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“Nossa economia se baseia muito pouco na riqueza da biodiversidade”, diz Luísa Santiago

“Nossa economia se baseia muito pouco na riqueza da biodiversidade”, diz Luísa Santiago

Especialista defende necessidade de transição rumo a uma economia circular em colaboração com lideranças locais, empresas, governos e academia para ampliar conhecimento e práticas

Com o objetivo de apresentar uma visão de como deve ser uma economia circular da América Latina e no Caribe e a intenção de criar alinhamento e cooperação entre os países e governos da região, bem como orientar projetos futuros, uma coalizão acaba de lançar a publicação “Economia circular na América Latina e no Caribe: uma visão compartilhada“. O documento foi divulgado como um marco para implementar a abordagem de economia circular por meio do trabalho colaborativo.

Conforme o documento, a América Latina e o Caribe devem ter uma economia circular desenvolvida pela e para a região. Uma economia que seja adaptada às suas características e desafios para promover uma recuperação resiliente após a pandemia de covid-19. Para a Coalizão de Economia Circular da América Latina, a próxima era de desenvolvimento deve se afastar dos modelos econômicos lineares e extrativistas que causaram degradação ambiental maciça, focar em ser inclusivo para os povos e aproveitar as características e culturas únicas da região.

“A ideia de uma economia circular faz frente a grandes problemas que são resultantes de uma economia linear. A crise climática é resultado de uma economia linear. A gente entende hoje, a partir de análises, que a transição energética só vai fazer frente a 55% do problema das emissões. Os outros 45% são resultantes da forma linear como a gente produz, usa e consome produtos e alimentos. Então é uma ideia que deve ser aplicada o quanto antes”, defende Luísa Santiago, líder da Fundação Ellen MacArthur na América Latina, em entrevista ao Entre no Clima, o podcast do Um Só Planeta.

A Coalizão de Economia Circular da América Latina é coordenada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), liderada por um comitê diretor composto por quatro representantes governamentais de alto nível de forma rotativa, começando pela Colômbia, Costa Rica, República Dominicana e Peru para o período 2021-2022, e reúne oito parceiros estratégicos: Ellen MacArthur Foundation, Climate Technology Center & Network (CTCN), Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Fundação Konrad Adenauer (KAS), Plataforma para Aceleração da Economia Circular (Pace), a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido), o Fórum Econômico Mundial (FEM) e o Pnuma.

No processo de construção do documento, destaca Luísa, dezenas de funcionários de governos da região, bem como uma ampla gama de representantes de instituições internacionais relevantes, empresas e do meio acadêmico foram consultados para projetar coletivamente o futuro da região com base em uma economia circular funcionando em escala.

Luísa Santiago, líder da Fundação Ellen MacArthur na América Latina. — Foto: Divulgação

Luísa Santiago, líder da Fundação Ellen MacArthur na América Latina. — Foto: Divulgação

Alguns números da região mostram a dimensão dos problemas e também das oportunidades. Na América Latina e no Caribe, 127 milhões de toneladas de alimentos – mais de um terço do total produzido – são perdidos e desperdiçados todos os anos, enquanto cerca de 47 milhões de pessoas sofrem de fome na região. Ao mesmo tempo, América Latina e Caribe têm em sua natureza uma das maiores riquezas do mundo, representando 40% da biodiversidade da Terra e 60% da vida terrestre global.

No entanto, observou-se um declínio de 94% dessa biodiversidade desde 1975. A região também possui 9 das 24 frentes globais de desmatamento, que são impulsionadas principalmente pela agricultura, pecuária, mineração, infraestrutura de transporte e queimadas.

“Nós somos a superpotência de biodiversidade no mundo. Temos 40% da biodiversidade, entretanto nossa economia se baseia muito pouco nessa riqueza. Ela extrai, destrói e degrada. Tanto que somos a região que destruiu mais aceleradamente a biodiversidade no planeta. Não somos particularmente espertos ao utilizar o valor dessa biodiversidade”, afirma Luísa.

A especialista explica que economia circular baseia-se em três princípios: eliminar resíduos e poluição, circular produtos e materiais em grande escala e regenerar a natureza. Essa estrutura apresenta uma maneira de proporcionar prosperidade a longo prazo, ao mesmo tempo em que aborda alguns dos maiores desafios enfrentados por nossa sociedade, como mudanças climáticas e perda de biodiversidade. É, portanto, destaca ela, uma oportunidade para a região se posicionar como um ator-chave e se tornar líder na transição global para uma economia de baixo carbono e alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).