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‘Pantanal Fluminense’ tem ponto mais preservado da Baía de Guanabara

‘Pantanal Fluminense’ tem ponto mais preservado da Baía de Guanabara

Até onças-pintadas, as rainhas do bioma do Centro-Oeste brasileiro, já foram vistas por lá

Garças, lontras, capivaras, jacarés-de-papo-amarelo e outros bichos ocupam a região de beleza natural exuberante. Em outros tempos, até onças-pintadas, as rainhas do bioma do Centro-Oeste brasileiro, já foram vistas por lá. Com rios sinuosos, águas escuras e densa vegetação, a Área de Proteção Ambiental (APA) de Guapimirim, onde se concentra grande parte dos mangues remanescentes da Baía de Guanabara, tem sido chamada de Pantanal Fluminense.

— Essa área é a mais preservada da Baía. O verde, algumas espécies de animais e a formação dos rios lembram muito o Pantanal, principalmente quando vistos de cima. Por isso, a região acabou recebendo esse nome — explica o biólogo marinho Rodrigo Gaião, da área técnica do Projeto Uçá, executado pela ONG Guardiões do Mar, parte do Programa Petrobras Socioambiental.

A paisagem pouco conhecida mesmo para quem vive no estado se estende por trechos dos municípios de Magé, Guapimirim, Itaboraí e São Gonçalo. Impressiona, até pelo contraste com o entorno: análises do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) mostraram que, pela primeira vez na série histórica, iniciada em 2014, os 21 pontos de monitoramento de qualidade das águas da Baía registraram índices “ruim” ou “péssimo” em 2021.

A Guardiões do Mar atua desde 1998 na conservação e na remoção de lixo de ecossistemas costeiros brasileiros, como os mangues. Um dos parceiros da instituição é a Cooperativa Manguezal Fluminense. Pescador e presidente do grupo, Alaildo Malafaia conta que hoje cerca de 400 famílias vivem no território da APA e sobrevivem de recursos naturais do mangue.

— A região é linda demais. Quando falam que a Baía está morrendo, eu morro um pouco junto. Dói meu coração. Dizem que os mangues têm cheiro desagradável, que é só lama, sujo, mas para mim isso aqui é vida. A conscientização ambiental me fez ver que sou apaixonado por esse ecossistema que sustenta centenas de famílias. Hoje, outras pessoas de fora também estão se encantando pelos manguezais.

Atração para turistas

A presença de turistas na região da APA, segundo Malafaia, é constante, assim como a comparação com o Pantanal.

— Trago grupos de vários cantos do Brasil e também estrangeiros, como dos Estados Unidos e da Argentina. Quando navego com eles por esses rios, gosto de brincar e chamar a atenção lembrando que eles não estão no Pantanal, mas dentro da Guanabara. Essa comparação é muito comum. Muitas pessoas se esquecem de que isso aqui é Rio de Janeiro, é algo nosso — orgulha-se.

As atividades do Projeto Uçá têm como objetivo preservar a qualidade e a saúde ambiental de manguezais e ecossistemas costeiros e marinhos na área de influência da Baía de Guanabara. Uma ação que mobiliza catadores durante o período de defeso do caranguejo-uçá, que dá nome ao projeto, é a Operação LimpaOca. Trata-se de um trabalho de formiguinha. Com essa atividade, foram recolhidos 9.335 quilos de resíduos sólidos de 80 mil metros quadrados no último trimestre do ano passado. Além do benefício para o meio ambiente, a ação é alternativa de renda, já que os trabalhadores, recebem pelo serviço.

Ao longo dos últimos dez anos, o projeto retirou 35 toneladas de lixo de 280 mil metros quadrados da APA de Guapimirim — área que corresponde a cerca de 33 campos de futebol. E já são 182 mil metros quadrados de florestas de mangue restauradas por meio de replantio de 64 mil mudas.

Absorção de carbono

A APA, criada pelo Decreto 90.225, de setembro de 1984, tornou-se a primeira Unidade de Conservação de Manguezais do Brasil. Fica num dos pontos mais preservados da maltratada Guanabara, além de ser a última área da baía a apresentar aspectos próximos aos do período anterior à colonização do país, com características ecológicas e biológicas compatíveis com manguezais isentos de intervenção humana e agressiva. A região também abriga espécies ameaçadas de extinção no Estado do Rio, como a biguatinga, a marreca-caneleira e o jacaré-de-papo-amarelo.

Área de Proteção Ambiental (APA) de Guapimirim. o "Pantanal Fluminense" — Foto: Custodio Coimbra/O Globo

Área de Proteção Ambiental (APA) de Guapimirim. o “Pantanal Fluminense” — Foto: Custodio Coimbra/O Globo

— Os manguezais correspondem a um dos ecossistemas de Mata Atlântica que mais absorvem e armazenam carbono. Uma floresta de mangue é capaz de sequestrar e reter de quatro a cinco vezes mais carbono do que uma floresta de continente, auxiliando no combate ao aquecimento global e às mudanças climáticas — ensina o gerente de Reflorestamento e Projetos Ambientais da Petrobras, Gregório Araújo.

Além disso, os manguezais são berçários e fonte de alimento para peixes, crustáceos, moluscos e aves:

— O papel fundamental deles é manter a Baía de Guanabara viva. É um berço, recebe espécies que vêm se reproduzir ou se restabelecer. Manguezais também propiciam resiliência costeira frente a desastres naturais e grandes enchentes, além de funcionar como barreira natural, impedindo que detritos e sedimentos cheguem às águas, por ser um ecossistema de transição entre o mar e terra — diz.

A Petrobras prevê investir, até 2024, R$ 16 milhões em seis projetos que promovem a conservação de manguezais no país.