Nova radioterapia a laser atinge tumores “na mosca” e poupa células saudáveis
Para além dos inúmeros avanços da oncologia nos últimos anos, cientistas e médicos trabalham constantemente em novas terapias, eficazes e seguras, no tratamento de tumores. Em Israel, uma equipe de pesquisadores desenvolveu um novo tipo de radioterapia que atinge apenas a área com células cancerígenas, através de um laser e raios alfa.
Conhecida oficialmente como DaRT (Diffusing Alpha emitters Radiation Therapy), a nova tecnologia para radioterapias já está em testes com humanos e os resultados, obtidos desde 2018, parecem cada vez mais promissores, segundo pesquisadores do Centro Médico Hadassah e da Universidade de Tel Aviv, ambos localizados em Israel.
Publicado na revista científica International Journal of Radiation Oncology, um dos estudos com a DaRT envolveu o tratamento de 13 voluntários com câncer de pele ou de cabeça e pescoço resistentes à radiação tradicional. Com o potencial tratamento, 9 tumores responderam de forma completa, três apresentaram uma resposta parcial e apenas um foi mantido em observação. Na pesquisa, nenhum indicador “importante de toxicidade foi notado”.
Onde a nova radioterapia com laser está disponível?
No momento, a radioterapia com laser está disponível apenas para pacientes que participam dos estudos clínicos, ou seja, ainda não está disponível no mercado, já que precisa ser autorizada e aprovada pelas agências reguladoras internacionais, como a Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos.
Neste cenário experimental, além dos pacientes israelenses, a DaRT deve, em breve, ser estudada em norte-americanos com alguns tipos de câncer resistentes. Isso porque pesquisadores do Memorial Sloan Kettering Center e do Dana Farber-Cancer Institute também irão contribuir em novas etapas do estudo.
Diversificar as populações é uma parte importante na validação de uma nova tecnologia médica e, agora, os responsáveis pela radioterapia buscam parcerias com centros de estudo no Brasil. “Gostaríamos de ter a pesquisa instituída também em algum hospital brasileiro, já que o país possui uma grande diversidade étnica e altas taxas de câncer”, conta Aron Popovtzer, professor da Universidade de Tel Aviv, para a BBC Brasil.
Como funciona o novo tratamento contra o câncer?
Hoje, as radioterapias disponíveis usam a radiação beta ou gama e estas são executadas através de fótons, elétrons ou prótons. Uma vantagem do modelo tradicional é que pode percorrer alguns centímetros dentro do organismo, irradiando de fora do corpo para dentro. Por outro lado, tende a destruir apenas uma das fitas de DNA da célula cancerosa, ou seja, o risco de remissão é maior.
No caso da DaRT, o que ocorre é a emissão de partículas alfa. Embora esta tecnologia percorra apenas alguns milímetros e demande a inserção de “sementes”, ataca diretamente o tumor e poupa as células saudáveis ao redor — é como se fosse um “tiro” mais preciso. Outra vantagem é que a capacidade de eliminar as duas tiras do DNA da célula cancerígena é maior, reduzindo a probabilidade de regeneração.
“É uma terapia nova, porque, ao longo dos anos, apesar de sabermos que as partículas alfa têm características específicas que a tornam muito eficaz para a radiação, simplesmente não sabíamos como usá-la”, explica Popovtzer. Com o avanço das pesquisas, é provável que, em alguns anos, o novo tratamento chegue a inúmeros locais, levando melhores expectativas de cura aos pacientes.