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Na mira do clima: mortes de crianças e idosos relacionadas ao calor aumentaram 68% no mundo

Na mira do clima: mortes de crianças e idosos relacionadas ao calor aumentaram 68% no mundo

Novo estudo global publicado pela revista científica Lancet mostra efeitos nefastos da dependência global por combustíveis fósseis, principais vilões do aquecimento global

A dependência mundial por combustíveis fósseis, como petróleo, gás e carvão, tem deixado múltiplos impactos não apenas no meio ambiente, mas na saúde das pessoas. Grupos considerados mais vulneráveis correm maior risco de sofrer graves consequência da emergência climática. Segundo um estudo global da revista científica The Lancet, as mortes de crianças e idosos relacionadas ao calor aumentaram 68% no período entre 2017 e 2021, em comparação com 2000 e 2004.

A exposição ao calor extremo afeta diretamente a saúde, exacerbando condições problemáticas como doenças cardiovasculares e respiratórias, e causando insolação, complicações na gravidez, piora dos padrões de sono e da saúde mental, além do aumento da mortalidade relacionada a lesões. Também afeta a saúde indiretamente, limitando a capacidade das pessoas de trabalhar e se exercitar. No Brasil, o verão mais quente levou a menos 3,5 bilhões de horas trabalhadas em 2021.

De acordo com a Lancet, crianças menores de um ano experimentaram coletivamente 600 milhões de dias a mais de ondas de calor (4,4 dias a mais por criança) e adultos com mais de 65 anos enfrentaram 3,1 bilhões de dias a mais (3,2 dias a mais por pessoa), em 2012–2021, em comparação com 1986–2005.

Assinado por quase 100 cientistas de todo o o mundo, o estudo faz duras críticas aos governos e empresas que continuam a investir recursos em fontes poluentes em detrimento da saúde das populações. A pesquisa cita que 69 dos 86 governos analisados ​​subsidiaram os combustíveis fósseis com um total de US$ 400 bilhões em 2019, ao invés de apoiar a expansão de fontes de geração de energia mais limpas e renováveis, e de investir na fortificação do sistema de saúde.

“Os sistemas de saúde são a primeira linha de defesa para tratar os impactos na saúde física e mental de eventos climáticos extremos e outros impactos de um clima em mudança. Mas os sistemas de saúde estão lutando para lidar com o fardo da pandemia de COVID-19, interrupções na cadeia de suprimentos e outros desafios, colocando vidas em risco, hoje e no futuro”, diz a professora Kristie Ebi, uma das líderes da pesquisa da Lancet.

Diante da crise energética instaurada na Europa pela guerra da Rússia com a Ucrânia, o relatório alerta para o risco da atual retomada de projetos de carvão, a fonte mais suja, agravar o cenário global de problemas de saúde relacionados ao clima. Só em 2020, a poluição associada à queima de combustíveis fósseis contribuiu para a morte de 1,2 milhão de pessoas no mundo.

“Agora, as respostas míopes à crise energética e à crise do custo de vida ameaçam piorar as mudanças climáticas, com muitos governos e empresas voltando ao carvão, ameaçando ainda mais a saúde e a sobrevivência das pessoas”, diz um trecho do texto.

Simultaneamente, a mudança climática propicia a disseminação de doenças infecciosas, a quebra na safra de alimentos, problemas no abastecimento de água entre outro efeitos nefastos que colocam as populações sob maior risco.

O ano de 2022 marca o 30º aniversário da assinatura da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, na qual os países concordaram em prevenir mudanças climáticas antropogênicas perigosas e seus efeitos deletérios sobre a saúde e o bem-estar humano.

Segundo um novo relatório da ONU lançado a poucos dias da COP27, reunião de clima que começa dia 06 de novembro no Egito, o mundo está longe de frear a alta do termômetro a 1,5°C, como prometido no Acordo de Paris.

Em vez de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 43% até 2030, corte necessário para atingir a meta, os compromissos atuais dos 193 países signatários do pacto – conhecidos pela sigla NDC, ou Contribuições Nacionalmente Determinadas – levam ao aumento de emissões de 10,6% na próxima década em comparação com os níveis de 2010.

Globalmente, as promessas inadequadas colocam a humanidade numa rota de aquecimento de 2,5°C até 2100 acima das temperaturas pré-industriais.