Eleições 2024: avalie o impacto ambiental das suas escolhas
Soluções e efeitos do desequilíbrio ambiental e mudanças climáticas estão nas nossas cidades – veja como decidir quem te representa
Em 2024, quem vive nas cidades brasileiras vai poder escolher representantes na prefeitura e câmara municipal dos 5.569 municípios do país. Em um momento em que as consequências dos problemas ambientais e da emergência climática se tornam cada vez mais evidentes, é preciso ressaltar que a eleição terá grande impacto para a agenda ambiental no país nos próximos quatro anos.
A Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) reforça o alerta: a administração municipal é responsável pela gestão de temas sensíveis que podem tornar as cidades mais sustentáveis e resilientes às mudanças climáticas ou torná-las mais vulneráveis aos eventos extremos, que devem se tornar mais intensos, colocando em risco a vida, a saúde e o bem-estar da população.
“É importante ouvir e conhecer os detalhes das propostas dos candidatos e candidatas a respeito desses temas que são absolutamente relevantes para a nossa vida. Há muitos temas importantes em uma eleição, mas esses não podem ser negligenciados de forma alguma”, observa Rachel Biderman, membro da RECN e vice-presidente sênior da Conservação Internacional.
Criação e proteção de áreas verdes, manutenção de parques e demais áreas naturais, coleta e destinação final do lixo, redução de emissões de gases de efeito estufa, segurança hídrica e drenagem urbana são algumas das responsabilidades dos prefeitos que devem ser observadas com muita atenção pelos eleitores.
“Embora se discuta a questão ambiental em uma perspectiva global, é fundamental entender que os problemas se manifestam localmente. A gestão dessas questões é responsabilidade da prefeitura e da câmara municipal”, afirma Carlos Eduardo Young, membro da RECN e professor titular e coordenador do Grupo de Economia do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (GEMA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Vote pelo Clima
Uma inciativa que pode apoiar quem quer incluir a pauta socioambiental nas decisões de voto é a plataforma Vote Pelo Clima, que inclui candidaturas de prefeitos e vereadores de todas as cidades do Brasil, trazendo informações específicas sobre as propostas para:
- Transporte e mobilidade
- Gestão de resíduos
- Povos e comunidades tradicionais
- Educação climática
- Enfrentamento ao racismo ambiental
- Moradia digna
- Transição energética justa
- Alimentos saudáveis
- Direito à cidade
- Adaptação e redução de desastres
- Proteção de animais
- Economia verde
- Pessoas afetadas por desastres
Para acessar o site e consultar as propostas de candidatos e candidatas na sua cidade, clique AQUI.
Bancada do Clima
Mais de 200 candidatos e candidatas a vereador de diferentes cidades do Brasil firmaram uma aliança que recebeu o nome de Bancada do Clima, reunindo representantes que têm a agenda sustentável e climática no centro de suas propostas.
“Estamos diante de um desafio inadiável: as mudanças climáticas são uma realidade que já afeta a vida de todas as pessoas, principalmente das mais vulnerabilizadas”, ressaltam os membros da Bancada do Clima no site oficial da iniciativa.
Na página também é possível consultar os nomes dos representantes de todas as regiões e fazer um “match” entre eleitores, eleitoras, candidatas e candidatos de todas as cidades do Brasil. Para saber mais, clique AQUI.
Pontos de atenção
Young reforça que, antes de escolher um candidato ou candidata, é importante observar se a proposta de cada um deles considera as questões ambientais de maneira séria. “É comum ver candidatos afirmando ser a favor do meio ambiente, da natureza e dos animais, enquanto suas práticas são incompatíveis. Mas, comprometimento e consistência são fundamentais. Nas questões climáticas, por exemplo, é preciso verificar se a candidatura apresenta propostas para mitigar as emissões de gases e preparar a cidade para os desastres que, infelizmente, devem ocorrer com frequência crescente”, analisa o professor.
Veja abaixo uma lista preparada pela Rede de Especialistas em Conservação da Natureza com pontos que merecem atenção especial nas plataformas de candidatos e candidatas.
Áreas verdes
Diante do déficit de áreas verdes em boa parte das cidades brasileiras, Rachel defende especial atenção a parques, jardins e praças para proporcionar qualidade de vida. “Além de ajudar a absorver os poluentes e reter água no solo, o verde também relaxa e acalma moradores dos pequenos e dos grandes centros urbanos. Há muitos espaços verdes abandonados na maioria das cidades. É importante verificar se os candidatos destinarão recursos no orçamento público, se contratarão pessoal e se também organizarão mutirões, apoiados pela sociedade civil, para melhorar a qualidade dessas áreas”, defende Rachel.
Excesso de veículos
O professor da UERJ aponta o excesso de veículos em grandes cidades como outra questão a ser enfrentada. “Uma política para controlar esse problema prevê, por exemplo, limitar áreas de estacionamento e aumentar os preços das tarifas em determinadas áreas. Embora essas medidas sejam impopulares, são necessárias. O candidato que diz ser a favor do meio ambiente não pode, ao mesmo tempo, incentivar o aumento do número de automóveis nas ruas”, analisa Young.
Transporte público
Em relação ao transporte público, Rachel Biderman chama a atenção para a manutenção dos veículos e o incentivo às energias renováveis. “Será que os prefeitos e os vereadores estão aprovando as leis e criando as condições necessárias para que o transporte seja o menos poluente? Hoje em dia, há alternativas para tornar o transporte mais limpo, que precisam ser induzidas pelo poder público”, pondera Biderman.
Licitações sustentáveis
Quanto mais rica a prefeitura, maior sua influência na economia local e regional. A pesquisadora explica que, ao implementar licitações sustentáveis, prefeituras podem contratar produtos e serviços que respeitem o meio ambiente e influenciar cadeias produtivas sustentáveis. “Isso inclui, por exemplo, a contratação de serviços de energia ou instalação de ar condicionado com equipamentos mais limpos, ajudando assim a melhorar a qualidade ambiental”, diz.
Drenagem das águas
Cidades resilientes investem em infraestrutura urbana para garantir o escoamento das águas durante chuvas, utilizando soluções como calçadas e telhados verdes, jardins de chuva, e a ampliação de áreas verdes em geral. “Essas práticas aumentam a absorção e percolação da água, evitando entupimentos nos sistemas de drenagem. Cidades com muitos parques e áreas de captação de água estão melhor adaptadas às chuvas intensas causadas pelas mudanças climáticas”, explica Rachel.
Calor extremo
Cidades com muito concreto e asfalto tendem a ser mais quentes, aumentando a demanda por ar condicionado e também gerando mais zonas de calor. Esse aquecimento agrava problemas de saúde. “Em algumas cidades, temperaturas extremas de até 50 graus têm causado mortes, pois o corpo humano não suporta temperaturas acima de 34 graus. Evitar a formação de ilhas de calor é uma medida essencial para o bem-estar urbano”, afirma Rachel.
Qualidade da água
Com relação à água, mesmo sendo uma competência estadual, existe um nível de responsabilidade municipal. A pesquisadora acredita ser importante ouvir o posicionamento dos candidatos sobre acesso, tratamento e distribuição de água. “Tudo que é ambiental está relacionado à saúde. A qualidade da água, o bom pavimento das ruas e o transporte público eficiente, com baixa emissão e poluição, contribuem para a saúde da população”, frisa.
Impostos
Outra possibilidade é a redução de impostos, como o IPTU, para incentivar práticas ambientais positivas. Isentar esse imposto para condomínios que cuidam do meio ambiente, por exemplo, pode estimular a criação de áreas verdes sem que a prefeitura precise investir. “Em grandes centros urbanos, como São Paulo, a construção de edifícios altos gera impactos ambientais significativos, aumentando a demanda por transporte e poluição. É importante acompanhar as propostas dos candidatos diante dessas importantes questões”, pondera.