso no lixinho da pia. Eu precisava dar um jeito nisso”, conta a publicitária Larissa Oksana, 33 anos.

Larissa Oksana. Foto: Gerson Klaina/Tribuna do Paraná

O relacionamento dela com a empresa vem, praticamente, desde o início da ideia. A Composta+ tem três anos. “Principalmente por que, depois que eu comecei a compostar, a minha relação com o lixo mudou. Tudo que ia parar no lixinho da pia, vai no baldinho da Composta+. Até cabelo, pelo de pet. Eu comecei a ver que o lixo, na verdade, é um material importante para a cadeia do meio ambiente. A mudinha, o adubo que eu ganho são representação de uma nova vida que vem pra mim, todo o mês. É uma sensação extraordinária”, explica.

Foto: Gerson Klaina/Tribuna do Paraná

Valor

Um plano de assinatura para recolhimento quinzenal, em uma residência, girava em torno de R$ 49,90, até novembro deste ano. Em dezembro, segundo a empresa, houve reajuste de R$ 10 após três anos com o mesmo preço. Já o valor da assinatura para o recolhimento de lixo orgânico em empresas parte de R$ 120, mas depende do volume gerado e da logística de coleta que será necessária para dar conta do material, se com mais de uma coleta na semana ou semanal. A empresa possui um barracão na Cidade Industrial (CIC), para o transbordo do lixo orgânico e organização do material, e tem a área da compostagem. “O início da compostagem se deu em Colombo e, aos poucos, fomos expandindo esse impacto com a nossa comunidade”, diz Igor Gonçalves Oliveira, 26 anos, diretor de marketing da Composta+.

Há cerca de dois anos, a Pizzaria Baggio, no Água Verde, trabalha com a Composta+ para dar destino ao seu lixo orgânico. Além do comprometimento da pizzaria com a destinação correta do lixo, a decisão da gerência por esse sistema de coleta tem relação com o impacto positivo no meio ambiente. “O destino desse lixo que a gente produz sempre foi uma preocupação da rede. Pra onde vai? O que é feito com ele? A gente produz um volume muito grande e viu que a gente poderia fazer uma separação desse lixo, tanto o orgânico, quanto o reciclável. Foi aí que procuramos a empresa”, explica a gerente Juliana Rodacinski da Luz, 37 anos.

Juliana Rodacinski da Luz. Foto: Gerson Klaina/Tribuna do Paraná

Ainda segundo ela, a busca pelo sistema de compostagem é uma decisão que tem se mostrado acertiva. “A Composta+ me deu todo um apoio inicial. Começa pela conscientização ambiental de todos que trabalham na empresa. Acho que esse é o ponto principal, saber que a empresa se preocupa com isso. Depois, a questão da diminuição de despesas com saco de lixo, pois são usadas as bombonas. E a questão do esforço físico e tempo dos funcionários, que não precisam levar o lixo para fora. As bombonas ficam isoladas e é feita a coleta. Isso foi um ponto bem positivo para nós”, finaliza a Juliana Rodacinski.

História

A inspiração para criar a empresa vem da história da Revolução dos Baldinhos, que ocorreu em Florianópolis (SC), no bairro Monte Cristo. Em 2008, a comunidade carente Chico Mendes, às margens da rodovia de acesso à ilha, passava pelo problema de invasão de ratos. Inclusive, houve duas mortes por leptospirose, doença causada pelo contato com a urina dos roedores. “Eles se mobilizaram e o lixo orgânico passou a ser coletado em bombonas. O lixo era o alimento dos ratos. Sem o lixo, fim do problema. E o outro resultado foi o impacto ambiental positivo, com compostagem, terra produtiva para produzir alimentos e mudança sociocultural”, destaca Oliveira.

Foto: Gerson Klaina/Tribuna do Paraná

O projeto da Revolução dos Baldinhos tem o apoio da ONG Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo (Cepagro), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação de Santa Catarina (Fapesc).

A ideia fez nascer a startup Projeto Compostar, em Brasília (DF). “Por que não replicar essa ideia para uma cidade? Nosso sócio, o Luiz Falcão, fez intercâmbio com a idealizadora de Brasília e criamos aqui o Projeto Compostar Curitiba. O combinado era ganharmos mercado, depois buscar o nosso espaço. Criamos a Composta+ e é o que vem acontecendo, estamos crescendo e, no futuro, pretendemos ampliar os locais de atendimento. Somos uma startup, pelo pouco tempo de vida, mas já nos consideramos uma empresa de impacto”, conta Oliveira.

Igor Oliveira. Foto: Gerson Klaina/Tribuna do Paraná

Resultado

Luiz Falcão, 27 anos, diretor de operações da Composta+, estima que a empresa já tenha sido responsável pelo plantio de 11 mil árvores. “Se projetarmos o tanto de lixo orgânico que já coletamos, cerca de 1,6 mil toneladas em três anos, seria algo como isso. Como se 11 mil árvores estivessem sequestrando o carbono equivalente do ar”, diz.

Tem também a conta da empresa de que 1 milhão de sacolas plásticas deixaram de ser utilizadas em Curitiba, neste período de três anos, com os clientes usando sacolas compostáveis. “Além de, neste período, já termos entregado cerca de 20 mil mudas para os clientes. Colaborando, com isso, para que as pessoas retomem o contato com as plantas e a terra, cuidando do planeta”, aponta Falcão.

Luiz Falcão. Foto: Gerson Klaina/Tribuna do Paraná

“Há outras empresas que realizam a coleta de lixo orgânico em Curitiba, que fazem compostagem. Mas somos a única que trabalha o ciclo do lixo dessa forma, com as bombonas e baldinhos e com o incentivo para que o cliente aprenda a importância da separação do lixo”, finaliza Igor Gonçalves.

Mais informações podem ser obtidas no site da empresa.

Foto: Gerson Klaina/Tribuna do Paraná