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Pássaros estão usando espetos antiaves para proteger seus ninhos

Pássaros estão usando espetos antiaves para proteger seus ninhos

Comportamento anormal tem sido avistado em diferentes países da Europa e traz série de riscos para espécies de corvídeos

Alguns pássaros europeus parecem ter adotado a máxima “o que não te mata, te fortalece”. Isso porque biólogos do Centro de Biodiversidade Naturalis e do Museu de História Natural de Rotterdam, na Holanda, descobriram que aves como gralhas-pretas (Corvus corone) e pegas eurasianas (Pica pica) estão utilizando em seus ninhos espetos antiaves.

Feitas de metal, essas pontas contra pássaros são muito utilizadas em edifícios para impedir que esses animais pousem em algumas áreas deles e montem seus ninhos na área.

“Isso soa como uma piada”, comenta o biólogo Auke-Florian Hiemstra, do Museu de História Natural de Leiden, em nota. “Mesmo para mim, que sou pesquisador de ninhos, esses são os ninhos de pássaros mais loucos que já vi.”

Diferentes aves

Um artigo recém-publicado por Hiemstra e seus colegas no periódico Deinsea descreve vários ninhos com pontas antipássaros. Segundo os autores, esse comportamento já foi observado em diferentes países europeus.

Biólogos descobriram dois ninhos como esses em Rotterdam. Um deles, que havia sido feito por corvos e tinha 16 pontas antipássaros, foi encontrado em um álamo em 2009. Já o outro, que também era de corvos, foi visto num salgueiro-chorão em 2021.

Ninho de corvo preto feito de espetos antiave — Foto: NMR998900189467 (Het Natuurhistorisch)

Ninho de corvo preto feito de espetos antiave — Foto: NMR998900189467 (Het Natuurhistorisch)

Além disso, há dois anos, um ninho de pegas nesse estilo foi avistado numa árvore próxima a um hospital em Antuérpia, na Bélgica. A estrutura de um metro quadrado tinha cerca de 1.500 espinhos de metal – era uma verdadeira fortaleza.

Nesse mesmo ano, um ninho de pegas com cerca de 12 espetos foi achado em Glasgow, na Escócia. E, em 2023, foi descoberto um ninho dessas aves todo feito de espetos de metal e plástico em Enschede, na Holanda.

Ao investigarem o porquê desses corvídeos estarem utilizando os espertos em seus lares, os biólogos ficaram surpresos. O objetivo das aves, aparentemente, era manter outros pássaros longe de seus ninhos. Até porque ovos de pegas eurasianas, por exemplo, são saborosos lanches de corvos.

“[Os espetos] são literalmente feitos para manter os pássaros afastados e é assim que parecem ser usados ​​também pelos pássaros”, explica Hiemstra.

Gralha-preta (Corvus corone) — Foto: BS Thurner Hof / Wikimedia Commons

Gralha-preta (Corvus corone) — Foto: BS Thurner Hof / Wikimedia Commons

Pesquisadores observam que as pegas costumam dissuadir os corvos utilizando galhos cheios de espinhos para construir o telhado de seus ninhos. Para achar os materiais adequados, essas aves até percorrem distâncias mais longas.

Assim, para Hiemstra e seus colegas, as pegas eurasianas veem as pontas antipássaros como um ótimo material para proteger e solidificar seus ninhos.

Outros perigos

Em sua pesquisa, os biólogos também apontam que pegas já usaram outros materiais pontiagudos, como arame farpado e agulhas de tricô, para montarem seus lares. Além disso, eles observaram um ninho feito com um pedaço de rede antipássaros, material frequentemente usado em jardins e varandas na Europa.

A equipe chama a atenção para o fato de que atualmente existe mais material antropogênico – isto é, criado pela atividade humana – do que natural. Portanto, os pássaros urbanos, como pegas e corvos, acabam adotando esses objetos em vez de galhos cheios de espinhos.

Contudo, embora isso possa demonstrar que as aves têm um grande grau de adaptação ao seu meio, os profissionais alertam que a utilização desses objetos pode ser prejudicial. Além dos pássaros poderem se enroscar nos fios, as cores vivas dos materiais feitos fatalmente chamam mais atenção de seus predadores.

Pega da espécie Pica pica  — Foto: Dion Art / Wikimedia Commons

Pega da espécie Pica pica — Foto: Dion Art / Wikimedia Commons

Outro problema é quando esses animais utilizam bitucas de cigarro em seus lares. Embora compostos desses dejetos possam repelir parasitas, eles também aumentam o risco de anormalidades cromossômicas nas aves, que podem alimentar seus filhotes com esses objetos por engano.

Assim, Hiemstra e seus colegas afirmam que é necessário que os humanos façam o possível para minimizar os danos a esses animais e cuidem melhor do meio ambiente.