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Nova espécie de maracujá é descoberta na Serra da Mantiqueira

Nova espécie de maracujá é descoberta na Serra da Mantiqueira

No mundo inteiro existem mais de 500 espécies de maracujá, entretanto, a grande maioria delas é nativa das Américas. No Brasil, há pelo menos 150. Por isso mesmo, nosso país é o maior produtor e consumidor mundial dessa fruta. E agora, ganhamos mais uma: a Passiflora purii, descoberta no município de Rio Preto, próximo do Parque Estadual da Serra Negra da Mantiqueira, em Minas Gerais.

Durante um trabalho em campo, foram as cores e a beleza da flor da nova espécie que chamaram a atenção da professora do Departamento de Botânica do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG), Ana Paula Gelli, e do pós-graduando em Biodiversidade e Conservação da Natureza, Leonardo Lima.

A flor da Passiflora purii apresenta duas séries de filamentos de coloração vinho, que contrastam com os tons de branco, amarelo e verde de seu miolo e pétalas.

Intrigados, os pesquisadores buscaram a ajuda de uma especialista da família Passifloraceae: a professora Ana Carolina Mezzonato, da mesma instituição, que só em 2021 descreveu três outras espécies de maracujá: Passiflora jorgeana, Passiflora bacabensis e Passiflora ita.

Após análises de amostras em laboratório e comparação com demais espécies, e por final, a publicação de um artigo científico confirmando a descoberta, temos agora a Passiflora purii.

O nome científico da nova espécie é uma homenagem à etnia Purí, que antes da chegada dos exploradores portugueses, habitava (e alguns ainda habitam) a área da Serra da Mantiqueira.

“Assim como os indígenas resistem buscando resgatar a história de seu povo, os impactos antrópicos [provocados pelo homem] observados no local onde a P. purii foi encontrada não foram suficientes para impedir a sobrevivência e a descoberta desta nova espécie”, afirma Ana Pauli. “O contato com os colonizadores foi catastrófico para os indivíduos dessa etnia, que foram mortos, escravizados e sequestrados. Esse processo inicial de colonização, bem como a atual constante exploração da biodiversidade, impacta severamente os ecossistemas brasileiros; a exemplo, o local em que foi encontrada essa nova espécie, que é um remanescente de vegetação cercada por pasto”, aponta.

Segundo a pesquisadora, o local onde foi encontrado o recém-descoberto maracujá, uma nanofloresta nebular, ou seja, uma formação florestal pouco conhecida e rara da Mata Atlântica, que representa apenas cerca de 2,5% das florestas tropicais do planeta.

É exatamente numa área de nanofloresta nebular, rodeada por pastagens, numa propriedade particular e não protegida, que foram achados os cerca de 50 exemplares da Passiflora purii. Por isso, acredita-se que a planta possa estar “criticamente em risco de extinção”.

Nova espécie de maracujá é descoberta na Serra da Mantiqueira e seu nome homenageia etnia indígena da região
A nova espécie em seu habitat natural
(Foto: Ana Carolina Mezzonato-Pires)

Apesar de tamanha variedade, só duas espécies de maracujá foram domesticadas e têm valor comercial, como alimento ou então nas indústrias de bebidas, cosméticos e farmacêutica. São elas o maracujá-amarelo ou maracujá-roxo, mais azedos (Passiflora edulis), e o maracujá-doce (P. Alata), que se come de colher – daí o nome tupi da fruta, mara kuya, que quer dizer “alimento na cuia”. Algumas espécies selvagens têm ainda uso ornamental (leia mais aqui).

Nova espécie de maracujá é descoberta na Serra da Mantiqueira e seu nome homenageia etnia indígena da região
Os filamentos de cor vinho são destaque na flor
(Foto: Ana Carolina Mezzonato-Pires)

*Com informações e entrevistas concedidas ao site de notícias da UFJF