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Problemas de circulação, fraqueza muscular e depressão: os riscos de ficar muito tempo sentado

Problemas de circulação, fraqueza muscular e depressão: os riscos de ficar muito tempo sentado

Hábito que se tornou muito comum pelos modelos de trabalho ou pelas opções de lazer com telas pode causar diferentes efeitos nocivos à saúde.

Dor nas costas, fraqueza, ganho de peso e ansiedade. Esses problemas podem parecer não ter nenhuma relação entre si, mas, acredite, podem ter a mesma causa: ficar muito tempo sentado.

Um hábito que se tornou muito comum, em especial com o crescimento do número de atividades que podem ser realizadas em escritórios e de opções de lazer que se utilizam de telas, a imobilidade prolongada pode causar efeitos nocivos à saúde.

O reconhecimento do excesso de tempo sentado como potencialmente prejudicial para a saúde começou a ganhar atenção a partir das últimas décadas do século XX, com estudos e pesquisas destacando as consequências negativas desse comportamento sedentário.

Os principais problemas ocasionados por longos períodos do dia sentado podem ser divididos em três grupos:

  1. Musculoesqueléticos
  2. Cardiovasculares
  3. Neuropsiquiátricos ou emocionais

(Esta reportagem faz parte de uma série do g1 sobre os impactos na saúde ao ficar muito tempo sentado, e que traz também uma calculadora para descobrir o efeito na sua expectativa de vida; e mostra o que fazer para minimizar os riscos.)

1. Musculoesqueléticos

💪 Com os longos períodos sentados, a estrutura musculoesquelética do corpo tende a se enfraquecer e, aos poucos, a perder algumas importantes funções, como força, resistência, habilidade e equilíbrio.

Luiz Riani, médico do esporte e professor da Escola de Educação Física e Esporte da USP (EEFE), explica que só fortalecemos os ossos e músculos quando o corpo é exposto a algum tipo de impacto. Ao passar muito tempo sentada, a pessoa tende a ter longos períodos de imobilidade, o que contribui para o enfraquecimento dessas estruturas.

Por isso, aqueles que passam muito tempo sentados têm mais chance de ter problemas como:

  • Osteoporose – doença caracterizada pela perda da massa óssea, tornando os ossos enfraquecidos e predispostos a fratura;
  • Aumento no risco de quedas e fraturas – com o enfraquecimento dos ossos e dos músculos por conta dos períodos de inatividade, a pessoa fica mais suscetível a quedas e, consequentemente, fraturas;
  • Dores e fraqueza muscular – uma vez que os músculos não são estimulados, pequenos esforços podem causar algum tipo de dor ou desconforto.

2. Cardiovasculares

A imobilidade prolongada, provocada por longos períodos sentados, pode afetar negativamente a circulação sanguínea, contribuindo para a piora das condições vasculares.

Com isso, há uma chance maior de desenvolvimento de problemas como:

  • Varizes

Caracterizadas por serem veias dilatadas e tortuosas, muitas vezes visíveis sob a pele, o surgimento das varizes é facilitado quando há problemas de circulação.

O sedentarismo contribui para a estagnação do sangue nas extremidades inferiores, aumentando a pressão nas veias e favorecendo o desenvolvimento das varizes.

  • Trombose venosa profunda

No caso da trombose venosa profunda, o risco está associado à diminuição do fluxo sanguíneo causado pelo tempo prolongado de imobilidade. A posição sentada por longos períodos pode levar à formação de coágulos nas pernas e contribuir para o desenvolvimento de uma trombose.

A trombose venosa profunda é uma condição séria, que pode resultar em complicações graves como a embolia pulmonar.
— Armando Lobato, presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular Nacional
  • Insuficiência cardíaca e Acidente Vascular Cerebral (AVC)

Um estudo publicado na revista científica Jama Cardiology, em 2022, mostrou que pessoas que ficam sentadas durante mais de oito horas por dia têm uma probabilidade até 20% maior de sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) ou infarto.

Os resultados também apontaram que aqueles que passam longos períodos sentados tiveram 49% mais chance de desenvolver insuficiência cardíaca.

Com o sedentarismo, há uma diminuição do fluxo sanguíneo pelo corpo, causando prejuízos à circulação do sangue. Assim, a pessoa fica mais propensa a entupimento de vasos, como no caso do AVC, e do enfraquecimento do coração, com um bombeamento insuficiente de sangue para o corpo.

3. Neuropsiquiátricos ou emocionais

Além dos problemas físicos, principalmente os já citados cardiovasculares e musculoesqueléticos, passar muito tempo sentado pode também contribuir para o desenvolvimento de doenças neuropsiquiátricas.

Se você tem dor, você começa a gerar um senso de incapacidade, uma sensação de perda de autonomia.
— Luiz Riani, professor da Escola de Educação Física e Esporte da USP (EEFE)

À medida que as dores e fragilidades causadas pelo excesso de tempo sentado vão limitando os movimentos e a realização de determinadas atividades, há uma perda de função física do corpo.

Além da perda de autonomia, a sensação de isolamento também é natural das atividades realizadas durante o tempo sentado.

“Essa condição de ficar muito tempo sentado durante o dia é imposta por uma série de fatores estruturais da nossa sociedade, desde condições de trabalho ou os meios de transporte utilizados. Além disso, muitas atividades de lazer acabam sendo em frente à tela”, analisa Leandro Rezende, professor do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Outro estudo publicado na revista científica JAMA Cardiology, em 2023, observou o aumento da incidência de casos de demência em pessoas que passam muito tempo sentado. A pesquisa mostra que, para aqueles que passam 12 horas nessa posição, há um aumento de 63% na chance de desenvolver demência.

O sedentarismo também vem sendo associado a alta no número de pessoas com Alzheimer, depressão e ansiedade.