O silêncio não é mudo
A magia do silêncio muita gente já esqueceu. Nem se lembra quanta coisa ele tem a nos dizer.
Certa vez, andava eu pelas trilhas da falésia, rodeado de beleza e um verdume encantador. Ao passar num arvoredo, meu amigo acenou pra que eu ali voltasse.
Sem saber o que seria, fui lá perto indagar. Ao que ele respondeu: “Ouça só essa magia. Que beleza de silêncio”.
Ali permanecemos, por um tempo a observar o encanto da quietude que pairava ecoando desde a praia até nós.
Da brandura do momento veio a admiração por ainda existir nesse mundo conturbado alguém que aprecie um instante de remanso.
Mas é bom que se entenda que o silêncio não é mudo. Que fala e farfalha, marulha e assobia.
Passarinho e ventania, mar que rodopia, cascata que solfeja cantos d’água como a chuva, é tudo e muito mais que o sossego do acalanto para nós confidencia.
Há silêncio tão suave como a doce melodia da biqueira que deságua no beiral de seu quintal? Há segredo mais notório, que de forma tão sutil, escutamos na canção de um formoso curió lá no alto de uma árvore numa tarde que se finda?
E no auge da alvorada quando o sol no mar desponta vêm aqueles bem-te-vis entoando saudação a um dia que pra eles é igual à eternidade?
E aquela alegria dos pardais quando resolvem se aninhar numa mangueira, tão logo observam que a noite se aconchega?
Chuva forte, passarada, maré alta e cachoeira são bastante ruidosas.
Mesmo assim, essa “zoada” não destoa da harmonia que domina a Natureza, pois ajudam ao silêncio refletir sua beleza.
Na verdade, é lamentável Ninguém mais quer se calar, pois tem medo de ouvir o que diz a consciência quando encontra a solidão.
Ninguém ousa refletir sobre aquilo que nos fala a mudez de um luar, nem o canto de um rio no destino de ser mar.
Sem nenhuma pretensão, totalmente emudecidos deixam-nos gratuitamente a mais sábia das mensagens Que é possível encontrar em si mesmo e no silêncio a razão de ser feliz.