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Entenda por que bagaço do maracujá pode virar aliado na luta contra o câncer de próstata

Entenda por que bagaço do maracujá pode virar aliado na luta contra o câncer de próstata

Pesquisa da Unicamp identificou que composto extraído da fruta conseguiu retardar desenvolvimento dos tumores em experimentos feitos em camundongos.

Frequentemente descartado, o bagaço de maracujá é fonte de um extrato que pode se tornar aliado na luta contra o câncer de próstata. É o que indica uma tese de doutorado desenvolvida por meio de uma parceria entre dois institutos da Universidade de Campinas (Unicamp).

Segundo Mário Roberto Maróstica Júnior, professor e coorientador do estudo, a etapa pré-clínica indicou que o composto extraído da fruta conseguiu retardar o desenvolvimento dos tumores em experimentos feitos em camundongos, revelando ser um alimento com potencial de prevenção.

Trabalhamos sempre com os alimentos no campo da prevenção, não da cura. Não posso dizer que isso vai servir para curar a doença em um ano. É importante manter os pés no chão e entender que descobrimos mecanismos que explicam a ação do maracujá contra o desenvolvimento do câncer de próstata como um potencial aliado para a utilização dele na prevenção”, destaca Maróstica.

👉 Nesta reportagem você vai ver:

  • Como foi feito o estudo?
  • Qual é a relação entre maracujá e câncer de próstata?
  • Quais são os próximos passos?

 

Polpa de maracujá — Foto: Pedro Santana/EPTV

Polpa de maracujá — Foto: Pedro Santana/EPTV

Como foi feito o estudo?

Para entender como as propriedades da fruta agem no corpo, os pesquisadores utilizaram um extrato do bagaço desenvolvido anteriormente pelo professor Julian Martinez e patenteado pela universidade. Com a substância em mãos, era hora de entender a ação biológica do composto.

“Estudamos o ponto de vista da redução da probabilidade de incidência da doença, e isso foi o que a gente fez no modelo de câncer de próstata. Por que o câncer de próstata? Porque é o mais incidente para o público masculino e, se for descoberto logo, tem maior possibilidade de reversão”, explica.

O experimento utilizou camundongos que desenvolvem, de maneira progressiva, lesões na próstata que imitam o câncer em humanos. Os animais receberam o composto de maracujá por cerca de 2 a 3 meses, período no qual foi possível observar a redução dos tumores.

Maracujá e câncer de próstata

Maróstica explica que o maracujá foi escolhido por possuir compostos fenólicos, também conhecidos como antioxidantes. “Eles revertem, por exemplo, radicais livres. Eles impedem que esses radicais livres se propaguem e que eles ajam”, explica o professor.

Os radicais livres, por sua vez, têm um papel importante no início do câncer: quando os radicais livres estão presentes em excesso no organismo, as células começam a crescer desordenadamente e levam ao aparecimento de doenças crônicas e não transmissíveis, relacionadas ao estilo de vida.

“O estilo de vida é um fator preponderante. Quando a gente insere um alimento ou um extrato, por exemplo, que é rico nesses compostos antioxidantes, ele atua para reverter esses processos que levam, em tese, ao desenvolvimento da doença. Então, eles acabam sendo protetores”, afirma.

Além disso, a pesquisa identificou que o extrato do bagaço do maracujá também reduziu o processo de angiogênese – em outras palavras, o crescimento de novos vasos sanguíneos. “Quanto mais vascularizado for o tumor, mais ele vai crescer. Ou seja, tem sangue chegando ali, então tem nutriente e vai crescendo. Se você diminui essa angiogênese, você diminui o crescimento do tumor”.

Os pesquisadores também notaram o efeito da substância na apoptose, ou morte das células. “Toda célula nasce e morre, só que a célula cancerígena perde essa capacidade. Esse extrato aumentou a porcentagem de apoptose, que é a morte dessa célula cancerígena”, destaca Maróstica.

Professor Mário Roberto Maróstica Júnior, da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp — Foto: Pedro Amatuzzi/Inova Unicamp

Professor Mário Roberto Maróstica Júnior, da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp — Foto: Pedro Amatuzzi/Inova Unicamp

Quais são os próximos passos?

O coorientador do estudo frisa que, atualmente, não há testes em humanos em andamento, e eventuais estudos com pacientes diagnosticados com câncer de próstata requerem cuidado porque envolvem diversas variáveis e questões éticas.

Para o futuro, uma possibilidade seria o desenvolvimento de um nutracêutico – também definido como uma categoria de suplemento alimentar feita a partir de alimentos que têm compostos benéficos para a saúde – à base do extrato.

Outra esperança é o estímulo do uso de subprodutos da indústria, como o bagaço do maracujá, para produção de compostos de alto valor agregado. “Caminhar nessa direção da preservação da biodiversidade, estímulo do consumo e estímulo do aproveitamento global dos alimentos pela indústria”, diz o professor.