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Apetite de europeus por pernas de rã está levando espécies à extinção, diz pesquisa

Apetite de europeus por pernas de rã está levando espécies à extinção, diz pesquisa

Além disso, estudo revela que maioria dos animais tem as pernas cortadas com machados ou tesouras – sem anestesia – e que o resto do corpo é descartado para que o animal morra

Considerada uma iguaria, as pernas de rã são bastante consumidas em alguns países como França e na Bélgica, na Europa. Mas o apetite por este prato tem sido tão grande que está colocando as populações de rãs na Indonésia, na Turquia e na Albânia em risco, alerta um novo estudo.

Todos os anos, a Europa importa nada mais, nada menos, do que cerca de 200 milhões de rãs selvagens, contribuindo para um esgotamento de espécies nativas no exterior, diz a pesquisa. De acordo com os cientistas, a rã-d’água da Anatólia, por exemplo, pode ser extinta na Turquia até 2032, por conta da exploração excessiva. Na Indonésia, maior exportador para a Europa, as rãs de Java (Limnonectes macrodon) estão desaparecendo. Já na Albânia, a rã-d’água Scutari (Pelophylax shqipericus) é considerada altamente ameaçada.

A Pro Wildlife, entidade que realizou o novo estudo, afirma que a maioria dos animais tem as pernas cortadas com machados ou tesouras – sem anestesia – e que o resto do corpo é descartado para que a rã morra.

Foto vencedora da categoria humano/natureza no Big Picture Competition, da Academia de Ciências da Califórnia, retrata crueldade por trás da morte de rãs para consumo — Foto: Bence Mate

Foto vencedora da categoria humano/natureza no Big Picture Competition, da Academia de Ciências da Califórnia, retrata crueldade por trás da morte de rãs para consumo — Foto: Bence Mate

“Na Indonésia, como agora também na Turquia e na Albânia, importantes espécies de rãs estão diminuindo na natureza, uma após a outra, causando um efeito dominó fatal para a conservação das espécies. Se a pilhagem para o mercado europeu continuar, é altamente provável que vejamos declínios mais sérios nas populações de rãs selvagens e, potencialmente, extinções na próxima década”, afirmou Sandra Altherr, cofundadora da instituição de caridade de conservação Pro Wildlife e coautora do relatório, ao The Guardian.

De acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), os anfíbios são o grupo de vertebrados mais ameaçado hoje. Na União Europeia, uma diretriz impede que rãs selvagens nativas sejam capturadas dentro dos países membros do bloco. No entanto, as importações não possuem restrições, e anualmente cerca de 4.070 toneladas de rãs vindas do exterior são servidas em pratos europeus.

Dentro da UE, os maiores comedores de pernas de rã parecem estar na Bélgica, que representa 70% do mercado importador do bloco. Depois vem a França, com 17%, a Holanda com 7%, a Itália com 4% e a Espanha com 2%. Apesar da aparente discrepância, o relatório Deadly Dish, da Pro Wildlife, revela que a maioria das importações de pernas de rã que entram na Bélgica são reexportadas para outros países dentro do bloco.

Perna de rã a venda em mercado de Saint-Georges-La-Pouge, na França — Foto: Getty Images

Perna de rã a venda em mercado de Saint-Georges-La-Pouge, na França — Foto: Getty Images

Charlotte Nithart, presidente da ONG francesa Robin des Bois, que também participou da pesquisa, disse que as rãs desempenham um papel central no ecossistema como matadores de insetos e que onde elas desaparecem o uso de pesticidas tóxicos está aumentando. “Portanto, o comércio de pernas de rã tem consequências diretas não apenas para as próprias rãs, mas para a biodiversidade e a saúde do ecossistema como um todo”, afirmou.