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Sociedade civil teme destruição de parque ambiental em Bissau

Sociedade civil teme destruição de parque ambiental em Bissau

ONGs condenam plano de construção de uma mesquita, escola e centro de saúde no parque de M’batonha anunciado pelo Presidente Sissoco Embaló. Em entrevista à DW, ativista diz que projeto é “risco para a população”.

Na Guiné-Bissau, está instalada a polémica em torno da construção de uma mesquita num parque ambiental. O Presidente Umaro Sissoco Embaló anunciou na quarta-feira (04.01) a construção de uma mesquita, escola e centro de saúde no atual parque de M’batonha, em Bissau, e pediu responsabilidade no tratamento de questões ligadas à religião.

A transformação do parque M’batonha, lugar de descanso, alimentação e reprodução de cerca de 125 espécies de aves, segundo o Instituto da Biodiversidade e Áreas Protegidas, tem sido criticada por diversas organizações da sociedade civil guineense e ambientalistas, que consideram a iniciativa das autoridades “crime ambiental e descaso social”.

Francisco Gomes Wambar, diretor executivo da Organização para a Defesa e Desenvolvimento das Zonas Húmidas na Guiné-Bissau, é um dos subscritores de uma carta aberta dirigida ao presidente da Câmara Municipal de Bissau, Fernando Mendes, para pedir esclarecimentos, fazer denúncia pública e exigir a suspensão imediata dos trabalhos.

DW África: Porque é que a sua organização e outras organizações da sociedade civil guineense se insurgem contra o projeto?

Francico Gomes Wambar (FGW): Por causa da importância do próprio parque. Foi construído em 2018, tendo em conta as suas funções ecológicas. Recebe aves, tem crocodilos e chama-se Parque Lagoa de M’batonha porque acolhe água que vem dos bairros que estão na periferia dessa localidade. Nos meses de julho, agosto, setembro, quando chove muito, a água desce para esse espaço. Neste momento, a água está a baixar porque não temos pluviosidade há um mês e pouco. Se se pavimentar essa área, o risco para a população que mora em torno é um problema.

DW África: São, sobretudo, razões ecológicas que vos levam a protestar?

FGW: Razões ecológicas e também sócio-culturais. Vamos dialogar para verem outros passos, se possível. Ainda não há clareza sobre a mesquita que vão colocar, porque o processo não foi transparente.

DW África: A sua organização é uma das subscritoras de uma carta dirigida à câmara municipal de Bissau. Que organizações são essas?

FGW: São diversas organizações da sociedade civil guineense. Algumas trabalham no domínio da proteção ambiental, outras na defesa dos direitos humanos. É um direito que nós temos: informação. Temos direito a ser informados e a discutir, para darmos a nossa contribuição. O parque é um espaço reservado para benefício da população da Guiné-Bissau.

DW África: Já há reação do presidente da câmara de Bissau ou das entidades governamentais?

FGW: Até então, não temos reações. A câmara recebeu a carta ontem [03.01] e ainda não reagiu. Estamos a lutar para ver como podemos sentar-nos à mesa e conversar com eles. Se não, um parque que acabou de ser feito e que tem um papel ecológico e cultural extemamente importante vai ser destruído.

DW África: Na vossa opinião, é o próprio projeto da mesquita – financiada com o apoio da Turquia – que está em causa? São motivos religiosos?

FGW: Nós, os ambientalistas, não nos imiscuímos em questões religiosas. O que discutimos aqui é a questão da utilidade daquele espaço e a falta de informação. Há outros espaços que poderiam ser aproveitados para essa finalidade. Esse é o nosso objetivo.