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Diagnóstico tardio de hepatite e falta de tratamento podem transformar condição em cirrose ou câncer de fígado

Diagnóstico tardio de hepatite e falta de tratamento podem transformar condição em cirrose ou câncer de fígado

Em 30 anos, o Brasil diagnosticou mais de 250 mil pessoas com o vírus da hepatite B e mais de 260 mil como portadoras do vírus da hepatite C, segundo o Boletim Epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde. A hepatite indica uma inflamação no fígado que, se diagnosticada tardiamente ou se ficar sem tratamento, pode evoluir para cirrose ou até mesmo câncer, segundo a hepatologista pediátrica no Complexo Hospitalar de Niterói (CHN), Marcia Valladares.

Considerada um problema de saúde pública tanto no Brasil quanto no mundo, a hepatite apresenta sintomas que variam entre a população, relata a especialista:

— Os indícios mais comuns se alteram entre falta de apetite leve e náusea intensa, com dificuldade para se alimentar. O paciente pode sentir dor no lado direito do abdome, logo abaixo das costelas, a urina muda de cor e fica cor de mate e a parte branca dos olhos fica amarelada (icterícia).

Marcia Valladares disse que a dificuldade de obtenção de um diagnóstico se dá porque existem muitos casos de hepatite em que o paciente não tem sintomas.

— Esses quadros assintomáticos são muito frequentes nas hepatites B e C, que são doenças crônicas, ou seja, o sistema imune não consegue eliminar o vírus do corpo, então a patologia causa a destruição lenta do fígado, que, por sua enorme capacidade de regeneração, não apresenta sintomas até as fases avançadas da condição — afirmou.

Segundo Henrique Sergio Coelho, hepatologista do Hospital São Lucas Copacabana, as complicações em decorrência da contaminação pelos tipos de hepatite B e C podem se dar nas condições agudas, que, em uma minoria de pacientes, podem ter um curso progressivo, conhecido como hepatite fulminante. Há também a versão crônica, que é quando a doença evolui para uma cirrose com duas consequências graves: a insuficiência hepática e o câncer de fígado, em que há necessidade de transplante.

— Nos últimos quatro anos, no São Lucas Copacabana, tivemos um total de 142 pacientes que fizeram transplante de fígado, sendo que 20 em decorrência de complicações da hepatite C, o que representa 14% dos casos — disse o médico.

De acordo com ele, nos casos em que a evolução da hepatite causa câncer de fígado, na maioria das vezes, não se realiza a cirurgia apenas para a retirada do tumor e, por isso, há a necessidade de um transplante hepático:

— Esses pacientes têm seu status na fila de transplantes priorizado por lei e, em geral, com o transplante, ficam curados não só do câncer, mas também da cirrose.

Os pacientes com os sintomas devem procurar atendimento médico para que sejam solicitados exames que vão confirmar o diagnóstico de hepatite e o tipo de vírus que está causando a infecção. A prevenção deve ser feita por meio de vacinas — hoje temos disponível imunização para a hepatite A e B, que é segura e intramuscular; já no caso da C, não existe vacina, mas há a necessidade de prevenção por meio do uso de preservativos durante qualquer relação sexual.

— Contudo, podemos notar uma redução de casos que se deu, com certeza, em função do tratamento em massa da doença no Brasil, entre 2015 e 2016 — relatou Coelho.

Diferentes tipos de hepatite

No Brasil, os tipos mais comuns de hepatite são A, B e C, que possuem formas diferentes de transmissão, assim como tratamento distinto. Existem ainda a D e a E, mas não são comuns no país, como explica Marcia Valladares.

• Hepatite A – transmissão fecal-oral; costuma ser de fácil diagnóstico e pouca complicação; é avaliada por sorologia específica; na maioria dos casos, tem recuperação total.

• Hepatite B – é transmitida por contato sexual sem proteção ou por meio de objetos cortantes como agulhas contaminadas; costuma ter o mesmo comportamento clínico da hepatite A, porém ocorre cronificação da enfermidade em 20% dos casos. Observa-se que os recém-nascidos com infecção viral adquirida da mãe têm mais chances de ter a doença cronificada.

• Hepatite C – é transmitida por sangue contaminado e, rarissimamente, por contato sexual. Diferente dos outros tipos de hepatite, sua fase aguda, com frequência, passa despercebida, o que faz com que ela evolua lentamente por décadas, de modo que, quando há um diagnóstico, a enfermidade já se encontra na fase crônica.

Fonte:  Extra