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Aquecimento da água dos oceanos provoca branqueamento dos corais em diversas partes do mundo

Aquecimento da água dos oceanos provoca branqueamento dos corais em diversas partes do mundo

No início de março, a Agência Atmosférica e Oceânica Americana informou que o mundo está prestes a ter o quarto evento de branqueamento em massa de corais.

Pela quarta vez na história, corais espalhados pelo mundo estão perdendo a cor original. É o chamado processo de branqueamento, que é provocado por mudanças climáticas.

Na maior reserva de corais do litoral norte da Bahia, o contraste de cores pode parecer bonito, mas é um sinal de alerta. Os tons mais claros indicam que algo não vai bem. É o que os biólogos chamam de branqueamento.

“É a perda de uma relação com uma alga que vive dentro do tecido dele. E todo o excesso de alimento que essa alga produz, o coral absorve e usa para o seu crescimento, para a sua vitalidade. Quando essa relação se rompe e o coral fica branqueado, ele perde energia, ele para de crescer, ele para de reproduzir. E se essa situação persistir muito tempo no ambiente, ele pode até morrer”, explica Francisco Kelmo, diretor do Instituto de Biologia da UFBA.

O índice normal de branqueamento de corais na área varia de 5% a 10%. Mas estudos da Universidade Federal da Bahia apontam que este branqueamento já atinge cerca de 80% dos corais. E não é difícil se identificar essa situação por lá. Só em uma pocinha, tem vários corais. Apenas um na coloração considerada normal, que é um tom mais amarronzado. Todos os outros lá já começando a perder a cor. E, do um outro lado, um completamente branco, seco e já sem vida.

“Nós estamos vendo colônias que são como se fossem bebês, que são recém-nascidas. Todas as sete apresentam algum tipo de branqueamento. Eles já estão doentes, então eles provavelmente não crescerão, não vão trazer sua contribuição para as próximas gerações”, afirma Francisco Kelmo.

A explicação está nas mudanças climáticas e principalmente no último fenômeno El Niño, que começou em 2023 e aumentou a temperatura média global no ar e na água. No início de março, a NOAA – Agência Atmosférica e Oceânica Americana – informou que o mundo está prestes a ter o quarto evento de branqueamento em massa de corais. O último foi de 2014 a 2017, quando cerca de 15% dos recifes do mundo tiveram altas taxas de mortalidade.

“Os corais são os organismos que constroem os recifes. Eles estão para os recifes, como as árvores estão para a floresta. Se a gente perder os corais e esses organismos não se recuperarem, esses recifes vão ficar mais simples, vão ter menos abrigos, vão comportar menos organismos e você perde diversidade, você reduz o número de crustáceos, de peixes, desses organismos todos que habitam os recifes”, explica Igor Cruz, professor de Oceanografia Biológica da UFBA.

Quem está todo dia no mar, já sente os efeitos do problema.

“Cada dia que passa, está ficando pior. Era cardume de budião e hoje não tem mais cardume de budião mais. Era fartura demais. Todo mundo que pesca aqui sente essa dificuldade já. Tem dia que ninguém pega nenhum peixe aí”, conta o pescador Ailton de Jesus.