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Fórum Social Pan-Amazônico no debate de ponta sobre o que é fundamental para as sociedades no mundo inteiro

Fórum Social Pan-Amazônico no debate de ponta sobre o que é fundamental para as sociedades no mundo inteiro

“Os movimentos sociais amazônicos propõem reflexões de ponta, com discussões estratégicas que questionam profundamente o modelo de desenvolvimento e o nosso caráter civilizatório”. Dessa maneira, o historiador Guilherme Carvalho, coordenador da FASE Amazônia, comenta a abertura do décimo Fórum Social Pan-Amazônico (FOSPA), que teve início em Belém e acontece até domingo, dia 31 de julho, na Universidade Federal do Pará.

O planeta enfrenta uma crise profunda provocada por um modelo de sociedade baseado na extração, produção, consumo, acúmulo e descarte que coloca os seres humanos apartados da natureza. Na FOSPA, é este modelo de desenvolvimento que está sendo posto em xeque.

Carvalho reflete sobre a origem e evolução da palavra  “des-envolvimento”, lembrando que o prefixo latino “des” significa separação, afastamento. Assim, este “des-envolvimento” imposto pelo sistema atual capitalista acarreta em um distanciamento entre os seres humanos e a natureza. Aqui, Carvalho honra o geógrafo e professor Carlos Walter Porto Gonçalves que trouxe essa provocação para pensarmos juntos sobre o que está fundamentalmente errado nesse tal des-envolver. O hit global, agora, é envolver!

O historiador Guilherme Carvalho, da FASE, e Vandria Borari, mulher indígena do Baixo Tapajós que atua na campanha global contra os grandes poluidores

“Nós temos que romper com essa apartação irreal da sociedade da natureza, essa foi uma ideia falsa imposta pelo capitalismo. É necessário mudar radicalmente as relações entre nós, construindo relações em outras bases que não sejamos a todo tempo atravessados pelo mercado. Da mesma maneira, isso implica em repensar nossa relação com nossa própria vida e sentido. Hoje somos uma sociedade adoecida, baseada no consumo excessivo de tudo, de remédios inclusive, e essas coisas são funcionais apenas ao capitalismo. Dando esses passos, podemos entender que nossa vida é muito mais que o modelo econômico”, argumenta.

O FOSPA abre espaço para dezenas de painéis simultâneos auto-gestionados com o objetivo de alimentar as lutas e resistências em todos os territórios da PanAmazônia, fazendo uma leitura estratégica da conjuntura da região no século XXI, frente ao agravamento da crise climática, ao colapso global e a urgência da defesa da floresta em pé.

Uma cidade como Belém ou São Paulo não são e não podem ser referência de futuro na Amazônia, o coração pulsante que guarda a maior floresta tropical do planeta. “Essa é a riqueza do debate que vem sendo feito na Amazônia. Nós não estamos presos ao debate do modelo antigo de desenvolvimento, mas estamos discutindo civilização: o que nós somos, o que nós queremos ser hoje e o que nós queremos ser daqui pra frente. É uma discussão muito profunda porque envolve questões da mais alta relevância para a humanidade”, desentenebrece Carvalho.

Para ele, partir dessa discussão para dizer que os movimentos sociais são contra o progresso é uma armadilha político-ideológica que precisa ser combatida. Grandes empresas usam esse argumento como forma para acabar com o debate, colocando a sociedade contra os movimentos sociais, evitando a discussão de alternativas viáveis.

Hoje, o debate na Pan-amazônia é inclusivo –muito por conta das reflexões que as organizações andino-amazônicas vem fazendo. “Nós não queremos um outro modelo de desenvolvimento, nós queremos discutir um modelo ao des-envolvimento. Não é apenas um jogo de palavras. É dizer que isto não nos interessa. Os movimentos sociais na Amazônia estão no debate de ponta sobre o que é fundamental para as sociedades no mundo inteiro” .