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Restos de peixes, farinha e lixo podem gerar energia para 80 mil casas no Amazonas

Restos de peixes, farinha e lixo podem gerar energia para 80 mil casas no Amazonas

O Amazonas tem potencial para gerar 77 milhões de metros cúbicos de biogás por ano, o suficiente para produzir 161 GWh (Gigawatt-hora) de energia elétrica e abastecer 80 mil residências beneficiando 348 mil pessoas, mais que as populações de Parintins, Itacoatiara e Manacapuru juntas.

A matéria-prima é a decomposição de resíduos sólidos urbanos, do abate de peixes e da produção da farinha de mandioca. É o que mostra o estudo “Biogás: energia limpa para a Amazônia”, do Instituto Escolhas, em parceria com o CIBiogás-ER (Centro Internacional de Energias Renováveis).

A maior parte do biogás pode ser obtida pelo lixo urbano. Segundo a pesquisa, só com o lixo é possível ter 75 milhões de metros cúbicos de biogás por ano e gerar 156 GWh de eletricidade no período, o suficiente para abastecer 78 mil residências.

O estudo informa que a metade desse potencial está em Manaus, que tem um aterro sanitário que aproveita parte do biogás como energia em uma usina de 3 MW (megawatt) de potência instalada.

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Gerador de energia no aterro sanitário em Manaus (Foto: Alex Pazuello/Semcom)

O gerador de energia elétrica a partir do biogás foi inaugurado em 2019. O potencial elétrico estimado, divulgado pela Prefeitura de Manaus na ocasião, era de 10 MW, e a energia, usada para funcionamento do aterro, gerava um excedente de 120 kilowatts/hora de energia limpa.

De acordo com a prefeitura, na época corriam pelas tubulações da usina aproximadamente 6 mil metros cúbicos de gás por hora. Para geração eram usados apenas 150 metros cúbicos por hora. Segundo técnicos do projeto, o potencial da usina seria suficiente para abastecer um quarto da estrutura predial de toda a Prefeitura de Manaus.

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O Amazonas tem o maior potencial para gerar biogás na Amazônia Legal usando restos do abate de peixes (Foto: Altemar Alcantara/Semcom)

A pesquisa traz o potencial para essa matriz energética a partir dos resíduos da piscicultura e da produção de farinha de mandioca, pois são consideradas atividades importantes da bioeconomia da Amazônia.

O Amazonas é o que tem o maior potencial para gerar biogás dentre os estados da Amazônia Legal usando restos do abate de peixes. São cerca de 2 milhões de metros cúbicos de biogás por ano, que podem gerar 4 GWh de eletricidade para os frigoríficos. Manacapuru (a 71 quilômetros de Manaus) se destaca, sendo o município com a maior capacidade em toda a Amazônia: 854 mil metros cúbicos por ano.

Larissa Rodrigues, gerente de Projetos do Instituto Escolhas, afirma que o biogás dos restos de peixes pode atender mais de 1,9 mil residências. “Uma das vantagens da geração de energia nos próprios frigoríficos é que ela permite uma redução de custos ao negócio, sendo, portanto, um incentivo econômico para alavancar essa atividade da bioeconomia da Amazônia, além de garantir segurança energética para esses estabelecimentos”, pontua.

Larissa Rodrigues Instituto Escolhas
Larissa Rodrigues afirma que o Escolhas já fez reuniões com a Suframa para apresentar o estudo (Foto: Leonardo Rodrigues/Arquivo Escolhas)

O Amazonas é o segundo estado da Amazônia em potencial de biogás a partir da mandioca. São 50 mil casas de farinha capazes de gerar 539 mil metros cúbicos por ano, com destaque para os municípios de Parintins, Tefé e Coari, representando 15% desse volume. É possível gerar 1,1 GWh de energia elétrica para os negócios ou atender 558 casas no entorno ou ainda substituir o equivalente a mais de 16 mil botijões de cozinha para alimentar os fornos.

Produção de resíduos
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Coleta de lixo em comunidades ribeirinhas em Manaus (Foto: Altemar Alcantara/Semcom)

Larissa Rodrigues explica que para chegar ao potencial de produção de biogás no Amazonas foram considerados que no estado são depositados todos os anos cerca de 1,2 milhões de toneladas de lixo em aterros sanitários, aterros controlados e lixões.

“Também foi considerado que são produzidas cerca de 10 mil toneladas por ano de resíduos de peixes nos frigoríficos (a partir do abate de aproximadamente 18 mil toneladas de pescado). E que são gerados cerca de 147 mil metros cúbicos por ano de efluentes (resíduos) na fabricação de farinha de mandioca (a partir da fabricação de cerca de 98 mil toneladas de farinha por ano)”, afirma.

A partir da degradação dessa matéria orgânica o biogás é gerado. “Os resíduos são armazenados em biodigestores e ali, naturalmente, é formado o biogás. Esse biogás pode então ser utilizado tanto para fornos, substituindo botijões de gás de cozinha, por exemplo, ou queimado como combustível e utilizado em moto-geradores que geram energia elétrica”, explica.

Vantagens

A gerente de Projetos do Instituto Escolhas diz que o valor dos investimentos depende do porte de cada projeto. “A vantagem é que o biogás pode ser utilizado para tornar atrativos investimentos que já são necessários, como por exemplo, a conversão de lixões a céu aberto e aterros controlados em aterros sanitários. Os lixões a céu aberto e os aterros controlados já não deveriam mais existir, de acordo com o Novo Marco Legal do Saneamento Básico”, afirma.

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Diminuição na conta de luz é proporcional à quantidade de energia gerada pelo biogás (Foto: Marcelo Camargo/ABr)

Os gastos necessários na conversão dessas unidades para aterros sanitários já podem incluir a geração de energia a partir do biogás, e os custos com economia de energia são um incentivo. Toda a energia produzida pode ser usada diretamente pelo consumidor final.

“Ou seja, o consumidor, seja ele um município (instalações públicas, como escolas e hospitais), um negócio, ou uma residência, utiliza sua própria energia do biogás e com isso deixa de consumir energia da distribuidora, tendo uma diminuição na sua conta de luz proporcional à quantidade de energia que está gerando”, diz Larissa.

A gerente de Projetos elenca como outro ponto positivo o fato de o biogás ser uma fonte de energia com flexibilidade em termos de estrutura, considerada de operação e manutenção simples.

“Para armazenar os resíduos e coletar o biogás são utilizados biodigestores, e o tamanho dessas estruturas pode ser adaptada para a necessidade e volume de resíduos disponíveis. É possível ter biodigestores coletando resíduos de um bairro ou município, ou mesmo biodigestores domésticos, de pequeno porte, que podem ser implantados em pequenos negócios”, explica.

Quanto ao pessoal, segundo a gerente de Projetos, é possível realizar treinamentos locais para formar mão-de-obra para se dedicar a instalação desses equipamentos e treinar os próprios usuários para que operem as instalações.

Potencial da Amazônia
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Estados da Amazônia Legal podem produzir biogás para atender 2,2 milhões de pessoas (Imagem: Instituto Escolhas)

O estudo considera o potencial para essa matriz energética de todos os estados da Amazônia Legal: Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. São 537 milhões de metros cúbicos de biogás, que podem ser produzidos anualmente em toda a região, podendo gerar 1,1 TWh (Terawatt-hora) de eletricidade. É o suficiente para atender 556 mil residências e beneficiar 2,2 milhões de pessoas em toda a Amazônia.

Com toda essa energia seria possível atender 38% da eletricidade que hoje é consumida pelos sistemas isolados – presentes no Acre, Amazonas, Amapá, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Roraima, além da ilha de Fernando de Noronha – e não possuem conexão com a rede elétrica interligada do Brasil.

“Esses sistemas geram energia local por usinas que queimam combustíveis fósseis, como o óleo diesel, e que, além de serem poluentes, são caras. Os custos são de cerca de R$ 7,6 bilhões por ano, pagos por todos os brasileiros nas contas de luz”, informa trecho da pesquisa.