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Desertificação em Gilbués, no Piauí, mostra cenário que lembra Marte

Desertificação em Gilbués, no Piauí, mostra cenário que lembra Marte

Conhecida como o ‘Deserto de Gilbués, a cidade no Sul do Piauí impressiona com imagens que se assemelham com o cenário de Marte. As crateras vermelhas e a paisagem árida são características da maior zona de desertificação do Brasil.

A desertificação é causado pela erosão galopante no solo frágil da região, e exacerbado pelo desmatamento, pelo crescimento indiscriminado e provavelmente pelas mudanças climáticas, segundo especialistas.

O historiador ambiental Dalton Macambira, da Universidade Federal do Piauí, destacou que o problema da erosão não é novo. O termo ‘Gilbués’ provavelmente vem da palavra indígena “jeruboés”, que significa ‘terra fraca’.

No entanto, a humanidade agravou o problema, ao devastar e queimar a vegetação, cujas raízes ajudavam a conter o solo friável, e expandir as construções na cidade, atualmente com 11.000 habitantes.

Além disso, Gilbués foi cenário de uma corrida por diamantes em meados do século XX, depois da produção de cana-de-açúcar, e agora é um dos principais municípios produtores de soja do estado.

“Essa atividade econômica acaba acelerando o problema e exige do ambiente natural uma capacidade de suporte que ele não tem”, pontuou Dalton Macambira.

Os cientistas afirmam que são necessários mais estudos para determinar se o aquecimento global acelera o fenômeno. Para Macambira, o aquecimento global só pode piorar a situação.

“Nas regiões com problema de degradação ambiental (…), as mudanças climáticas tendem a ter um efeito mais perverso”, afirmou.

Estudos recentes do historiador ambiental mostram que a área afetada pela desertificação em Gilbués mais que dobrou, de 387 para 805 km² de 1976 a 2019, área maior que a cidade de Nova York.

Agricultura familiar contra a desertificação

Cerca de 500 famílias sobrevivem da agricultura familiar na região devastada, com plantações de milho, feijão e arroz, melancia, entre outros, mas enfrentam dificuldades para manter a área produtiva.

Os agricultores constataram temporadas mais secas e de chuvas mais curtas, porém mais intensas, o que agrava o problema: as fortes precipitações arrastam mais terra e aprofundam ainda mais os enormes cânions, conhecidos como ‘voçorocas’.

O agricultor Washington Rodrigues contou que segue plantando, mesmo sem o apoio público, mas o custo sai caro. Ele apontou a piscicultura como uma nova forma de gerar renda na cidade, já que a região está localizada na área do segundo maior lençol freático do país.

desertificação em Gilbués, no Piauí

@Lefteris__VR/twitter