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Raríssimo, pássaro meio macho, meio fêmea é visto em reserva na Colômbia

Raríssimo, pássaro meio macho, meio fêmea é visto em reserva na Colômbia

Ave que apresenta uma condição incomum chamada ginandromorfismo bilateral exibe plumagem feminina à esquerda e masculina à direita e foi flagrada em vídeo; assista

O zoólogo Hamish Spence, da Universidade de Otago, na Nova Zelândia, estava de férias na Colômbia quando reconheceu uma rara ave em uma reserva florestal: um exemplar de saí-verde (Chlorophanes spiza) metade fêmea e metade macho.

O animal apresenta uma condição chamada ginandromorfismo bilateral, que faz com que ele tenha uma divisão de características masculinas e femininas. Um relato sobre a descoberta foi publicado na edição de dezembro (volume 94) da revista Journal of Field Ornithology.

O saí-verde avistado na Colômbia é apenas o segundo exemplo registrado de ginandromorfismo em sua espécie em mais de 100 anos. Spencer identificou a ave após ela ser apontada pelo ornitólogo amador John Murillo durante suas férias.

“Muitos observadores de pássaros poderiam passar toda a vida sem ver um ginandromorfo bilateral em qualquer espécie de pássaro”, considera o zoólogo, em comunicado. “O fenômeno é extremamente raro em aves.”

Conforme explica o especialista, o ginandromorfismo bilateral “surge de um erro durante a divisão celular feminina para produzir um óvulo, seguido por uma dupla fertilização por dois espermatozoides.” Esse exemplo específico mostra que, “como em várias outras espécies, qualquer lado do pássaro pode ser masculino ou feminino.”

Os principais grupos nos quais o ginandromorfismo foi registrado incluem animais que apresentam um forte dimorfismo sexual: mais frequentemente insetos, especialmente borboletas, crustáceos, aranhas e até lagartos e roedores.

Spencer e colegas comprovaram o avistamento da ave ginandromorfa na Reserva Natural Demostrativa Don Miguel , em Villamaría, no departamento de Caldas, por fotografias e um curto vídeo. Veja:

Os pesquisadores relatam que o saí-verde esteve na reserva por pelo menos 21 meses. As observações ocorreram entre outubro de 2021 e junho de 2023, no entanto, a ave não estava presente todos os dias. Na verdade, parecia permanecer nas proximidades por períodos de quatro a seis semanas e depois desaparecer por mais oito semanas ou mais.

O bico da ave rara parecia ser típico de uma coloração masculina, embora a parte inferior esquerda da mandíbula fosse possivelmente de um amarelo mais fosco. A íris era marrom avermelhada brilhante. É impossível dizer se os órgãos internos do animal também eram ginandromórficos bilateralmente, mas os cientistas suspeitam que sim.

Já o comportamento do saí-verde correspondia em grande parte ao de outros membros de sua espécie. Porém, muitas vezes, ele esperava que os demais fossem embora antes de se alimentar de frutas, que eram distribuídas diariamente pelos proprietários da reserva.

“O indivíduo era territorial, não permitindo que outros de sua espécie se aproximassem dos alimentadores”, escrevem os pesquisadores. “Não sabemos se esse comportamento estava relacionado à época de reprodução (maio a julho), contudo”.

Como evitava os outros pássaros, a ave ginandromorfa provavelmente não teve qualquer oportunidade de se reproduzir, segundo os especialistas. Eles destacam que as observações se estenderam por um período incomumente longo e são as primeiras de um ginandromorfo dessa espécie vivo na natureza. “Além disso, a ave que observamos exibia plumagem feminina à esquerda e masculina à direita, o oposto do caso anterior de mais de 100 anos atrás”, observaram os pesquisadores.