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Relatório da UNESCO destaca águas subterrâneas como solução para crise hídrica

Relatório da UNESCO destaca águas subterrâneas como solução para crise hídrica

Elas são destaque do Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento dos Recursos Hídricos, publicado pela UNESCO em nome da ONU-Água no Dia Mundial da Água, celebrado em 22 de março.

O documento defende que, com mais investimentos em conhecimento, infraestrutura e capacitação de profissionais, as águas subterrâneas podem ser um catalisador para o crescimento econômico em todo o mundo.

Embora represente a quase totalidade de toda água doce líquida do planeta, as águas subterrâneas muitas vezes são um recurso natural mal compreendido e, consequentemente, subvalorizado, mal gerido e até mesmo explorado em excesso. De acordo com a última edição do Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento dos Recursos Hídricos, publicado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) em nome da ONU-Água, o vasto potencial das águas subterrâneas e a necessidade de gerenciá-las de forma sustentável não podem mais ser negligenciados.

A mais recente edição do relatório, intitulada Águas subterrâneas: tornar visível o invisível, foi lançada na cerimônia de abertura do 9º Fórum Mundial da Água, em Dacar, Senegal, marcando o Dia Mundial da Água, celebrado em 22 de março. Os autores pedem aos Estados que se comprometam a desenvolver políticas adequadas e eficazes de gestão e governança das águas subterrâneas, com o objetivo de lidar com as crises hídricas atuais e futuras em todo o mundo.

Atualmente, as águas subterrâneas fornecem metade do volume captado para uso doméstico pela população global, incluindo a água potável para a grande maioria da população rural que não recebe água por meio de sistemas de abastecimento público ou privado, e cerca de 25% de toda a água utilizada para irrigação.

Em âmbito mundial, projeta-se que o uso da água irá aumentar cerca de 1% ao ano nos próximos 30 anos. Espera-se que a nossa dependência geral das águas subterrâneas aumente, à medida que a disponibilidade de água superficial se torne cada vez mais limitada devido à mudança climática.

“Cada vez mais recursos hídricos estão sendo poluídos, superexplorados e esgotados pelo ser humano, às vezes com consequências irreversíveis. Usar de forma mais inteligente o potencial dos recursos hídricos subterrâneos ainda pouco desenvolvidos e protegê-los da poluição e da superexploração são ações essenciais para atender às necessidades fundamentais de uma população global cada vez maior, bem como para enfrentar as crises climáticas e energéticas globais”, afirma a diretora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay.

“Melhorar a maneira como usamos e gerenciamos as águas subterrâneas é uma prioridade urgente para alcançarmos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030. Os tomadores de decisão devem começar a levar em consideração as formas vitais pelas quais as águas subterrâneas podem ajudar a garantir a resiliência e as atividades da vida humana em um futuro no qual o clima está se tornando cada vez mais imprevisível”, acrescenta Gilbert F. Houngbo, diretor da ONU-Água e presidente do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA).

Grandes benefícios e oportunidades – A qualidade das águas subterrâneas em geral é boa, o que significa que elas podem ser usadas de forma segura e acessível em termos financeiros, sem exigir níveis avançados de tratamento. Muitas vezes, as águas subterrâneas são a forma mais rentável de se fornecer abastecimento seguro de água às aldeias rurais.

Certas regiões, como por exemplo o Saara na África e o Oriente Médio, possuem quantidades substanciais de fontes de águas subterrâneas não renováveis que podem ser extraídas para manter a segurança hídrica. No entanto, não se deve negligenciar as gerações futuras nem os aspectos econômicos, financeiros e ambientais do esgotamento do armazenamento dos recursos hídricos.

Na África Subsaariana, as oportunidades oferecidas pelos vastos aquíferos permanecem amplamente subexploradas. Apenas 3% das terras agrícolas estão equipadas para irrigação – em comparação com 59% e 57%, respectivamente, na América do Norte e no Sul da Ásia –, e apenas 5% dessa área usa água subterrânea.

Como aponta o relatório, esse baixo uso não se deve à falta de água subterrânea renovável (que muitas vezes é abundante), mas, sim, à falta de investimentos em infraestrutura, instituições, profissionais capacitados e conhecimento sobre o recurso. O desenvolvimento das águas subterrâneas poderia atuar como um catalisador para o crescimento econômico, aumentando a extensão das áreas irrigadas e, portanto, melhorando os rendimentos agrícolas e a diversidade de culturas.

Em termos de adaptação à mudança climática, a capacidade dos sistemas de aquíferos de armazenar excedentes sazonais ou episódicos de água superficial pode ser explorada para melhorar a disponibilidade de água doce durante todo o ano, pois os aquíferos incorrem em perdas por evaporação substancialmente menores do que os reservatórios de superfície. Por exemplo, incluir o armazenamento e a captação de águas subterrâneas como parte do planejamento do abastecimento urbano de água aumentaria a segurança e a flexibilidade em casos de variação sazonal.

Liberar todo o potencial das águas subterrâneas o que precisa ser feito?

1. Coletar dados – O relatório levanta a questão da falta de dados sobre as águas subterrâneas e enfatiza que o monitoramento desse recurso muitas vezes é uma “área negligenciada”. Para melhorar isso, a aquisição de dados e informações, que geralmente fica sob a responsabilidade de agências nacionais (e locais) de águas subterrâneas, poderia ser complementada pelo setor privado. Em particular, as indústrias de petróleo, gás e mineração já possuem uma grande quantidade de dados, informações e conhecimento sobre a composição das regiões subterrâneas mais profundas, incluindo os aquíferos. Por uma questão de responsabilidade social corporativa, as empresas privadas são altamente incentivadas a compartilhar esses dados e informações com profissionais do setor público.

2. Fortalecer os regulamentos ambientais – Como a poluição das águas subterrâneas é praticamente irreversível, ela deve ser evitada. Os esforços de fiscalização e criminalização de poluidores, no entanto, muitas vezes são desafiadores devido à natureza invisível das águas subterrâneas. A prevenção da contaminação dessas águas requer o uso adequado da terra e regulamentações ambientais apropriadas, especialmente nas áreas de recarga de aquíferos. É imperativo que os governos assumam seu papel como guardiões de recursos, tendo em vista os aspectos de bem comum das águas subterrâneas, para garantir que o acesso e o lucro sejam distribuídos de forma equitativa e que o recurso permaneça disponível para as gerações futuras.

3. Reforçar os recursos humanos, materiais e financeiros – Em muitos países, a falta geral de profissionais no campo de águas subterrâneas entre o pessoal das instituições e administrações locais e nacionais, bem como responsabilidades, financiamento e apoio insuficientes dos departamentos ou agências de águas subterrâneas, dificultam a gestão eficaz desse recurso. O compromisso dos governos quanto a construir, apoiar e manter a capacidade institucional relacionada às águas subterrâneas é crucial.

Sobre o relatório – O Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento dos Recursos Hídricos (WWDR), a principal publicação da ONU-Água sobre questões relativas a água e saneamento, tem como foco um tema diferente a cada ano. O relatório é publicado pela UNESCO em nome da ONU-Água, e sua produção é coordenada pelo Programa Mundial de Avaliação da Água da UNESCO (WWAP). O relatório fornece uma visão sobre as principais tendências relativas à situação, ao uso e à gestão da água doce e do saneamento, com base no trabalho de membros e parceiros da ONU-Água. Lançado juntamente com o Dia Mundial da Água, o relatório leva aos tomadores de decisão conhecimento e ferramentas para formular e implementar políticas hídricas sustentáveis. Ele também oferece exemplos de melhores práticas e análises aprofundadas para estimular ideias e ações para uma melhor gestão do setor hídrico e outros.