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Muralha da China tem “pele viva” que a mantém de pé há 2 mil anos

Muralha da China tem “pele viva” que a mantém de pé há 2 mil anos

Cientistas descobriram que uma das estruturas mais emblemáticas da humanidade é segurada por biocrosta que a protegeu do vento, da chuva e de outras forças corrosivas

Uma das Sete Maravilhas do Mundo pela Unesco, a Grande Muralha da China tem mais de 2 mil anos e se estende por mais de 21 mil km, mas costumava ser muito maior no passado. O que resta hoje é apenas uma fração da barreira erodida com o tempo.

O que mantém a estrutura de pé até agora é uma “pele viva”, composta por bactérias, musgos, líquens e outros organismos. Essa camada de seres é chamada de biocrosta e foi estudada por cientistas, que publicaram os resultados no último dia 8 de dezembro na revista Science Advances.

A pesquisa mostra que a “pele viva” protegeu partes da construção do vento, da chuva e de outras forças corrosivas, segundo a revista Science. “As biocrostas melhoram a estabilidade mecânica e reduzem a erodibilidade da Grande Muralha”, escreveram os autores, no estudo.

O cientista Bo Xiao, da Universidade Agrícola da China, e seus colegas coletaram amostras de oito seções diferentes da muralha cobertas por biocrostas e compararam suas propriedades físicas com as de áreas nuas de terra socada. Assim, notaram que as partes de “pele viva” eram menos porosas e mais resistentes.

“Em comparação com a taipa nua, as seções cobertas por biocrusta exibiram porosidade, capacidade de retenção de água, erodibilidade e salinidade reduzidas em 2 a 48%, enquanto aumentavam a resistência à compressão, a resistência à penetração, a resistência ao cisalhamento e a estabilidade do agregado em 37 a 321%”, disseram os pesquisadores.

Musgo e outros organismos prosperam em seções da Grande Muralha da China feitas de solo compactado — Foto: Bo Xiao
Musgo e outros organismos prosperam em seções da Grande Muralha da China feitas de solo compactado — Foto: Bo Xiao

Os cientistas estimaram que a biocrosta cobre 67% das seções estudadas. A “pele viva” é composta por cianobactérias (microorganismos capazes de fotossíntese), musgos e líquens que ajudam a reforçar a construção, especialmente em partes áridas e semiáridas da China.”Os construtores antigos sabiam quais materiais poderiam tornar a estrutura mais estável”, disse Xiao, em um e-mail ao site Live Science.

Para melhorar a resistência mecânica, o pesquisador conta que os construtores da muralha usaram terra socada construída com argila, areia e outros materiais como cal — ingredientes que proporcionaram um solo fértil para os organismos que constituem as biocrostas.

As amostras da “pele viva” analisadas datavam entre 1368 a.C. e 1644 a.C., durante a Dinastia Ming. As coletas eram três vezes mais fortes do que as amostras de terra socada simples. Aquelas contendo musgo eram particularmente robustas, segundo o estudo.

Isso ocorre porque as cianobactérias e outras formas de vida dentro da biocrosta secretavam substâncias, como polímeros, que se “uniam firmemente” às partículas de terra socada. Essa união ajuda a “reforçar a estabilidade estrutural”,criando um cimento, segundo explicou Xiao.

“Essas substâncias cimentícias, filamentos biológicos e agregados de solo dentro da camada de biocrusta finalmente formam uma rede coesa com forte resistência mecânica e estabilidade contra erosão externa”, disse o cientista.