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Pesquisadores estudam o uso turístico dos recifes de corais do Seixas

Pesquisadores estudam o uso turístico dos recifes de corais do Seixas

Em um sábado de verão, anterior à pandemia por Covid-19, pesquisadores contaram a presença de cerca de 400 pessoas em visita à principal piscina natural da área costeira do Seixas, em João Pessoa. Nessa temporada de verão 2022, a cada dia de maré favorável para o mergulho, entre oito e doze catamarãs, lotados por turistas, ancoram próximo aos corais – cada catamarã tem capacidade média entre 100 e 180 passageiros –, além das embarcações locais e as motos aquáticas.

Essa grande movimentação preocupa os biólogos marinhos pelas ameaças de degradação aos corais e esta foi uma das motivações para a elaboração do projeto “Coral Eu Cuido”, pelo Laboratório de Ambientes Recifais e Biotecnologia com Microalgas (Larbim) / Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Em 2021 o projeto passou pela experiência do Camp Oceano, uma iniciativa da Fundação Grupo Boticário, em parceria com a Fundação Araucária; foi selecionado e receberá apoio financeiro para execução, iniciando nesta temporada de verão 2022.

O fluxo de visitantes nas piscinas naturais do Seixas cresce a cada ano, acendendo uma luz vermelha para os biólogos marinhos, temerosos pelo desgaste do ambiente natural, devido ao uso intenso por turistas. Quanto mais pessoas, maior a dificuldade de controlar a conduta de uso do local, tanto com relação aos turistas quanto aos serviços prestados por empreendedores de turismo náutico.

Os recifes de corais marinhos são ambientes frágeis, com uma diversidade de vegetais, animais e sedimentos rochosos interagindo pela sobrevivência. É onde os peixes, caranguejos, moluscos encontram alimento e segurança para a fase inicial da vida. Há espécies endêmicas, que só existem nessa área da costa brasileira do Atlântico. Sendo base da cadeia alimentar, as consequências da degradação dos recifes de corais terão reflexos na produção de alimentos para as pessoas.

Conscientes desse valor, os pesquisadores do Larbim/UFPB, que está associado ao Laboratório de Estudos Ambientais e atende aos acadêmicos do curso de Ecologia da UFPB, estruturaram o projeto “Coral Eu Cuido”, que oferece um modelo de gestão integrada e participativa que visa a preservação dos recifes costeiros da Paraíba.

O projeto foi desenvolvido há cerca de três anos e terá sua continuidade garantida pelos próximos 30 meses com financiamento por meio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.

A coordenadora do projeto, professora Cristiane da Costa Sassi, da UFPB, explica que serão realizadas ações para promover um turismo responsável e sustentável, “com ênfase no monitoramento da saúde do ecossistema e engajamento permanente dos usuários em medidas de conservação”.

O monitoramento dos corais é essencial para compreender a evolução da saúde do ambiente marinho. Pois, além das ameaças por causa da presença massiva de turistas, o oceano vem apresentando alterações na temperatura da água, com períodos em que a superfície da água está mais quente, o que também prejudica a saúde dos corais.

“Esse conjunto de fatores pesquisados por especialistas precisa se tornar conhecido da população para que ela entenda como o ecossistema funciona e, assim, ajude a preservar”, ressalta a professora. Nesse sentido, o projeto desenvolverá campanhas de sensibilização ambiental para promover o engajamento permanente dos usuários das piscinas naturais em medidas de conservação.

Saúde dos corais monitorada

A tecnologia digital é uma das ferramentas essenciais para alcançar a população e possibilitar o monitoramento ecossistema. A proposta do projeto “Coral Eu Cuido” é monitorar a saúde dos recifes do Seixas por meio de inspeções de campo e pelo levantamento de conflitos sociais de usos e os impactos causados por esses usos. Assim, será possível estimar a capacidade desses recifes para receber turistas, sem prejuízo ambiental. Os dados serão inseridos em plataforma interativa com participação de agentes de turismo, pescadores e visitantes.

Para motivar a participação das pessoas que trabalham no setor e fortalecer o engajamento para a conservação, monitores e guias turísticos serão treinados quanto ao uso da plataforma e para a disseminação das condutas conscientes entre os agentes de turismo e visitantes dos recifes. Serão realizadas campanhas educativas junto às embarcações; será sugerido o uso de sinalizações com instruções educativas relacionadas a saúde dos recifes e sobre condutas conscientes.

A proposta ainda prevê um trabalho articulado junto aos gestores ambientais, empresas de turismo e associações de moradores e pescadores, e visitantes da área, a fim de delimitar o zoneamento da área, os pontos de instalação das boias sinalizadores móveis e outros equipamentos para organização do fluxo de ocupação.

Dessa forma, pretende-se viabilizar o ordenamento das atividades turísticas nos recifes do Seixas. Além disso, os dados serão disponibilizados para elaboração do plano de manejo da APA Naufrágio Queimado, onde os recifes do Seixas estão inseridos.

Selecionado entre 138 propostas

Na equipe do projeto “Coral Eu Cuido” estão profissionais das áreas de biologia, ecologia, gestão de meio ambiente, turismo, psicopedagodia, jornalismo, geografia e mídia digital, vinculados à UFPB, ou colaboradores pelo Instituto InPact Pesquisa e Ação. Eles participaram do Camp Oceano, “uma iniciativa da Fundação Boticário de capacitação que busca o desenvolvimento de soluções práticas para alguns dos desafios costeiros e marinhos, de forma multidisciplinar e colaborativa”.

A equipe paraibana apresentou a proposta e frequentou uma série de capacitações on-line com palestras e workshops para desenvolver, aprimorar e aumentar o impacto da solução proposta. o caso do projeto da Paraíba, o desafio é fomentar o turismo responsável. Os outros dois desafios foram reduzir a poluição no oceano e incidentes ambientais; e mitigar os efeitos da crise climática nas cidades costeiras.

O Camp Oceano

A edição da teia de soluções, promovida pela Fundação Grupo Boticário – teve 138 propostas inscritas de solução, envolvendo cerca de 900 participantes e registrou uma maioria de mulheres participantes (54%). “As 40 melhores soluções apresentadas avançaram para um evento on-line de três dias de imersão, capacitações e conexões para aprimorarem suas ideias. Na sequência, 25 soluções seguiram para uma etapa de mentoria e detalhamento para aprofundarem as propostas”.

Ao final, 19 propostas foram selecionadas para os “desafios do oceano” e os projetos contarão com o apoio financeiro total de R$ 3,7 milhões da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e da Fundação Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Paraná.