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Science publica alerta maranhense sobre papel dos manguezais brasileiros nas mudanças climáticas

Science publica alerta maranhense sobre papel dos manguezais brasileiros nas mudanças climáticas

20 cientistas apontam que a preservação dos manguezais pode ser ainda mais urgente, já que esse ecossistema ‘sequestra’ até 10 vezes mais carbono da atmosfera do que as florestas.

Um grupo de cientistas brasileiros teve uma publicação em uma das principais revistas científicas do mundo: A Science. Na carta, divulgada no dia 17 de março, 20 cientistas, incluindo vários do Maranhão, alertam para a necessidade de preservação dos manguezais do país no combate às mudanças climáticas.

O estudo relembra que o Brasil é o segundo país com maior área de manguezais no mundo, atrás apenas da Indonésia. O país também possui a maior área contínua de manguezais, que fica entre os litorais do Pará e do Maranhão. O ecossistema serve como segurança alimentar para peixes e aves, e ainda como um ‘sequestrador’ natural de gás carbônico.

“Nossa publicação tem por intuito chamar a atenção da comunidade internacional sobre a expressiva capacidade que os manguezais brasileiros possuem de sequestrar e armazenar CO2 (principal gás de efeito estufa de origem das atividades humanas). Esse armazenamento pode ser tanto na biomassa da vegetação, como em sua “lama” (o chamado solo indiscriminado de mangue)”, explica Denilson Bezerra, que é pesquisador do Departamento de Oceanografia e Limnologia da UFMA.

Trilha vai do manguezal da Guaxindiba ao Riacho Doce, na divisa com a Bahia — Foto: Divulgação/ Secom

Trilha vai do manguezal da Guaxindiba ao Riacho Doce, na divisa com a Bahia — Foto: Divulgação/ Secom

Cuidar das florestas, mas com foco nos manguezais

Segundo os cientistas, só os manguezais brasileiros coletam de 3% a 8% de todo carbono do planeta. Como solução, o grupo propõe que seja criado um programa governamental de monitoramento, com o uso de força policial, para evitar desmatamentos em áreas de mangues.

“Incluir os manguezais brasileiros na estratégia nacional de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (REDD) pode se tornar o Brasil numa referência internacional no combate às mudanças climáticas. Também defendemos em nossa publicação, que o governo brasileiro crie e implemente um programa oficial de monitoramento contínuo de alterações de áreas de manguezais (como ocorre com a Amazônia e Cerrado, por exemplo), o que atualmente não existe”, afirma Denilson Bezerra.

Acúmulo de lixo prejudica áreas de manguezais em São Luís — Foto: Reprodução/TV Mirante

Acúmulo de lixo prejudica áreas de manguezais em São Luís — Foto: Reprodução/TV Mirante

A carta também reforça o alerta de que novas mudanças na legislação podem reduzir as proteções desse ecossistema, como as resoluções de 2020, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que restringiam o desmatamento e a ocupação em áreas de preservação ambiental de vegetação nativa, como restingas e manguezais. Em 2021, as resoluções foram derrubadas após uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que julgou as normas inconstitucionais.

“Já se sabia que manguezais eram um dos mais importantes ecossistemas do mundo como fixadores de carbono. No nosso trabalho, o que podemos destacar é a grande relevância dos manguezais brasileiros nesse estoque de carbono e que sua conservação, evitar o desmatamento, pode representar pra mitigar os efeitos das mudanças climáticas, como protetores da costa”, afirmou a Oceanógrafa Flávia Mochel.

“Nesse caso, particularmente, gostaria de salientar a importância do trabalho de recuperação de manguezais degradados para a recomposição desse ecossistema em áreas que foram desmatadas. A recuperação do ambiente com o plantio de mudas e seu crescimento fixa mais carbono . Esse papel “na conta final” do estoque de carbono é fundamental”, conclui a pesquisadora.

A pesquisa conta participação de todas as universidades maranhenses (UFMA, UEMA, UEMASul, UniCEUMA e IFMA), além de instituições de pesquisa fora do estado como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e o Centro de Monitoramento de Pesquisa e Alerta a Desastres Naturais (CEMADEN). São eles:

  • Denilson da S. Bezerra, da Universidade Federal do Maranhão
  • Adriano de Lima Santos, da Universidade Federal do Maranhão
  • Janaina Santos Bezerra, da Universidade Federal do Maranhão
  • Silvana Amaral, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
  • Milton Kampel, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
  • Liana O. Anderson, do Centro de Monitoramento e Alerta a Desastres Naturais
  • Flávia Rebelo Mochel, da Universidade Federal do Maranhão
  • Jorge Luiz Silva Nunes, da Universidade Federal do Maranhão
  • Naíla Arraes de Araujo, da Universidade Federal do Maranhão
  • Larissa Nascimento Barreto, da Universidade Federal do Maranhão
  • Maria do S. S. Pinheiro, da Universidade Federal do Maranhão
  • Marcio José Celeri, da Universidade Federal do Maranhão
  • Fabrício B. Silva, da Universidade Ceuma
  • Alexsandro Mendonça Viegas, da Escola de Governo do Maranhão
  • Stella Manes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro
  • Taissa C. S. Rodrigues, da Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão
  • Josué C. Viegas, da Universidade de Coimbra
  • Ulisses D. V. Souza, do Colégio Universitário da Universidade Federal do Maranhão
  • André L. S. Santos, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do MA
  • Celso H.L. Silva-Junior, da Universidade Estadual do Maranhão

Segundo os cientistas, o próximo passo é a finalização da pesquisa do discente Adriano de Lima Santos (mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente/PRODEMA da UFMA), intitulada de “O Potencial dos Manguezais da Zona Costeira do Maranhão para Mitigar as Mudanças Climáticas”, no qual estão sendo gerados dados inéditos da capacidade de sequestro e alterações nas áreas dos manguezais do Maranhão. A previsão de publicação é julho de 2022.