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Plantas são “fofoqueiras” e não evoluíram para serem gentis com as outras

Plantas são “fofoqueiras” e não evoluíram para serem gentis com as outras

Em vez de avisar umas às outras sobre uma catástrofe iminente, plantas são mais propensas a esconderem sinais de sofrimento umas das outras — ou até mesmo mentir, “fofocando” sobre um perigo que não existe, de acordo com um novo estudo.

A pesquisa publicada no último dia 21 de janeiro no periódico científico Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) foi conduzida por pesquisadores da Universidade de Oxford, na Inglaterra, e da Universidade Livre de Amsterdã, na Holanda.

“Nossos resultados indicam que é mais provável que as plantas se comportem de forma enganosa em relação aos seus vizinhos, em vez de altruístas”, diz o autor principal da pesquisa, Thomas Scott, do Departamento de Biologia de Oxford, em comunicado. “Por exemplo, as plantas podem sinalizar que um ataque de herbívoro está ocorrendo, mesmo quando nenhum herbívoro está presente. As plantas podem obter um benefício da sinalização desonesta porque ela prejudica seus concorrentes locais, enganando-os a investir em mecanismos de defesa de herbívoros dispendiosos.”

Como as plantas se comunicam?

A comunicação entre as plantas ocorre entre uma complexa rede subterrânea de fungos conhecida popularmente como “a rede ampla da madeira”. Os fungos micorrízicos formam parcerias com as raízes das plantas, por meio das quais elas recebem nutrientes e eles, carbono.

Quando um herbívoro ou patógeno ataca uma planta, isso geralmente leva outras plantas conectadas à mesma rede fúngica a regular positivamente seus mecanismos de defesa. Porém, ainda não se sabe se as plantas sendo atacadas avisam outras sobre o ataque. Essa sinalização contraria a teoria evolucionária, que sugere que esse tipo de comportamento só seria favorecido se houve um benefício para todos os envolvidos.

Para investigar o assunto, os pesquisadores averiguaram situações hipotéticas por meio de modelos matemáticos. Eles tiveram muita dificuldade de achar cenários em que as plantas seriam selecionadas evolutivamente para avisar as outras. Isso porque elas competem entre si por luz solar e nutrientes, podendo se beneficiar com sinais desonestos.

Segundo os modelos matemáticos, há duas explicações para o porquê das plantas vizinhas regularem positivamente seus mecanismos de defesa quando uma delas é atacada. A primeira hipótese diz que essas criaturas fotossintetizantes não podem suprimir o envio de uma pista sobre o ataque – mesmo que não queiram enviar essa informação. É mais ou menos quando nós humanos não conseguimos evitar ficarmos vermelhos quando estamos envergonhados.

Outra hipótese envolve os fungos. Eles monitoram suas plantas hospedeiras, detectam quando elas são atacadas e então avisam outras plantas. Isso faz sentido evolutivo, pois beneficia os seres do reino fungi.

“Os fungos micorrízicos dependem das plantas em sua rede para carboidratos, então é importante manter essas plantas em boas condições”, explica Scott. “Talvez os fungos estejam ouvindo suas plantas parceiras, detectando quando uma foi atacada e avisando as outras para se prepararem.”

Para o coautor do estudo, Toby Kiers, da Universidade Livre de Amsterdã, não há dúvida de que há uma transferência de informações. “A questão é se as plantas estão enviando sinais ativamente para avisar umas às outras. Talvez, assim como vizinhos fofoqueiros, uma planta esteja simplesmente bisbilhotando a outra”, compara.