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Pesquisadores descobrem raras piscinas de salmoura no Mar Vermelho

Pesquisadores descobrem raras piscinas de salmoura no Mar Vermelho

Considerados entre os ambientes mais extremos do planeta, lagos subaquáticos hipersalinos e sem oxigênio impressionam pela existência de vida microbiana

As piscinas de salmoura subaquáticas são alguns dos ambientes mais extremos da Terra, com alta salinidade e falta de oxigênio. Em estudo publicado no último dia 27 de junho no periódico Communications Earth & Environment, pesquisadores relatam a descoberta de algumas dessas piscinas no Golfo de Aqaba, no Mar Vermelho.

Trata-se da primeira vez que piscinas de salmoura são descobertas nesse golfo. Apesar de serem extremamente salgados, esses lagos subaquáticos estão repletos de vida microbiana, guardando segredos sobre como os oceanos se formaram há milhões de anos e até mesmo sobre a possibilidade de vida em outros planetas.

Pesquisadores da Escola Rosenstiel de Ciências Marinhas e Atmosféricas da Universidade de Miami (UM), nos Estados Unidos, descobriram as raras piscinas durante uma expedição em parceria com a iniciativa de exploração oceânica OceanX. De acordo com a equipe, os lagos salgados são formados pelo acúmulo de soluções hipersalinas nas depressões do fundo do mar.

Comunidade microbiana em piscina de salmoura alimentada pela margem leste do Golfo de Aqaba (Foto: Sam J. Purkis et.al )
Equipamento é submerso a uma profundidade de 1770 m na interface salmoura-água (Foto: Sam J. Purkis et.al )

A equipe investigou as águas do Golfo de Aqaba a cerca de 1,7 mil metros abaixo da superfície, usando um veículo subaquático operado remotamente (ROV na sigla em inglês), chamado de OceanXplorer.

“Tivemos muita sorte”, afirma Sam Purkis, presidente do Departamento de Geociências Marinhas da UM, que liderou o grupo de pesquisa, em comunicado. “A descoberta veio nos últimos cinco minutos do mergulho do ROV durante as dez horas que poderíamos dedicar a esse projeto.” Os cientistas calculam que o complexo no golfo inclua uma piscina de 10 mil m² e outras três com menos de 10 m².

Ao realizarem uma coleta de salmoura e sedimentos, eles notaram que o lago principal preserva camadas de rochas há pelo menos 1,2 mil anos. “Apesar de sua raridade e tamanho diminuto, as piscinas de salmoura apresentam intensos oásis de biodiversidade macrofaunística e microbiana”, escrevem os autores na pesquisa.

Equipamento é submerso a uma profundidade de 1770 m na interface salmoura-água  (Foto: Sam J. Purkis et.al )
Comunidade microbiana em piscina de salmoura alimentada pela margem leste do Golfo de Aqaba (Foto: Sam J. Purkis et.al )

Moléculas bioativas com possíveis propriedades antibacterianas e anticancerígenas foram anteriormente isoladas de micróbios na salmoura do Mar Vermelho. Esse mar, aliás, possui o maior número de piscinas subaquáticas salgadas no mundo.

“Nossa descoberta de uma rica comunidade de micróbios que sobrevivem em ambientes extremos pode ajudar a traçar os limites da vida na Terra e pode ser aplicada à busca de vida em outros lugares do nosso Sistema Solar e além”, ressalta Purkis.

As piscinas de salmoura preservam também informações sobre tsunamis, enchentes e terremotos no Golfo de Aqaba que ocorreram há milhares de anos. Nessa área existem muitas falhas e fraturas oceânicas associadas à tectônica da região. Segundo os pesquisadores, os lagos “são de intenso interesse científico, pois sua anóxia generalizada [ausência de O2], baixo pH e hipersalinidade representam um dos ambientes habitáveis ​​mais extremos da Terra”.