Anchor Deezer Spotify

O que a fome emocional tem a ver com a obesidade? Pesquisa explica

O que a fome emocional tem a ver com a obesidade? Pesquisa explica

64% das pessoas dizem que comem em excesso para lidar com a ansiedade e estresse, o que pode levar a obesidade, doença ainda pouco diagnosticada no país

Uma pesquisa da ABESO (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica) e da Merck, realizada pelo instituto Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica), mostrou que 7 em cada 10 brasileiros sentem ou já sentiram fome emocional – quando uma pessoa come como forma de recompensa ou para lidar com suas emoções, e não por uma necessidade fisiológica de repor energia.

Dos entrevistados, 64% das pessoas concordam que comer em excesso é uma forma de lidar com a ansiedade e estresse, dados que revelam muito sobre a percepção do brasileiro com a alimentação e a obesidade, além de seus preconceitos e gatilhos emocionais. “A obesidade é uma doença crônica, heterogênea e recidivante, que deve ser diferenciada do ‘desejo social de emagrecer’”, afirma Bruno Halpern, presidente da ABESO.

Entre os participantes, 60% disseram que comeram chocolate, pizza ou outras guloseimas quando estavam estressados ou de mal humor, número que aumenta para 70%, quando se trata de jovens entre 18 a 24 anos. E 66% afirmaram sentir desejos repentinos e incontroláveis de comer doces ou frituras – sensação, conhecida como “craving”, caracterizada pela busca de prazer imediato, algo diretamente relacionado aos níveis de endorfina no cérebro, o “hormônio da felicidade”, que promove bem-estar e alivia o estresse. Entre as pessoas com obesidade, esse índice sobe para 75%.

De acordo com o levantamento, a incapacidade de controlar o desejo pela comida ocupa a segunda posição no ranking das principais causas da obesidade, mencionada por 40% das pessoas, ficando atrás do sedentarismo (58%). Os fatores genéticos, ficaram em terceiro lugar, com 37 % das respostas. “No entanto, é importante ressaltar que essa é uma percepção da população, e não necessariamente a realidade”, diz Halpern.

Doença pouco diagnosticada

Entre as pessoas obesas, somente 39% declaram que já receberam o diagnóstico da doença. “A obesidade é uma doença comum e muito pouco diagnosticada, menos ainda tratada. Muitos não buscam tratamento por achar que devem resolver sozinhos, por medo de serem julgados e por diversas outras razões”, diz o presidente da Abeso. “Buscar tratamento não é nenhum demérito”.

Muitas pessoas acreditam que é necessário atingir um índice de massa corporal (IMC) considerado “normal” para obter benefícios para a saúde, o que não é verdade. “Essa ideia errônea está associada a uma das principais razões para as altas taxas de desistência no tratamento da obesidade”, afirma Halpen. Segundo o especialista, a expectativa de alcançar uma normalização completa do IMC é raramente realizável, o que leva à frustração e à sensação de incapacidade por parte do paciente.

Segundo a pesquisa, aenas 1 em cada 100 participantes acredita que perder 5% do peso seja o necessário para que uma pessoa com sobrepeso ou obesidade reduza os riscos das complicações associadas à doença, e 6 em cada 100 acham que é preciso emagrecer 10% do peso.  Mas os estudos mostram que pequenas reduções de peso, de 3% a 5%, já trazem benefícios significativos na prevenção de doenças como hipertensão e diabetes.

De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), a obesidade é uma doença crônica caracterizada pela presença de gordura corporal em quantidade que representa riscos à saúde do paciente. Cerca de 3 em cada 5 entrevistados reconhecem a obesidade como uma doença. Entretanto, um outro dado reforça o preconceito pelo qual os pacientes podem passar: 17% das pessoas acham que falta de vontade de emagrecer e acomodação são as causas da obesidade.

Automedicação

Pelos preconceitos e até vergonha de procurar um médico, muitas pessoas acabam tomando remédios por conta própria. Segundo uma pesquisa da MANUAL, startup britânica que trabalha com tratamentos para emagrecimento, 44% dos brasileiros que querem emagrecer com medicamentos, não tem indicação médica.

O levantamento feito com cerca de 20 mil homens e mulheres em cinco capitais do Brasil, também observou que 55% dos entrevistados já tentam emagrecer há pelo menos cinco anos e que as principais dificuldades até então foram a falta de motivação e a vontade de comer alimentos como doces e frituras, que envolve a fome emocional. “Há uma alta procura por esses medicamentos, por questões estéticas. Só entre as pessoas interessadas nos tratamentos de emagrecimento da MANUAL, 71% querem estar mais seguras com a própria aparência”, disse Rodrigo Brunetti, Country Manager da MANUAL no Brasil.

Vale ressaltar, porém, que sendo uma doença, o uso de remédios para emagrecer deve ser realizado com acompanhamento médico. E o tratamento adequado da obesidade requer uma abordagem de longo prazo, com foco em mudança de estilo de vida. “Embora a mudança no estilo de vida seja parte essencial do tratamento da obesidade, trata-se de uma doença complexa, influenciada por uma combinação de fatores adquiridos”, explica Fabiana Mandel Cyrulnik, Gerente médica de diabetes e obesidade da Merck, que recentemente lançou no Brasil o Contrave®, fármaco antiobesidade capaz de atuar no controle do “craving” por comida e da fome emocional, além de agir também no controle da fome fisióloga.

“Os medicamentos antiobesidade podem oferecer maior potência na perda de peso e, mais importante ainda, manutenção no peso perdido a longo prazo”, completa a médica, incluindo o novo fármaco que combina cloridrato de bupropiona 90 mg e cloridrato de naltrexona 8 mg em um único comprimido, sendo indicada para adultos com obesidade ou sobrepeso, que apresentem ao menos uma comorbidade, como hipertensão, diabetes tipo 2 ou dislipidemia (colesterol alto) e realizada por receita controlada, com tratamento acompanhado por um médico.