Refúgio no Ceará: casa usa bioconstrução para obter conforto térmico
Taipa de pilão, pau-a-pique e ferrocimento formam técnicas construtivas aplicadas nesta residência
Aconchegante, elegante, encantadora. Muitos adjetivos podem ser usados para descrever a casa de campo Refúgio do Sol. Projetada pelo estúdio de arquitetura AzulPitanga, a residência foi construída com uma mistura de técnicas construtivas para obter conforto térmico no sertão nordestino.
Como o nome sugere, o projeto arquitetônico foi pensado para o lar ser um abrigo ao calor escaldante do Ceará, porém sem deixar de lado a apreciação da estrela que rege a vida na Terra. De um lado, é possível acompanhar o nascer e do outro o pôr do sol.
Localizada no Sítio Solzinho, zona rural do município de Barbalha (Ceará), em plena Chapada do Araripe, a casa mescla taipa de pilão, pau-a-pique e argamassa armada. A primeira etapa foi a construção de uma parede de taipa de pilão de 0,40 de espessura, 8,0m de comprimento e 4,8m de altura, na direção norte-sul, para proteger a insolação poente devido a sua elevada capacidade em promover inércia térmica.
A partir dessa primeira parede, todo o projeto se desenvolveu, explica a empresa AzulPitanga. “À esquerda, na face poente, ergue-se o bloco hidráulico em argamassa armada, abrigando o banheiro social e a área de serviço no térreo, o banheiro da suíte e a varanda no primeiro pavimento, e acima, a caixa d’água. À direita da parede de taipa de pilão, na face nascente, uma estrutura leve e simples se manifesta com quatro pilares e quatro vigas de madeira, conectando-se à taipa de pilão”, detalha. Nas paredes para o nascente também foram aplicados a técnica de pau-a-pique.
Técnicas ancestrais
O estúdio de arquitetura ressalta que as técnicas escolhidas resgatam “o fazer” das tradições populares da região. Também chamada de ferrocimento, a argamassa armada é uma técnica bastante difundida no sertão nordestino por ser usada na construção de cisternas. Já o pau-a-pique, também conhecido como taipa de mão, consiste no entrelaçamento de madeiras preenchidas com barro. O pau-a-pique é uma técnica muito comum nas zonas rurais brasileiras, assim como a taipa de pilão em que a terra é batida e comprimida em caixas de madeira.
Todos esses métodos construtivos podem soar ultrapassados, mas nada é mais atual do que apostar em elementos naturais na arquitetura contemporânea. Além disso, as velhas técnicas têm sido remodeladas de modo a suprimir as desvantagens.
No caso da Refúgio do Sol, a mistura de técnicas construtivas buscou estabelecer uma melhor relação da presença humana (conforto ambiental) com a natureza e seus fenômenos (sol, ventos, clima, tempo, paisagens, águas, vegetação).
O desafio central, de acordo com a empresa de arquitetura, era preservar a deslumbrante vista da Chapada do Araripe a oeste, ao mesmo tempo em que protegia o interior da casa da intensidade solar característica do sertão do Cariri.
“O Sol da manhã atravessa as aberturas através da pele de esquadrias e vidros. O Sol da tarde será recebido pela parede de taipa de pilão com 40cm de espessura mantendo a casa confortável. Ao anoitecer a casa devolve, ao descanso do sol, a luz que iluminará os vários níveis de jardins que a envolve”, resume o estúdio AzulPitanga.
A riqueza de terra no terreno também foi determinante para a escolha desse elemento como material predominante para a construção das vedações da casa.
Outras práticas sustentáveis
Dentro da residência, o uso de vidros garantem a entrada de iluminação natural, além da presença de madeiras, plantas pendentes, janelas garimpadas em antiquários, entre outros elementos decorativos, que garantem que o lar ganhe o famoso “cara de casa” que tanto faz falta em projetos arquitetônicos sem personalidade.
A obra foi finalizada com a instalação de um círculo de bananeiras e uma bacia de evapotranspiração para tratamento das águas cinzas. A casa de 62,50m² começou a ser construída em agosto de 2020 e foi concluída em setembro de 2021.