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Jovens indígenas usam tecnologia para preservar cultura de povo no Maranhão

Jovens indígenas usam tecnologia para preservar cultura de povo no Maranhão

Eles registram os hábitos e costumes do povo Gavião e usam as redes sociais para divulgar e manter um acervo.

Indígenas da região central do Maranhão estão registrando rituais em um esforço de preservação cultural.

A dança ainda de madrugada marca o início do ritual. É a cerimônia que põe fim ao luto de quase um ano pela morte do cacique ancião da aldeia Rubiácea, na Terra Indígena Governador, região central do Maranhão. Só agora, com o fim do período de reclusão, os indígenas podem finalmente cortar os cabelos e se pintar para a festa.

“É uma nova etapa. É tradição. É cultura do povo Gavião”, diz a filha do cacique, Maira Gavião.

Na aldeia vivem cerca de 200 pessoas da etnia Gavião, que ainda preservam a língua e os costumes de antes da chegada dos portugueses ao Brasil.

“Eles mantiveram a língua, todos são falantes. Apesar dos 200 e tantos anos, 250 anos de contato, eles continuaram mantendo aquilo que era fundamental para sua existência, o conjunto dos seus rituais”, explica a antropóloga Maria Elisa Ladeira.

Em um exemplo de tradições que se mantêm por séculos, uma dupla de irmãos só pode sair de casa dentro de esteiras. É a passagem da infância para a puberdade, que dura seis meses.

Além da persistência dos mais velhos, a preservação dos costumes se deve em boa parte pelo interesse de jovens indígenas que vêm usando a tecnologia para registrar o que os mais velhos fazem há séculos.

Mauro da Silva Gavião tem 21 anos e grava com o celular os cantos dos anciões da aldeia durante os rituais. Vai servir para as próximas gerações.

“O meu objetivo era aprender e também passar para as novas gerações que estão por vir”, diz Mauro da Silva Gavião.

José Rui fez um curso de fotografia para registrar os hábitos e costumes dos indígenas do povo Gavião. Ele usa as redes sociais para divulgar e manter um acervo de registros.

“Hoje conseguimos estar conectados e mostramos nossa cultura através das redes sociais. É um mundo novo, tudo é novidade para nós”, afirma José Rui .

O ponto alto da festa de fim de luto é a corrida entre dois times formados por indígenas da aldeia Rubiácea contra as outras aldeias da região, carregando toras de 130 quilos e se revezando em duplas. Participam as mulheres da aldeia e os homens. São dois carregando e os outros ficam equilibrando a tora, ao lado.

Na chegada, a lamúria dos parentes e amigos sobre as toras, que representam o homenageado morto.

A partir de agora, o luto acaba e o antigo cacique fará parte do passado, enquanto o futuro dessas tradições que misturam espiritualidade e festa depende da proteção dos povos indígenas de todo o país.