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Sistema de compostagem na Coreia do Sul reaproveita 90% dos restos de comida que a população produz

Sistema de compostagem na Coreia do Sul reaproveita 90% dos restos de comida que a população produz

Exemplo para outros lugares, incluindo China e Dinamarca, método entra em vigor na cidade de Nova York no segundo semestre

Por ano, 1,4 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçados, e a maioria vai para aterros sanitários, poluindo a água e o solo e piorando a crise climática por meio da liberação de grandes quantidades de metano, um gás de efeito estufa. Para combater esse desperdício, há quase 20 anos a Coreia do Sul transforma restos de comida em ração animal, fertilizante e combustível para aquecimento de residências, segundo reportagem do The New York Times.

O sistema, que reaproveita cerca de 90% dos alimentos descartados pela população, foi estudado por governos de todo o mundo, incluindo China e Dinamarca. No segundo semestre, a cidade de Nova York passará a cobrar de seus moradores a separação dos restos de comida.

O sucesso do sistema em escala nacional se deve ao custo, segundo Paul West, cientista sênior do Project Drawdown, um grupo de pesquisa que estuda maneiras de reduzir as emissões de carbono. Embora indivíduos e empresas paguem uma pequena taxa para descartar resíduos de alimentos, o programa custa à Coreia do Sul cerca de US$ 600 milhões por ano, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente do país.

O apoio político à implantação do sistema foi impulsionado por pessoas que vivem perto de aterros sanitários, que reclamaram dos cheiros, disse Kee-Young Yoo, pesquisador do Instituto de Seul, administrado pelo governo, que aconselhou as cidades a lidar com o desperdício de alimentos. Como os ensopados são um alimento básico da culinária coreana, os alimentos descartados tendem a ter um alto teor de água, o que significa maior volume e piores odores.

Desde 2005, é ilegal enviar resíduos de alimentos para aterros sanitários. Os governos locais construíram centenas de instalações para processamento dos resíduos. Consumidores, donos de restaurantes, caminhoneiros e outros fazem parte da rede que faz com que tudo seja recolhido e transformado em algo útil.

Na maioria das fábricas de processamento, detritos – como ossos, sementes e conchas – são retirados de forma automatizada. Os resíduos são então transportados numa esteira até um triturador. Qualquer coisa que não seja facilmente triturada, como sacolas plásticas, é filtrada e incinerada. Em seguida, os resíduos são cozidos e desidratados.

A umidade vai para as tubulações que levam a uma estação de tratamento de água, onde parte dela é utilizada para produzir biogás. O resto é purificado e descarregado em um riacho próximo. O que resta dos resíduos é moído no produto final: um pó seco e marrom que serve de suplemento alimentar para galinhas e patos, rico em proteínas e fibras, e que é distribuído a qualquer fazenda que queira.

O método não é o mesmo em todas as instalações. Algumas plantas usam o sistema de digestão anaeróbica, em que os resíduos ficam em grandes tanques por até 35 dias, onde as bactérias quebram a matéria orgânica, e gera-se biogás, que consiste principalmente em metano e dióxido de carbono. O biogás é vendido a concessionárias locais, e a matéria sólida restante é misturada com lascas de madeira para fazer fertilizante, que é doado.

Apesar de todos os seus benefícios, o programa da Coreia do Sul não atingiu um de seus objetivos, dizem os críticos: fazer com que as pessoas joguem menos comida fora. A quantidade de alimentos descartados em todo o país tem se mantido mais ou menos estável ao longo dos anos, segundo dados do Ministério do Meio Ambiente.

O fato de ter que pagar pelo descarte correto, porém, chama a atenção das pessoas para o desperdício. Em complexos de apartamentos em todo o país, os residentes recebem cartões para escanear toda vez que jogam restos de comida em uma lixeira designada para isso. A lixeira pesa o que eles jogaram; no final do mês eles recebem uma conta. Eom Jung-suk, que mora em um desses complexos, disse ao jornal que nunca pagou mais do que um dólar pelo serviço – em abril, foram 26 centavos. Mas é o que basta para despertar a consciência. “Hoje mesmo, no café da manhã, eu disse às minhas filhas para comerem apenas o suficiente”, disse ela.