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Situação das minas da Braskem, em Maceió, resgata memórias de outras tragédias ocorridas no Brasil

Situação das minas da Braskem, em Maceió, resgata memórias de outras tragédias ocorridas no Brasil

Temos que ter uma postura proativa em relação a esses problemas e não uma reativa”, afirma Pedro Luiz Côrtes

Os recentes impactos da mineração de sal-gema em Maceió pela empresa Braskem – que colocou áreas sob risco de desabamentos – resgatam as memórias das tragédias de Mariana e Brumadinho e levantam a dúvida: é possível conciliar o desenvolvimento econômico no setor mineral com a qualidade de vida da sociedade?

Pedro Luiz Côrtes, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, avalia o cenário atual, relacionando-o com o passado para responder esse questionamento.

Mineração sustentável

De acordo com o especialista, é possível desenvolver a mineração sustentável dentro de determinados parâmetros, mas algumas questões contribuíram para o surgimento de estigmas na sociedade. Dentre estes, ele destaca o garimpo ilegal que foi disseminado na Amazônia e está associado ao narcotráfico e ao desmatamento e comércio ilegal de madeira — que são controlados por facções criminosas nacionais e internacionais.

Outra questão pontuada é o fato de que as empresas, muitas vezes, negligenciam a segurança, como aconteceu com Mariana, Brumadinho e está acontecendo na operação da Braskem. “É aquela questão, se não acontecer um problema ontem, não aconteceu hoje, amanhã também não vai acontecer, até o dia que acontece”, comenta.

Côrtes afirma que a mineração sempre vai causar algum impacto ambiental, visto que são retirados recursos naturais diretamente da natureza e isso envolve a modificação da paisagem e o tratamento de rejeitos. Nesse sentido, ele cita o Núcleo de Pesquisa para Pequena Mineração Responsável (NAP) da Escola Politécnica (Poli) da USP, que trata de estudos sobre mineração sustentável.

Nem toda empresa considera o impacto que irá gerar nas comunidades próximas às áreas de atuação – Foto: José Cruz/Agência Brasil

Entretanto, a operação pode ser sustentável caso seja considerada a questão do licenciamento ambiental, da gestão de resíduos — que antes eram despejados nas barragens e agora que foram proibidas de operar necessitam de manutenção até que a situação esteja estabilizada —, da tentativa de conservação de biodiversidade e do uso eficiente da água. Além disso, a eficiência energética deve ser realizada para que reduza a emissão de gases de efeito estufa.

“O monitoramento ambiental constante, para verificar possíveis impactos que estejam ocorrendo ao longo do curso de vida dessas minas, e também uma atenção especial à cadeia de suprimentos, ou seja, remunerar toda a cadeia adequadamente, para que sigam as normas de proteção ambiental”, complementa.

O professor destaca que a população também deve contribuir, por meio da participação ativa nos processos de reciclagem, para que haja o equilíbrio entre mineração e sustentabilidade e, dessa forma, reduzir a necessidade de ida à natureza para retirada de recursos naturais. Como  exemplo, ele cita a quantidade de alumínio reciclado no Brasil em 2022, praticamente igual ao de alumínio utilizado nos processos industriais.

Impactos sociais

Côrtes afirma que nem toda empresa considera o impacto que irá gerar nas comunidades próximas às áreas de atuação, mas que existe uma tendência atual para o “licenciamento social para minerar” — não é oficial, mas demonstra uma certa preocupação por parte dos empresários. Assim, as companhias, antes de se instalarem no local, realizam uma consulta popular para analisar os anseios da comunidade e tentam compatibilizar para reduzir o impacto social.

A população local é prejudicada por conta do aumento do custo de vida da região, que sobe a partir da instalação da empresa e isso produz riquezas governamentais, isto é, não beneficia os moradores: “Quando começa a exploração, independentemente da companhia que o fizer, vai trazer mão de obra qualificada de outra área onde já opera. Serão poucas as pessoas locais que serão diretamente beneficiadas, ao contrário do que alguns políticos dizem”.

Conforme o professor, esse dinheiro é utilizado para cobrir déficit público, ao contrário do que é feito na Noruega, onde existe um fundo, sustentado com os recursos advindos da exploração do petróleo, que subsidia a Previdência Social do País.