Anchor Deezer Spotify

Pesquisadores criam sensor de baixo custo para avaliar qualidade da água

Pesquisadores criam sensor de baixo custo para avaliar qualidade da água

Indicado para comunidades vulneráveis, aparelho atende atende aos critérios da OMS

Um novo sensor desenvolvido por pesquisadores do Brasil e do Nepal promete transformar o monitoramento da qualidade da água em áreas carentes. O dispositivo, resultado da colaboração entre a Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP, o Instituto de Pesquisa de Phutung no Nepal e a Universidade de York, foi recentemente descrito no periódico Optica. Este sensor inovador utiliza luzes de LED para detectar microrganismos patogênicos na água sem a necessidade de lentes, tornando-o mais leve, compacto e econômico.

“Nosso ponto de partida foi a necessidade de se criar soluções viáveis, ou seja, mais rápidas, baratas e portáteis, para o monitoramento da qualidade da água onde as comunidades vulneráveis vivem”, explica Emiliano Martins, professor do Departamento de Engenharia Elétrica e de Computação da EESC e um dos participantes do projeto. “Um dos grandes problemas é que os métodos tradicionais, lentos e caros, raramente podem ser feitos nesses locais, o que resulta na ingestão de água imprópria e suas consequências, com doenças e mortes, muitas delas de crianças, todos os anos”, completa.

coronavírus no esgoto
Foto: iStock

O sistema funciona com base em fluorescência: LEDs com luz UV excitam proteínas de micróbios nocivos presentes na água, e o sensor detecta a fluorescência emitida por essas proteínas – sobretudo derivadas do aminoácido chamado triptofano. “Entre os aminoácidos essenciais que os humanos e a maioria dos animais que abrigam coliformes em seus intestinos não conseguem sintetizar, o triptofano é o mais fluorescente e pode ser encontrado dentro e fora das células das bactérias e, por essa razão, é o alvo do nosso sistema de detecção na água”, detalha o líder da equipe de pesquisa, Ashim Dhakal, do Phutung Research Institute no Nepal.

Essa abordagem permite identificar microrganismos a níveis inferiores a uma parte por bilhão, atendendo aos critérios da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a avaliação de contaminação fecal. O projeto é uma resposta direta à falta de tratamento adequado de água em comunidades vulneráveis de países em desenvolvimento, como o Brasil e o Nepal.

esgoto água potável
Foto: Imani | Unsplash

“As moléculas absorvem a energia da luz, perdem parte dela como calor e emitem o resto da energia por meio de luz de menor energia. A absorção e a emissão dependem da configuração eletrônica das moléculas-alvo”, descreve Martins. A quantidade de luz emitida é medida usando um detector para quantificá-las, o que nos permite inferir a presença da bactéria na amostra”.

O novo fluorômetro desenvolvido não só elimina a necessidade de lentes, mas também melhora o desempenho em comparação aos dispositivos tradicionais. “O sinal de fluorescência alcançado é quase o dobro da força de um sistema com lentes”, afirma Martins. A tecnologia é projetada para ser uma alternativa de baixo custo e alta eficiência às soluções convencionais.

esgoto água potável
Foto: engin akyurt | Unsplash

Uma das principais vantagens do sensor é a sua facilidade de uso. Os resultados são apresentados em números simples e indicadores de semáforo, permitindo que qualquer pessoa possa interpretar rapidamente os dados e tomar as ações necessárias. Isso contrasta com os métodos tradicionais, que exigem cultivo de amostras e quantificação de bactérias, um processo que pode levar mais de 18 horas e é impraticável em situações onde uma confirmação imediata da segurança da água é necessária.

Apesar dos resultados promissores, a equipe ainda enfrenta desafios. “Em algumas situações, nosso sensor ainda dá uma espécie de falso positivo, ou seja, acusa a presença de microrganismos, mesmo com a água tendo sido tratada e estando apta para consumo”, calcula Martins. Eliminar esses falsos positivos é o principal desafio que estamos abordando neste momento, o que conseguiremos brevemente”.

“Estamos evoluindo bem num projeto de alto impacto social e que, vale dizer, utilizou muito pouco recurso financeiro. Acho que é um ótimo exemplo de que é possível fazer pesquisa de ponta mesmo com poucos recursos”, conclui o professor da EESC. “Seguimos avançando, esperançosos de que esse trabalho facilite o monitoramento da água em locais de vulnerabilidade, de modo a contribuir para uma redução de doenças e mortes decorrentes do consumo de água inapropriada”.